de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sábado, 24 Abril , 2010, 17:07

Um novo Concílio Ecuménico e imensas reformas pede o teólogo Hans Kung ao Papa, de quem foi colega, na mesma universidade. São conhecidas, há muito, as divergências entre ambos, a propósito dos ingentes problemas que a Igreja Católica tem de enfrentar. Mas, apesar disso, é justo sublinhar que os dois amam séria e convictamente a Igreja a que pertencem. Os dois também foram colegas, como teólogos, no Concílio Vaticano II.

Ao publicar esta Carta Aberta aos Bispos, move-me o desejo de que esta ousadia ou coragem, conforme a visão de uns e de outros, os que concordam ou discordam das propostas avançadas, sirva para nos levar a  reflectir sobre a Igreja que somos ou gostaríamos de ser, excluindo, de imediato, a indiferença ou passividade face à Igreja em que estamos. Como seres pensantes, o que nos diferencia dos mortos-vivos, temos a obrigação de contribuir para uma comunidade cristã, base de um mundo melhor, mais fraterna,  como membros responsáveis, conscientes e  dinâmicos, e não como agentes cegos e passivos, em relação às verdades que nos enformam. 

 

 

FM

 

 

 

 

Hans Kung

 

 

 

Veneráveis bispos



Joseph Ratzinger, agora Papa Bento XVI, e eu éramos os mais jovens teólogos no Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965. Agora somos os mais velhos, e os únicos que continuam em plena actividade. Sempre entendi o meu trabalho teológico como sendo um serviço à Igreja Católica Romana. Por esta razão, por ocasião do quinto aniversário da eleição do Papa Bento XVI, faço-lhe este apelo em forma de carta aberta. Faço-o motivado pela minha profunda preocupação acerca da nossa Igreja, que se encontra na pior crise de credibilidade desde a Reforma. Desculpe-me ser na forma de carta aberta; infelizmente, não tenho outra forma de o contactar.



Apreciei imenso que o Papa me tenha convidado, a mim que sou abertamente seu crítico, para nos encontrarmos para uma amigável conversa de quatro horas, pouco após ter ascendido ao seu cargo. Este convite acordou em mim a esperança de que o meu antigo colega da Universidade de Tubingen poderia encontrar o seu caminho e promover uma contínua renovação da Igreja e uma aproximação ecuménica dentro do espírito do Concílio Vaticano II.



Infelizmente, as minhas esperanças, e as de tantos homens e mulheres católicos empenhados, não foram cumpridas. E na minha subsequente correspondência com o Papa apontei-lhe muitas vezes este facto. Não há dúvida de que ele desempenha conscienciosamente os seus deveres diários de Papa, e deu-nos três úteis encíclicas sobre fé, esperança e caridade. Mas quando se trata de enfrentar os grandes desafios do nosso tempo, o seu pontificado desperdiçou mais oportunidades do que as aproveitou:



- Perdeu a oportunidade de aproximação às Igrejas protestantes. Em vez disso, tem-lhes sido negado o estatuto de Igrejas no verdadeiro sentido da palavra e, por essa razão, os seus ministros não são reconhecidos e a intercomunhão não é possível.



- Perdeu a oportunidade de uma reconciliação duradoura com os judeus. Em vez disso, o Papa reintroduziu na liturgia uma oração pré-conciliar pela iluminação dos judeus, recebeu de novo em comunhão com a Igreja bispos notoriamente anti-semitas e cismáticos, e está activamente a promover a beatificação do Papa Pio XII, que tem sido acusado de não ter oferecido suficiente protecção aos judeus na Alemanha nazi.



A verdade é que Bento vê no judaísmo apenas a raiz histórica do cristianismo; não a toma a sério como uma comunidade religiosa que continua a oferecer o seu próprio caminho em direcção à salvação. A recente comparação entre as actuais críticas que o Papa enfrenta e as campanhas de ódio anti-semita - feita pelo reverendo Raniero Cantalamessa durante uma cerimónia religiosa oficial na sexta-feira de Páscoa no Vaticano - desencadeou uma tempestade de indignação no seio de judeus um pouco por todo o mundo.



