Quando cheguei a casa veio-me à memória o tempo da escola. E dele recordei a alegria natural e permanente, bem como a facilidade com que fazia amizades com todos os colegas. Ainda recordei a sua caligrafia, com a inclinação para trás, ao contrário do que era habitual.
Depois, a minha memória continuou até que cheguei à admiração que D. Manuel de Almeida Trindade, que foi Bispo de Aveiro, tinha pelo padre Jeremias e pela sua cultura espiritual, como um dia me disse. E fui à cata de algum escrito de D. Manuel, onde essa admiração estivesse patente. Localizei, então, no livro do nosso antigo bispo - Apontamentos de Retiros - um retiro orientado pelo padre Jeremias, em Fátima, entre 13 e 17 de Junho de 1983.
Só algumas passagens:
Conferência da manhã:
“Uma conferência doutrinalmente profunda. O Padre Jeremias começou por evocar o centenário da morte de Santa Teresa de Ávila e o papel que ela desempenhou no século em que viveu. O seu papel foi servir de ponte: ensinou os teólogos (teólogos da escolástica decadente) a rezarem e a serem ‘espirituais’: e ensinou os espirituais a recorrerem à teologia (e aos teólogos) para que a sua espiritualidade tivesse fundamentos sólidos e não fosse devocionismo epidérmico.”
Mais adiante, diz: “Belas palavras as do Padre Jeremias acerca da esperança a partir do pensamento de S. João da Cruz.”
Outra Conferência da manhã:
“Bela conferência do Padre Jeremias sobre a maneira como o homem provocou a ausência de Deus e como Deus procura afirmar a sua presença de amor, chegando a sentar-se no banco dos réus, no lugar do homem… Esta ‘ausência’ de Deus é sentida pelos místicos da maneira mais viva. S. João da Cruz fala nas ‘noites escuras em que Deus parece que se esconde – os terríveis silêncios de Deus!”
Fico-me por aqui para não cansar os meus leitores. Apenas quis recordar o meu amigo padre Jeremias, sublinhando, levemente, a sua espiritualidade e a admiração que D. Manuel de Almeida Trindade tinha por ele.
Fernando Martins