Gente maculada e amachucada para toda a vida
António Marcelino
Dizia-me uma vez um Ministro da Justiça a quem eu perguntava como agir em situações de manifesta injustiça para os que cumpriam os seus deveres cívicos, que teria eu de me habituar a ver que “a honestidade paga imposto” e que “os beneficiados pelo fisco são sempre os que o aldrabam”. Veio-me à mente esta conversa ao tomar consciência da desonestidade corrente, nomeadamente em certa comunicação social, para perceber porque cresce o número dos desonestos. À sombra de que não se é obrigado a denunciar as fontes de informação, informa-se sem fontes ou sem se averiguar da seriedade das mesmas. Uma vergonha o que se está passando entre nós.
Há gente maculada e amachucada para toda a vida pela irresponsabilidade informativa. E desculpas não curam chagas.
Devemos à comunicação social a descoberta de muitas vergonhas que era preciso denunciar. Mas esta verificação não desculpa quem acha que vale tudo, mormente se está em mente vender papel ou conquistar publicidade em virtude das audiências.
A comunicação social é uma arma perigosa. Não pode andar por mãos irresponsáveis.
Na política, na religião, no futebol, os casos aumentam. Uma desconfiança ainda não provada logo gera um arguido, um culpado, um criminoso a abater.
Será que os fazedores de leis ainda não se aperceberem disto? Ou será que o clima de anarquia ética traz vantagens a alguém?