“O prazer do coleccionador está
em pegar em algo inútil e torná-lo útil”
Essa paixão começou com um rádio TELEFUNKEN, avariado, que o sogro lhe ofereceu. Entusiasmou-se com a ideia de o pôr a funcionar, com a ajuda de um amigo, e tanto bastou para nunca mais parar. Depois desse outros vieram, também avariados, após visitas a Feiras de Velharias em Aveiro. “O gosto começou com a recuperação dos rádios”, adiantou o nosso entrevistado. E logo acrescentou que “o prazer do coleccionador está em pegar em algo inútil e torná-lo útil”.
Pelo interior de um rádio é possível saber a sua proveniência
Coleccionador atento e estudioso, apoia os seus conhecimentos em literatura que vai comprando e em consultas que faz, no sentido de obter a mais fidedigna informação. A sua colecção não é um armazém de rádios, pois cumpre as mais elementares regras do coleccionismo. Os rádios estão catalogados, com registos técnicos e históricos fundamentais, condições em que os adquiriu e onde. Por isso, visitar a colecção de rádios do professor António Rodrigues é ouvir uma belíssima lição de história, impossível de reproduzir no pouco espaço de que dispomos no jornal.
De relance, pudemos testemunhar a existência de rádios das mais diversas partes do mundo, nomeadamente, da Holanda, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, América, Portugal, Checoslováquia, Áustria e Suíça, ente outros países. E durante a conversa ficámos a saber que o nosso entrevistado consegue identificar a proveniência geográfica e a marca de cada rádio, pois todos denunciam características próprias.
Como raridade, na sua óptica, mostra-nos um aparelho conhecido por EMISSORA NACIONAL, português, também chamado SALAZAR, de 1935. A ele está ligada a Emissora Nacional, ao tempo dirigida pelo Capitão Henrique Galvão, e destinava-se a funcionários públicos. Cada rádio custava 200$00 e podia ser pago em prestações. Mas o mais valioso é um FADA 1000, americano, 1946, custando hoje uns mil euros. É dos primeiros rádios assimétricos e o plástico exterior, “Catalim”, muda de cor conforme a luz ambiente.
O gosto pelo coleccionismo está bem patente quando fala dos seus rádios
Sobre o aproveitamento político deste meio de comunicação social, António Rodrigues exibiu um rádio alemão, o VOLKSEMPFANGER, o rádio do povo. Foi uma criação destinada a difundir a propaganda nazi. Fabricaram-se dezenas de milhões de aparelhos e eram vendidos a preços baratos, para chegarem a todas as famílias. De cor preta, com a águia imperial bem à vista, funcionava apenas em onda média, de curta captação, para impedir a audição de programas radiofónicos estrangeiros. No quadrante estavam indicadas as cidades alemãs que tinham retransmissores.
O professor da Secundária da Gafanha da Nazaré falou-nos, durante a visita que fizemos à sua colecção, da evolução dos rádios, desde os anos 20 do século passado até aos nossos dias. Os primeiros eram produzidos artesanalmente por técnicos, a pedido dos interessados. A caixa era de metal e nos anos 30 começou a usar-se a madeira. Mais tarde veio a baquelite, que, pelo facto de permitir o fabrico de caixas em série, a partir de moldes, fazia reduzir o preço dos aparelhos.
No seu “site” – http://www.cfeci.pt/sites/radiosantigosnoar –, os nossos leitores podem ficar a saber muito mais.