
por António Marcelino
Por António Marcelino
Para os cristãos que ainda não adormeceram e têm a alegria de o serem, o tempo da Quaresma convida a mudar para melhor a vida de todos os dias, sempre conscientes do muito que são como filhos de Deus, e do pouco que são, porque vasos de barro, vindos do pó da terra e destinados a ele regressar.
Este propósito, marcado por um apelo interior insistente, em ordem a um esforço pessoal para a mudança necessária na vida concreta e na história pessoal de cada um, é objectivo, não utópico, porque há sempre montes a nivelar, vales a preencher, virtudes a desenvolver e defeitos a corrigir. É apelo a todos os insatisfeitos, cristãos ou não, que permanecem vivos, a que cultivem a verdade, andem com os pés no chão e não deixem que o tempo os confine à pequenez de uma vida ilusória.
Trata-se do convite a um acordar sincero para a verdade pessoal. Podemos chamar-lhe “exame de consciência” que ajude a olhar por dentro a vida com todo o realismo. Um homem de grande dimensão espiritual, Dalai Lama, traduz este convite fazendo uma atenção à vida que se vive no dia-a-dia. Fê-lo com o realismo que lhe permite o conhecimento das pessoas, da sua vida e seu modo de a viver. Respondeu assim à pergunta “o que mais o surpreende na Humanidade?”: “O que mais me surpreende são as pessoas, porque perdem a saúde para juntar dinheiro e, depois, perdem o dinheiro para recuperar a saúde… Porque pensam ansiosamente no futuro e esquecem o presente, de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro… Porque vivem como se não tivessem de morrer e morrem como se nunca tivessem vivido”.