Jornalistas eruditos e elitores ignorantes
Por António Marcelino
Era interessante que os jornais diários fizessem uma sondagem aos seus leitores habituais com esta pergunta somente: “O que significa para si a palavra «bullying»? “Não sabe? Mas então que leitor é você, se essa palavra andou há poucos dias nas primeiras páginas dos jornais?”
E o pobre do leitor néscio lá fica a resmungar e a mastigar a sua ignorância…
A minha mãe, mulher da aldeia e nascida nos primeiros dias do século XX, lia de fio a pavio o que eu escrevia no jornal. Um dia advertiu-me que eu não me podia esquecer que escrevia para as pessoas perceberem. E lá me perguntava o significado de uma palavra que guardava na memória à espera de um encontro esclarecedor.
Ora o que custará aos nossos jornalistas de nome escreverem, logo em título para que todos entendam, que há alunos nas nossas escolas espancados por colegas mais velhos, que acabam por ganhar medo de sair de casa e ir às aulas, fogem ao relacionamento com os outros, e até chegam a obsessões que os podem levar ao suicídio? Mas é mais erudito dizer que há muitos alunos vítimas de “bullying”. Isso aconteceu agora em Mirandela, com uma criança de 12 anos que se suicidou, lançando-se ao rio Tua…
Eu compreendo que jornais e revistas de especialidade usem termos técnicos. Não entendo, porém, o prurido de jornalistas de diários e semanários generalistas que põem a sua prosápia erudita acima do interesse do leitor corrente, que ainda não é do tempo do Magalhães.
A verdadeira erudição não está em mostrar erudição balofa, mas em ser capaz de se fazer entender pelas pessoas mais simples, com aquilo que se escreve ou se lhes diz.
Será que esta regra não se aprende nas escolas superiores de comunicação?