O que tem feito o Cristiano Ronaldo
na Selecção Nacional?
Nada que se veja.
Será que a Federação Portuguesa
não lhe paga o devido?
Não gosto de me meter em coisas do futebol porque há muito deixou de ser um desporto, onde se jogava por amor à camisola. Hoje o dinheiro é rei e senhor num mundo dentro do mundo em que vivemos. Inclusive com leis e tribunais à margem do que existe para o comum o cidadãos.
No tal mundo os jogadores são vendidos e comprados como escravos dos tempos antigos. Com uma diferença: os tais escravos antigos não eram remunerados; os jogadores do futebol, agarrados à ideia de que a sua vida profissional é mais curta do que o habitual, ganham fortunas. Não serão todos, é certo, mas muitos, quando deixam o futebol, não precisam mais de trabalhar. Com isto, há clubes que vão à falência e outros que, por artes nem sempre claras, descobrem maneira de pagar somas fabulosas a alguns craques. É frequente ouvir-se dizer que o clube tal está falido, mas na hora das contratações o dinheiro aparece na mesma. Terminam o ano desportivo com dívidas aos milhões, mas a vida continua como se isto tudo fosse coisa normal.
Cristiano Ronaldo, até há pouco jogador do Manchester United, foi transferido por 94 milhões de euros para o Real de Madrid. Em Espanha, como em Inglaterra e em Portugal, e mesmo por toda a parte, há milhões de desempregados e outros tantos a passar fome. E por mais que o povo proteste e reclame medidas para debelar a crise económica e social, os Estados vêem-se e desejam-se para encontrar soluções, que garantam pão para a boca de imensa gente. E não conseguem descobrir a varinha mágica que, por encanto, dê trabalho a quem dele precisa. Mas para um jogador de futebol, o dinheiro aparece.
Pois o nosso compatriota Ronaldo, que marca tantos golos ao clube que lhe paga bem como muda de namorada a qualquer hora do dia e da noite (que exemplo para a juventude!), vai ganhar 211 mil euros por semana, ou seja, 1255 euros por hora. Ganha numa hora de sono mais do que a grande maioria dos trabalhadores portugueses durante um mês. E tudo isto perante a passividade da UEFA e da FIFA, organismos que superintendem nesta actividade escandalosa.
Confesso, como homem comum, que nem sei como hei-de classificar esta pouca-vergonha: se desonestidade social ou outra coisa qualquer. E mais curioso é que há muita gente a rir-se, porque o seu ídolo (que não o meu) vale isso e muito mais. Até pessoas que não têm onde cair mortas de fome deliram com as aventuras futebolísticas e amorosas do craque. Bem vejo a satisfação desses adeptos.
E mais: em países onde não se apoiam condignamente cientistas, artistas de vários matizes, instituições abertas a ajudar quem mais precisa, desempregados, esfomeados, sem-abrigo e empresas que caem na falência, por não haver dinheiro para ajudas, há milhões para uns tantos nos alienarem (eu não vou nisso) com o futebol.
Que mundo este, meu Deus.
Só mais uma ideia. O que tem feito o Cristiano Ronaldo na Selecção Nacional? Nada que se veja. Será que a Federação Portuguesa não lhe paga o devido?
Fernando Martins