de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 02 Setembro , 2008, 06:52

FÉRIAS COM ENIGMAS À MISTURA

Em férias, é suposto haver dias livres. Livres, significa sem programa pré-definido. No dia 6 de Agosto foi assim, apenas com a preocupação de ler alguma coisa.
Levantar cedo, sem correrias, café da manhã tomado na esplanada da piscina, onde jovens de muitas idades vão chegando, mais preocupados em mergulhar ou brincar na água transparente. Jovens com linguajares diferentes, onde pontificava o inglês.
Leitura do jornal de há muitos anos, o PÚBLICO, para tentar perceber o que vai pelo mundo, já que é impossível alhear-me de tudo.
Depois, um livro que me ofereceram, que dá para recordar, ou tentar perceber, alguns meandros da nossa história – “Grandes Enigmas da História de Portugal”. Livro recente, com edição da Ésquilo, oferece um conjunto de temas, da pré-história ao século XV. Coordenação de Miguel Sanches de Baêna e Paulo Alexandre Loução.
No prólogo, somos alertados para um desafio interessante: “Este não é mais um livro sobre História de Portugal. É uma obra onde, a partir de documentos e factos, se divulgam as incertezas e os enigmas que preenchem a nossa História, dando espaço ao leitor para tirar as suas próprias conclusões.”
O desafio é curioso, mas não sei se o conseguirei respeitar, pois que há opiniões diversas sobre o mesmo assunto, sempre com argumentos, aparentemente consistentes, mais ou menos. De qualquer forma, pelos capítulos que já li, penso que, mais coisa menos coisa, ficarei quase como dantes. Vamos lá agora saber se D. Afonso Henriques era, tal como rezam as crónicas antigas, filho de D. Teresa e do conde D. Henrique… Não há ADN nenhum que nos possa garantir seja o que for. O que sabemos, e isso é indesmentível, é que ele foi um valentão para lançar as raízes da futura pátria portuguesa, independentemente dos pais que teve.
Pois é verdade. Enquanto a malta nova, de várias idades, mergulhava na piscina, incluindo a minha esposa, filhos e netos, estava eu mergulhado nestes enigmas da nossa história, com um olho no livro e outro neles.
E vai mais um capítulo, com textos bem delineados e bem escritos, uns, e outros nem por isso. Uns que se lêem com agrado e outros que me obrigam a virar a página, sobretudo os que andam à volta de esoterismos e iniciações complicadas, de que ainda hoje se fala, sobretudo em torno da maçonaria.
E será que os lusitanos teriam de facto um armamento superior aos romanos, que possuíam o maior e mais organizado exército da época? E D. Afonso Henriques teria realmente mais de dois metros de altura? O Papa João XXI, o único que foi português, teria sido assassinado por ser herético e um curandeiro?
Ora, meus amigos, durante as férias tive realmente tempo para pensar nisto. E que conclusão tirei? Se calhar fiquei a saber o que já sabia: que a história de Portugal, como outras, está cheia de mistérios, reais uns e inventados outros. Porque era preciso criar mitos. Haverá alguma história no mundo que os não tenha?
6 de Agosto

Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 29 Agosto , 2008, 13:05

LAGO AZUL

O vento brando
suave a quente
enche velas esguias
e coloridas

No entardecer
no lago azul e liso
barcos deslizam
suavemente

E o vento brando diz
convencido
Aqui no lago azul e liso
o rei ainda sou eu

Fernando Martins

Algarve, Agosto de 2008

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 26 Agosto , 2008, 11:48
Um livro de Mia Couto:

"Venenos de Deus, remédios do Diabo"

Hoje concluí a leitura de um livro de férias. “Venenos de Deus, Remédios do Diabo”, de Mia Couto, ofereceu-me o imaginário deste grande escritor moçambicano, um dos maiores da Língua Portuguesa, que já conheço há muito de outras obras.
Este livro é um romance carregado de poesia, com retratos do seu país, que ele tão bem sublinha. Não sei que mais admirar neste escritor. Se o enredo cheio de mistérios, se a filosofia que sai da boca das personagens, se a descrição das reais ou imaginárias paisagens, se o mistério tecido à volta das estórias com que nos envolve, se a criação ou recriação de palavras e expressões, se, afinal, tudo isto e mais o que nem consigo exprimir. Sei que gosto de Mia Couto, porque me prende aos livros, me obriga, em cada frase, a sonhar com paragens e paisagens onde dificilmente chegarei, a não ser pelos quadros que tão expressivamente ele pintou.
“A idade é uma repentina doença: surge quando menos se espera, uma simples desilusão, um desacato com a esperança. Somos donos do Tempo apenas quando o Tempo se esquece de nós.” Frases como esta fazem-me pensar e até filosofar, comigo próprio e com quem me rodeia, nos calmosos dias deste Verão. Em cada página e mesmo em cada fala das personagens deste livro encontro motivos para sonhar com viagens para além do real.
Ao ler “Venenos de Deus, Remédios do Diabo”, vieram até mim vidas da era colonial, agarradas a um passado de interesses sombrios, algumas marcadas por tradições e saberes ancestrais, que o escritor, biólogo e jornalista muito bem projecta para os dias de hoje. Os mistérios da família dos Sozinhos nesta obra se fixaram, através de uma escrita cuidada e poética, para que o leitor vá procurando e descobrindo, paulatinamente, até à última frase, os segredos que Vila Cacimba esconde há tanto tempo.
12 de Agosto
Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Sábado, 23 Agosto , 2008, 12:21