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Editado por Fernando Martins | Domingo, 28 Março , 2010, 16:31

Resposta à sucessão de escândalos em vários países pode representar uma oportunidade de mudança

 

António Marujo

 

 

A Igreja Católica atravessa a mais profunda crise do último século, com as acusações de abusos sexuais de menores por membros do clero. Para encontrar algo semelhante, devemos recuar até início do séc. XX, com o antimodernismo do Papa Pio X. Mas esta crise atinge um catolicismo universal, e há um século era uma realidade pouco mais do que europeia. Será Bento XVI, um Papa académico, capaz de afrontar um dos mais graves problemas pastorais da Igreja? Ratzinger é um teólogo notável no diálogo cultural, mesmo com filósofos não-crentes como Habermas ou Paolo Flores d"Arcais. Eleito para um pontificado de transição, cuja marca seria afirmar o facto cristão no diálogo multicultural contemporâneo, tem o desafio de "limpar a Igreja" da sua sujidade, como afirmou na Sexta-Feira Santa de 2005.

 

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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 29 Janeiro , 2010, 11:44
S. Tomás de Aquino

Bento XVI pede às Academias Pontifícias
que ajudem a Igreja
a dialogar com a cultura contemporânea

(...)
«No encontro, que ocorreu no dia em que se evoca a memória de S. Tomás de Aquino, o Papa assinalou que o frade dominicano representa um modelo inspirador para a acção e para o diálogo com as culturas.
Bento XVI recordou o labor de S. Tomás no diálogo com o pensamento árabe e judaico, bem como na conservação da tradição filosófica grega, “produzindo uma extraordinária síntese teológica, harmonizando plenamente a razão e a fé”.
O Papa instou as Academias a converterem-se “mais do que nunca em instituições vivas e vitais”, que respondam às exigências da sociedade e da cultura e às necessidades da Igreja, a fim de promover “um autêntico humanismo cristão”.»

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Editado por Fernando Martins | Sábado, 26 Dezembro , 2009, 22:38
A igreja portuguesa mais antiga nos Estados Unidos, que fica em New Bedford, no estado do Massachusetts, corre o risco de fechar em 2011, se até lá as suas missas não tiverem maior afluência e não for angariado o dinheiro suficiente para reparar o telhado roto.
Foi a primeira igreja construída para os portugueses que emigraram para os EUA no século XIX. Leia aqui.


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Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 22 Dezembro , 2009, 00:27
Participantes lamentaram que a Igreja
se veja privada de «quadros altamente qualificados»





Bispo de Viseu recebeu padres
que pediram dispensa

O bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, teve um encontro com os sacerdotes que pediram dispensa do exercício de ordens sacras. Desde que assumiu a diocese (23 de Julho de 2006), o prelado desta diocese desejava realizar este encontro porque “eles tiveram, – tal como eu – em determinado momento o desejo de servir a igreja com alegria e dedicação”. Com o andar do “tempo sentiram – por muitas razões – que não era este o seu caminho” – disse à ECCLESIA o bispo de Viseu.
A resposta á questão «como se sentem?» era um dos anseios de D. Ilídio Leandro. Neste Ano Sacerdotal “não podia deixar de estar com eles”. E adianta: “Alguns vão à Sé no dia em que foram ordenados” para celebrar aquela data.
Esta iniciativa promovida pelo bispo de Viseu reuniu 17 «dispensados» dos 29 existentes na diocese. “Cinco responderam que não podiam vir - alguns estão no estrangeiro –, mas apoiavam e sentiam-se felizes pelo convite – sublinhou.

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Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 21 Dezembro , 2009, 22:09
Confrontos não resolvidos
podem levar à violência


Bento XVI lembrou esta Segunda-feira as viagens que realizou ao longo de 2009, destacando em particular as viagens a África e à Terra Santa e a realização do Sínodo dos Bispos, com um apelo à “reconciliação” entre os povos.

“Um olhar sobre os sofrimentos e penas da história recente de África, mas também de muitas outras partes do planeta, mostra que confrontos não resolvidos e profundamente radicados podem levar, em certas situações, a explosões de violência”, alertou.
Dois dias depois de ter declarado Pio XII como venerável, o Papa recordou também a sua passagem pelo Yad Vashem, o museu do Holocausto, em Israel, que classificou como “um encontro com a crueldade da culpa humana, com o ódio de uma ideologia cega que, sem qualquer justificação, destinou à morte milhões de pessoas”.
“Este é, em primeiro lugar, um monumento comemorativo contra o ódio, um apelo à purificação e ao perdão, ao amor”, acrescentou.
No encontro de Natal com os membros da Cúria Romana, o Papa passou em revista alguns “pontos-chave” do ano da Igreja, que ficou marcado pela preocupação com o continente africano.
Lembrando a viagem que realizou em Março deste ano aos Camarões e Angola, Bento XVI falou na “alegria festiva e o afecto cordial” com que foi recebido e a maneira como decorreram as celebrações litúrgicas. A viagem abria caminho para a realização da assembleia especial do Sínodo dos Bispos para África, considerando o Papa que nos dois momentos “a renovação litúrgica do Vaticano II ganhou forma, de modo exemplar”.

