de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 26 Agosto , 2009, 12:39


NA VARANDA DAS MEMÓRIAS

O teu rosto na varanda das memórias
é feito de sol.
Sento-me no banco velho do jardim,
e há palavras novas que se vêm
sentar no meu regaço.

Um pássaro cansado de céu
pousa no muro do outono,
e os meus olhos voam até ao sul,
agitados e brilhantes, no sol
do teu sorriso.

Era o tempo das cerejas,
e a idade dos rios correndo
na euforia das tardes,
até ao mar das palavras quentes.

Elas diziam tanto…
nada dizendo, afinal.


Mas isso que era nada e era tudo
bastava para o pôr-do-sol ser
o horizonte dos teus olhos nos meus.
E as cerejas eram sempre rubras,
tão doces, tão maduras na idade.

A cerejeira já não existe,
mas eu permaneço na varanda.

Sentada no sossego das lembranças,
afago o sol no meu regaço,
o sorriso do teu rosto.

Turíbia

Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 21 Agosto , 2009, 14:01









CASA DAS MEMÓRIAS

Sobre o meu corpo, o teu sorriso,
como fonte, como rio, como mar.

Nenhuma palavra diria a corrente,
verso algum cantaria a magia,
sôfrega sede no incêndio a crepitar.

Sobre a minha boca, o teu sorriso,
como música, sino em dia de Jesus Menino,
como cotovia a cantar.

Nenhum gesto dirá a saudade,
poema algum nos levará aos ramos do amor.

Era outono nas noites frias ao luar.
Era verão nos gestos quentes da idade.

O tempo permanece intacto como flor,
artíficio humano em jarra encarnada.
E eu permaneço na casa das memórias,
exígua e rasa.


Turíbia

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