AMIZADES PARA A VIDA

Ao longo da vida criamos muitas amizades, algumas das quais crescem com o tempo, apesar das distâncias que nos separam uns dos outros. Uma dessas amizades, das tais que se consolidam com o decorrer dos anos, nasceu há décadas com uma família de Chaves, que viveu perto de nós, na Gafanha da Nazaré. Refiro-me aos meus amigos Nazaré e António Fernandes e aos seus filhos, Pedro, José Carlos e Vítor. Depois, o grupo alargou-se às noras e aos netos, Erika e Paula, Mariana, Alexandra, Rita e Francisco. Quando o encontro, programado ou ocasional, acontece, experimentamos, naturalmente, uma renovada alegria.
Este ano nada fazia prever o reencontro com a família flaviense. Que não era fácil uma estada, para gozo de férias, naquela altura do mês de Agosto, no Algarve, diziam-me. Mas eu, que acredito ou penso que acredito no sexto sentido, tinha cá um palpite de que tudo seria possível.
Um fim de tarde, quando deambulava pelo aldeamento, reparei que na casa dos nossos amigos havia janelas entreabertas, como sinal de gente amiga à vista. Os amigos Nazaré e António, ao simples toque da campainha, surgiram na minha frente, para o abraço fraterno. Tinham acabado de chegar e estavam a arrumar as malas. Julgo que, ao saberem que estávamos por ali, não resistiram e quiseram fazer-nos uma surpresa. Que agradável surpresa, de pessoas que tanto estimamos!
Para pôr a conversa em dia, com recordações e mais recordações, com preocupações e anseios, com alegrias e projectos, de tudo um pouco se falou durante os dias em que estiveram no Algarve. Mas o que mais me apetece sublinhar é a forma amiga, mais que fraterna, como partilhamos sentimentos e emoções, vivências passadas e sonhos ainda por realizar.
Com esta família partilhámos, ao longo das nossas vidas, algumas férias. Foram estes amigos que um dia, já um pouco longínquo, nos convidaram para conhecer Chaves, e nos entusiasmaram pelo conhecimento de Trás-os-Montes. Com eles calcorreámos vilas e aldeias daquela região, saboreámos os melhores petiscos (pastéis, bola e folar de Chaves), com destaque para o presunto que nos esperava, fresquinho, na cave de sua casa, e que comíamos com o pão de centeio, tão famoso por aquelas bandas. No frigorífico havia um vinho não muito forte, que temperava o presunto comido às lasquinhas.
Foi com eles que aprendi a gostar da feijoada transmontana e do leitão à moda da terra, dum cozido mais completo do que o tradicional à portuguesa. E fico-me por aqui, com a certeza de que muito haveria a dizer.
Com eles conheci monumentos, li e reli história e tradições de Chaves, dei um salto até Espanha, ainda no tempo do contrabando consentido, provei em Boticas o vinho dos mortos e assisti em Montalegre à “chega dos bois”, de que hei-de falar um dia destes, se encontrar as fotografias que na altura registei. Subi montes e vales para apreciar castros e conhecer aldeias típicas. E, ainda, como experiência rara, para a época, trocámos as nossas casas para viver as férias com mais comodidade.
Afinal, as amizades são assim, quando, desinteressadamente, as cultivamos e as enriquecemos em horas boas e menos boas.

Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 19 Agosto , 2008, 14:08

ISLA CRISTINA EM NOITE CÁLIDA
Sair de Portugal, mesmo que o salto seja pequeno, é sempre agradável. Em Espanha, onde os portugueses da raia vão a correr atestar o depósito de gasolina, pude usufruir de uma noite cálida, na Isla Cristina, terra de pescadores e de praias, mas não só.
Olhar as paisagens, mirar os nossos vizinhos com olhos de quem procura diferenças mas onde encontra, a cada esquina, tantas e tantas semelhanças, dá-me sempre um gozo especial. Desde o tempo, já longínquo, em que só se podia ir de passaporte, que nos dava, então, a liberdade de saborear uma Cola-Cola e comprar caramelos.
Na Isla Cristina calcorreámos ruas principais com gente que aproveitava a noite quente para conviver, saboreando um gelado ou enchendo as esplanadas em jantares familiares. Foi o que fizemos, atendidos por empregados solícitos e simpáticos, que não se cansavam de sugerir este e aquele petisco.
Apreciei como os nossos irmãos vizinhos falavam alto, com toda a naturalidade, enquanto saboreavam típicos “calamares” entre outros comeres, regados com bebidas frescas, sempre com a criançada em alegre convívio sob os olhares atentos dos pais.
Como curiosidade, registei a frequência com que deparava com esplanadas anexas aos cafés e demais estabelecimentos de comes e bebes. Em alguns casos, em plena rua, que fora fechada para esse efeito. E logo pensei como em Portugal, em certos concelhos, dificultam a preparação de espaços desses, que tanto contribuem para aproximar as pessoas. Aí, os espanhóis dão-nos lições que urge aproveitar, já que nos está reservado um lugar especial na área do turismo, se o quisermos aproveitar.