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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 12 Novembro , 2009, 12:00



IGREJA,
uma preocupação ou um gesto de esperança?



É hoje frequente depararmos, em jornais e revistas, e até em grupos ou encontros mais alargados, com reflexões sobre o presente e o futuro da Igreja, normalmente a partir de pessoas que conhecem a sua missão e se interrogam sobre a sua forma de estar e de agir numa sociedade que parece ter perdido o norte.
De algum modo, não se trata tanto de reflectir sobre a natureza da Igreja, bem explicitada no Vaticano II, mas antes do diálogo indispensável que ela deve ter com o mundo actual, espaço do Reino, e dada a missão humanizadora da mensagem cristã.
A Igreja está consciente da secularização da sociedade, para ela um desafio e uma oportunidade, dado que se trata de uma aquisição legítima, a da conquista da autonomia das realidades profanas, em relação à premência histórica do poder religioso.
É verdade que ainda há gente no seio da comunidade cristã, que continua a olhar o mundo de soslaio, saudosa dos anátemas de tempos idos, sobretudo quando se vê perante o negativismo de certas medidas sociais e o alastrar de um laicismo corrosivo e destruidor. Porém, o caminho não será mais o das condenações, mas sim o diálogo construtivo, que pode passar, se for caso, por formas de denúncias fundamentadas.
A Igreja não é nem pode ser estranha a medidas políticas e económicas que não respeitam a pessoa humana e a sua dignidade natural e passam ao lado das exigências éticas e morais. Aqui se põe à Igreja o problema de como andar, ao mesmo tempo, o caminho do anúncio e da proposta, do diálogo e da denúncia, da defesa e da interpelação, do respeito e da frontalidade. Certamente que não é o de se intimidar ou de se refugiar no templo. Mas, também não é, por certo, o da arrogância histórica ou da pretensão de usufruir só ela a posse total da razão e do saber.
O Povo de Deus não é a hierarquia. Mas sem a hierarquia, poder sagrado traduzido em serviço humilde e disponível a todos os membros do Povo de Deus, também não haverá Igreja que se possa reclamar de mãe e mestra, de serva e pobre, de fermento social, vivo e activo. A Igreja tem assim de se esforçar por não ser, dentro de si mesma e com os de fora, que hoje são muitos, um espaço de concorrência, de lutas e incompatibilidades, quaisquer que sejam as razões. Antes, se deve assumir-se aquilo que é, ou seja, um “oásis de liberdade”, aquela liberdade com a qual todo o homem foi liberto por Cristo.
Radica aqui a exigência do respeito mútuo, do reconhecimento e promoção dos dons de cada um, da libertação de preconceitos, da abertura às iniciativas que não partiram dela, mas são a favor da verdade e da justiça, da capacidade de colaborar com os que outrora foram vistos com indiferença, ou mesmo tidos por inimigos.
Um coração lavado como o de João XXIII, um humanismo evangélico sadio como de Paulo VI, um sorriso rápido, mas significativo e marcante, como o de João Paulo I, um zelo corajoso e sem fronteiras como o de João Paulo II, uma clarividência espantosa ante a história e o mundo da cultura como a de Bento XVI, são caminho aberto à Igreja, com presente e com futuro.
A renovação da Igreja, como instituição religiosa e a dos seus membros, não tem sido global e harmónica. Há sempre um peso que a liga ao passado e uma diversidade de oportunidades que não favorecem uma renovação imediata, nem uma conversão fácil da mentalidade, individual e colectiva. Torna-se necessário saber o que se é e se quer e orientar a caminhada, ainda que a passo e passo, sempre e em tudo nesse sentido.
As críticas à Igreja, por parte da sociedade, denunciam o valor que se lhe reconhece e o que dela se espera. A Igreja tem de saber conviver, positivamente, com as preocupações e com os gestos de esperança. Fazem parte da sua vida e da sua missão no mundo, o espaço necessário para que ela exprime a sua vida e deixe o rasto de Cristo na história.

António Marcelino


Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 27 Outubro , 2009, 20:25



"À margem de toda a espuma mediática destes dias, no nosso país, encerrou-se no Vaticano o II Sínodo dos Bispos para a África, do qual saiu claramente a ideia de que este continente tem uma voz própria e muito a dizer sobre as opções que definirão o seu futuro imediato.

O trabalho quase inquantificável de milhões de católicos em território africano só é notícia, praticamente, quando há temas polémicos pelo meio. Ao renovar a sua esperança no que a África é capaz de fazer e procurar distanciar-se das imposições ideológicas do Ocidente, os Bispos mostraram que é possível viver sem a meta da exposição internacional ou do aplauso da opinião dominante."

Octávio Carmo

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Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 21 Outubro , 2009, 21:45





Sempre que se calam os profetas,
proliferam os falsos profetas

Profetas não têm faltado na Igreja, e a incompreensão, em relação a eles, também não. Se na Igreja de Cristo há o fermento novo do apelo à conversão e à mudança interior, também resta nela o fermento velho que a impede de ser serva, neste tempo em que a luz de Cristo é ainda, para muita gente, o único pão da esperança.

O Cardeal Martini, profeta a que não falta lucidez, coragem, sabedoria, amor à Igreja e aos homens e mulheres deste tempo, é, como bispo, um cristão humilde e consciente, que exerce o seu dever de promover a comunhão eclesial, com o profetismo do realismo e da esperança. Sempre houve gente de lugares cimeiros, não Bento XVI nem os seus predecessores, que o temeram, desconfiaram dele e puseram reservas públicas às suas intervenções, lúcidas, pertinentes e corajosas. Gente que, por certo, se sentiu aliviada, a quando da sua passagem a emérito. Porém, a doença progressiva não lhe apagou o dom que nele Deus outorgou à Igreja e à sociedade, nem as suas limitações de saúde, lhe limitaram o direito e o dever de discernir, criteriosamente, os sinais dos tempos e, em comunhão, ser profeta, numa Igreja em que todos se deviam sentir estimulados a exercer o profetismo que lhes é próprio, e de que muito necessita a Igreja e o mundo.

Não falo do Cardeal Martini, por uma simpatia de última hora. Conheci-o de modo directo e de vivência, não meramente ocasional, ao longo de três sínodos, de vários simpósios, de encontros frequentes, por essa Europa fora, e pela leitura e reflexão atentas a que nos habituou nas suas intervenções orais e escritas.

A Martini podemos juntar Hélder Câmara, que legou à Igreja um riquíssimo património profético, avalizado por um compromisso eloquente, ainda não entendidos.

O momento histórico que a Igreja vive, obriga a caminhos novos aos já acordados para as urgências da fé esclarecida e do testemunho coerente, que não podem enredar-se em tradições e costumes que, não raro, sossegam o espírito e anestesiam a vontade.

Sempre que se calam os profetas, proliferam os falsos profetas. A sementeira das seitas, os movimentos pseudo-religiosos que fazem da ignorância e da dor de muitos uma fonte de réditos, a onda de indiferença que atinge jovens e adultos, o descrédito programado que caiu sobre o casamento e a família, a carga pesada de tantas vidas que procuram, por vezes em vão, cireneus generosos e compreensivos, as incursões diárias nos meios de comunicação social para desvirtuarem a verdade cristã e que pugnam para impor sentimentos e opiniões falaciosas, a diminuição de vocações de consagração, tudo grita por um apelo a profetas corajosos e atentos e por um retorno urgente ao essencial.

Mais parece, em muitas circunstâncias, que a Igreja de alguns roda à volta de si própria, gasta, com os seus problemas internos, as melhores energias e, em detrimento do Reino, mais dá atenção aos “acréscimos”, que não resistem ao tempo.

Construir o Reino de Deus, fermento novo na humanidade, é o grande e apaixonante projecto de Jesus Cristo. Foi esse projecto que legou à Igreja e lhe pediu lhe fosse fiel.

Os interpelados por acontecimentos da vida que afectam o agir da Igreja, juram fidelidade ao Vaticano II. Já lá vão mais de quarenta anos, tempo suficiente para amadurecer orientações e lhes dar vida. Porém, não podemos esquecer que são já muitos os padres, leigos e consagrados que do Vaticano II apenas ouviram falar e os seus documentos são um livro volumoso, ao lado de outros, que o pó vai cobrindo.