4 de Agosto

FM

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 18 Agosto , 2008, 18:46


PALMAS PARA A HOMILIA


A missa dominical foi na igreja de Nossa Senhora da Conceição, de portal gótico. Por dentro, nada de anormal. Templo sóbrio, de três corpos. Com bancos quase para toda a gente que vive a missa dominical, esteja onde estiver. De férias, era o caso. Nas paredes laterais, diversas ventoinhas ajudavam a tornar o ar respirável. Percebia-se que havia muitos turistas. Alguns ingleses e de outras nacionalidades, estes em menor número. Coral constituído por gente local e tudo bem ordenado. O celebrante era uma padre já idoso, brasileiro.
De inédito, coisa nunca presenciada por mim, ao longo de toda a minha vida de católico, os aplausos para a homilia. Por ser erudita? Com preocupações de altas teologias? Destinada a gente culturalmente elevada, sob o ponto de vista académico? Por ser doutrinalmente consistente? Por ser feita a partir de frases bem concebidas? Nada disso. Apenas porque foi muito simples, de forma a que todos entendessem a mensagem.
O celebrante foi sobretudo um homem simples. E disse: a eucaristia tem de continuar na vida; o milagre da multiplicação dos peixes e do pão tem de ser feito, hoje, por cada um de nós, respondendo aos que passam fome ao nosso lado; temos de partilhar, em espírito de caridade e de justiça social, com os que mais precisam.
Depois lembrou que a Igreja é a Casa do Pai, que a todos tem de acolher e com todos tem de repartir e ajudar a repartir… E mais… num estilo próximo, como quem conversa com os amigos. No fim, o Povo de Deus aplaudiu, para meu espanto, porque nunca tinha assistido a tal coisa.
Já que falei das homilias, ocorre-me dizer que, por vezes, fico cansado quando ouço certos padres. Eu sei que as homilias não são fáceis de fazer. Exigem preparação, muita preparação, e alguns dons. Um padre, que foi catedrático na Universidade de Aveiro, disse-me, um dia, que levava uma boa hora a preparar uma aula e duas a preparar a homilia. Pensei que fosse o contrário, mas foi assim que ele me disse. De modo que, quando ouço algumas, sinto logo que não foram preparadas. Dá a impressão que alguns celebrantes se convencem de que, quando abrem a boca, para transmitir a mensagem evangélica, adaptada aos nossos dias, é o Espírito Santo quem fala através deles. Puro engano. O Espírito Santo não pode ajudar quem não assume a obrigação de preparar a prédica da eucaristia. Muito menos substituir celebrantes. Penso eu!

3 de Agosto
FM

Editado por Fernando Martins | Domingo, 17 Agosto , 2008, 15:39

FORA DO MUNDO, NO MUNDO
Parti para férias, a 2 de Agosto, liberto de compromissos e de olhos postos no Portugal mais quente. Para trás, ficou o meu quotidiano de muita ocupação, às vezes de nadas. Senti que era importante repensar atitudes e alterar comportamentos, numa perspectiva de encher a vida de coisas mais úteis, quiçá de substratos mais consistentes e mais enriquecedores.
Deixei computador, jornais, revistas, televisão e rádio. Tudo o que psicologicamente me envolvesse plenamente. Apenas a ideia de ler uns livros, se possível, mas com calma. Deixei em casa a necessidade de abrir, em qualquer sítio, as caixas do correio electrónico. Deixei o hábito de estar a par, via Net, do que se passava no mundo. Deixei passar para a terra que pisava as cargas electromagnéticas que me alimentavam o stresse. Abri o espírito a horizontes mais azuis e a temperaturas mais quentes que o nosso País oferece a quem ali, no Algarve, procura encontrar-se consigo próprio, com os outros (os mais íntimos, sobretudo) e com Deus.
A viagem, sob forte calor, tornou-se cansativa para a minha débil resistência. Almoço em Évora, no restaurante Cozinha da Santo Humberto, já conhecido de outras andanças por aquelas bandas. Embora inapropriado para o dia quentíssimo, apostei no ensopado de borrego. Os pratos típicos sempre nos dão sabores agradáveis. Foi o caso.
Na casa que nos esperava, no aldeamento Pedras da Rainha, iniciei o meu período de férias deste ano. A alma estava cheia de tranquilidade. E do prazer de estar fora do mundo, no mundo.

2 de Agosto

FM


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