Sente-se, aqui e ali, ao arrepio do Concílio, um agir pastoral e uma vida comunitária, que pouco tem a ver com as intuições e orientações conciliares. Recebemos um património conciliar que nos honra e responsabiliza. Ele está vivo, mas só se for posto em prática.

António Marcelino

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 15 Outubro , 2009, 11:12

Concílio para limpar
o rosto da Igreja


Os meios de comunicação social falaram largamente da intervenção do Cardeal José Policarpo, no Simpósio do Clero. Alguns viram nas palavras proferidas uma clara advertência a bispos e padres quando, na Igreja, expendem opiniões que põem ou podem bulir com a unidade, a comunhão e a aceitação do magistério do Papa.

Não está em causa que a unidade da fé, a comunhão na caridade e a adesão fraterna ao Sucessor de Pedro são elementos fundamentais para a vida da Igreja de Cristo. Também não está em causa que defendê-las e estimulá-las é missão diária do bispo e, logicamente, dos seus mais imediatos colaboradores, os presbíteros. No entanto, é necessário que, ao mesmo tempo, se tenha presente que, na Igreja, não há só verdades intocáveis, mas há, também, um espaço de liberdade de opinião, aceite e recomendado, para saber interpretar e estimular a vivência, à luz da realidade, pessoal e social, das verdades de sempre. A leitura dos sinais dos tempos, recomendada pelo Vaticano II, não é privilégio, direito ou dever da hierarquia, mesmo entendendo esta, como deve ser, um serviço permanente, em nome de Deus, à Igreja e ao mundo das pessoas.

Na Igreja, sem que se tenham apagado ou esquecido as verdades essenciais, foram-se multiplicando, ao longo da história, costumes e hábitos, que geraram normas e orientações, encostados à doutrina. Em muitos casos não eram mais que fruta de uma pobreza espiritual em que o essencial da fé andava arredado das preocupações de muita gente. Muitos responsáveis da Igreja deixaram-se invadir pela tentação de esta ser uma sociedade vazada à maneira de senhores, fidalgos e poderosos, e modelada por critérios meramente temporais e profanos. Assim se foram introduzindo situações espúrias, marcadas pelos ventos do tempo, que recolhiam o proveito de quem na Igreja, as desejava, admitia e por elas lutava. Criou-se, então, uma sociedade semelhante àquela que Jesus Cristo, por via de uma revolução activa, mas pacífica, denunciou e alterou, por ser contrária aos seus valores. Foi neste contexto que pregou o Reino de Deus, chamou e formou os que livremente aceitaram segui-lo e se tornaram Seus discípulos. O Seu projecto não podia ser alterado e deviam estar atentos a quanto o podia desvirtuar. Um trabalho que se foi fazendo ao longo do tempo, por cristãos fieis e corajosos, profetas e santos, sempre com não poucas dificuldades.

Porém, os séculos que identificaram a Igreja com o mundo, no propósito de que todo o mundo fosse Igreja, levaram esta a obedecer a critérios e a seguir caminhos que não eram os seus, carregando-a de excrescências inúteis onde não cabiam os valores evangélicos. Muitas delas ainda aí estão, visíveis e luzidias, a ilustrar tempos que passaram e não são de recordar, mas que parecem agradar a quem prefere mais os ornatos e as aparências passageiras, que a verdade permanente e consistente.

O Espírito que dá a vida e renova todas as coisas, foi dando luz e fortaleza a membros da Igreja - bispos, padres, religiosos e leigos - para denunciarem caminhos de uma uniformidade que não nascia da fé e limparem inutilidades, que pesavam sobre os cristãos e suas comunidades, e denunciavam, à maneira profana, uma grandeza que não vem da fidelidade a Deus, nem ao Evangelho. Os profetas escolhidos foram fieis à sua fé, mas desprezados e perseguidos por gente que defendia interesses instalados. Francisco de Assis encarnou a denúncia de um Evangelho que não era o de Cristo. Chamaram-lhe louco. Rosmini ousou, corajosamente, apontar as “chagas” da Igreja. Foi condenado e só muito mas mais tarde recuperado como profeta. A lista podia continuar.

João XXIII surgiu inesperado. Convocou um Concílio, dizia ele, para limpar o rosto da Igreja, em muitos aspectos confuso e conspurcado. Também para ele e para aqueles que apoiaram a sua intuição, como sinal do Espírito, a vida não foi fácil.

António Marcelino


Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 13 Outubro , 2009, 18:47



1. Decorre em Roma o II Sínodo para África. Este encontro com o Papa procura repensar a comunidade africana na sua renovação contínua e na relação com a comunidade universal. De 4 a 25 de Outubro a organização local africana encontra-se com a organização universal em reflexão sobre os caminhos andados e os percursos a trilhar. Na mensagem de abertura Bento XVI confirma o reconhecimento da grandeza e originalidade do continente africano, exaltando o seu «imenso pulmão espiritual para toda a humanidade». Simultaneamente, o Papa alerta para os perigos das “patologias” do materialismo e do fundamentalismo religioso. Num continente pródigo de beleza natural mas ao longo dos séculos muito sofrido na exploração pelo ocidente apressado e interesseiro (é um facto histórico), é hora de nova consciência autonómica sobre o continente africano.

2. A referência ao «colonialismo espiritual» apresentar-se-á como um dado preocupante, numa transferência do plano político ao espiritual; diz Bento XVI que «neste sentido, o colonialismo, terminado no plano político, nunca se concluiu completamente.» Não é fácil, com toda a carga história secular, abordar o assunto do colonialismo espiritual. À liberdade de propor deve presidir a liberdade de aceitar e a face humana de instituições como a Igreja mostra factualmente também elos menos positivos; quantos caminhos desandados nas questões delicadas da imposição da fé?! Continua a ser de grandeza eminente aquele persistente e lúcido «pedido de perdão» do peregrino da paz, o Papa João Paulo II. A “purificação da memória” em terrenos tão delicados como o da inculturação da fé transborda para todos os quadrantes numa responsabilidade de nunca impor mas de propor.

3. Na verdade de que nunca se pode ajuizar com os olhos de hoje os séculos passados (seriam juízos anacrónicos, fora do tempo), o certo é que só na chave de leitura de um pluralismo ecuménico é que se poderá ver a luz ao fundo do túnel. Não é missão fácil; mas possível no enobrecer do essencial.



Editado por Fernando Martins | Domingo, 11 Outubro , 2009, 18:21

D. António Francisco:

Riquezas mal distribuídas atrofiam a liberdade e impedem a generosidade




“O olhar triste de tanta gente que connosco cruza nos caminhos da vida deve-se tantas vezes ao excesso de riquezas mal distribuídas que atrofiam a liberdade e impedem a generosidade.” Este foi, no momento que atravessamos, um alerta oportuno do Bispo de Aveiro e membro da Comissão Episcopal da Educação Cristã, D. António Francisco dos Santos, proferido na homilia da eucaristia conclusiva da semana nacional dedicada a este tema, celebrada na igreja matriz da Gafanha da Nazaré e transmitida pela Rádio Renascença, hoje, pelas 11 horas.

Depois de sublinhar a importância que a Igreja Católica dá à família, à escola e à comunidade, “como elos essenciais da sociedade e servidores da educação das crianças, dos jovens e dos adultos”, D. António afirmou que a “vida das nossas terras tem mais sentido e maior encanto com a presença e com o trabalho das escolas ao longo do ano lectivo e com a acção pastoral das comunidades”.

Lembrou “quanto recebemos da família, da escola e da comunidade onde nascemos, crescemos e vivemos”, sendo certo que elas ”modelam o nosso ser e o nosso agir”, preparando-nos para o futuro “como pessoas, como cidadãos e como crentes”.

O Bispo de Aveiro, ao dirigir-se aos sacerdotes, recomendou que todos devem dar especial atenção à catequese em todas as idades, fazendo dela “uma actividade prioritária, suscitando e alimentando nas comunidades uma verdadeira paixão” pela transmissão da fé, nos diversos espaços catequéticos.

D. António Francisco considerou particularmente importante no ministério dos sacerdotes e na acção da Igreja “uma articulação e relação entre a comunidade, a escola e a família”. E acrescentou: “Este diálogo deve implicar um trabalho conjunto entre párocos, famílias, catequistas, professores de Educação Moral e Religiosa Católica e outros agentes educativos, a fim de se apoiarem na sua missão, de lhes proporcionarem um enquadramento comunitário e de procurarem uma maior harmonia entre as acções pastorais, desenvolvidas nas famílias, nas escolas e nas paróquias.”

O prelado aveirense ainda manifestou a esperança de que neste trabalho e nesta missão haja “abertura e co-responsabilidade em todos os que hoje vão ser eleitos para o serviço das autarquias locais”. E frisou que a educação, estando cada vez mais vinculada às autarquias locais “como serviço de proximidade”, deve merecer, a quantos exercem este serviço, “uma progressiva atenção na certeza de que da qualidade do serviço educativo depende o bem das crianças e dos jovens e a construção do bem comum”.

Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 02 Outubro , 2009, 11:06


Testemunhas
de um Evangelho
 de amor


"Diante de vós, sacerdotes dehonianos, desvendam-se longínquas paragens e diversos serviços pastorais nos mais variados campos de testemunho e de acção desde as comunidades cristãs ao ensino, aos seminários, à investigação teológica e à evangelização na vanguarda da missão.
Queremos ser testemunhas de um Evangelho de amor colocando-nos em permanente estado de conversão espiritual. Há um ministério de bondade e de esperança a realizar. É um esforço contínuo a exigir uma permanente formação.
Mas não seremos testemunhas deste Evangelho se não formos capazes de renovar em cada dia que passa a nossa atitude em relação ao chamamento do Senhor. Este apelo deve ser acolhido e aceite em cada circunstância e contexto da nossa vida para que a usura do tempo, a fadiga do trabalho, o desânimo de aparentes insucessos nunca magoem o primeiro encanto nem a alegria da decisão e a certeza da fidelidade."

D. António Francisco dos Santos,
na homilia da ordenação presbiteral

Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 30 Setembro , 2009, 16:31
A minha opinião,
agora e aqui expendida,
é pessoal, livre,
sobre o acontecimento,
e que só a mim compromete


"Se o novo governo olhar com olhos objectivos e críticos a realidade do país, aceitar o contributo de uma oposição lúcida e esclarecida, não adaptar as exigências da democracia aos seus interesses, dispensar gente que já mostrou que mais divide que concilia e constrói, contar com as capacidades da sociedade civil, fizer uma política humanista com critérios claros e valores duradoiros, respeitar o povo com as suas convicções profundas e os seus valores religiosos, morais e éticos, tomar consciência de que o orgulho confunde e empobrece e só a humildade dá lucidez e coerência, respeitar e defender a família, única instituição natural indispensável, corrigindo os erros graves já cometidos que a destroem e minimizam, for vanguardista no respeito pela verdade e pela isenção, der aos pobres condições de vida digna e não apenas subsídios de dependência, proporcionar aos jovens perspectivas sérias de futuro, respeitar quem traba-lha e lutar, sem tréguas, pelo direito ao trabalho e à paz social… então, o povo que votou maioritariamente PS não se sentirá iludido nem enganado e o partido vencedor não tirará da vitória senão a responsabilidade diária de melhor servir a todos e a ninguém esquecer."

António Marcelino
Ler todo o texto no Correio do Vouga, em Opinião, aqui

Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 02 Setembro , 2009, 23:22

"Enquanto houver alguns bispos e padres que se consideram com o direito de decidir pela sua cabeça os caminhos de pastoral (...) estamos a fragilizar a proposta cristã", afirmou D. José
 
  "O cardeal-patriarca de Lisboa repreendeu hoje bispos e padres que "se consideram com o direito de decidir pela sua cabeça" em vários domínios da Igreja Católica, considerando que isso fragiliza "a proposta cristã" e cria "divisões".
"Enquanto houver alguns bispos e padres que se consideram com o direito de decidir pela sua cabeça os caminhos de pastoral, o sentido da existência moral, a maneira de celebrar, estamos a fragilizar a proposta cristã, num mundo que saberá aproveitar, com os seus critérios, as nossas divisões", afirmou D. José Policarpo, no VI Simpósio do Clero, que junta em Fátima cerca de mil sacerdotes.
Para o cardeal-patriarca, que não concretizou a que situações se referia, o futuro da Igreja "ultrapassa as capacidades de visão e de decisão de cada um de nós", acrescentando que "a Igreja tem na sua unidade a sua força" e que a comunhão "é muito mais que uma questão de disciplina".
"A comunhão hierárquica exige a humildade da obediência, atitude básica de uma total disponibilidade para o serviço", disse."
 
Ler mais no Expresso ... Ler também em Ecclesia




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