
Deixemo-nos de demagogias baratas
Quando o Governo decretou tolerância de ponto (para os funcionários públicos) para os católicos poderem associar-se à visita do Papa, participando em algumas cerimónias, sentiu-se a alegria de quantos sonhavam estar com Bento XVI.
Dir-se-ia que o Governo, que é laico e deve continuar a sê-lo, teve em conta que a maioria dos portugueses vive o catolicismo, cultuando e respeitando no dia-a-dia os valores cristãos. Nesse sentido, não morre ninguém se os católicos que o desejarem tiverem o prazer e a alegria de ouvir e ver o Santo Padre.
Nestes casos, nunca faltam os radicais que nos atiram aos olhos a areia dos seus ódios à Igreja católica dissimulados em argumentos pueris. Clamam eles que um dia com o Papa arruína a produtividade no nosso País, tanto mais que estamos em crise.
Vamos ser realistas:
1. As empresas podem não permitir a tolerância de ponto para os seus trabalhadores;
2. Os funcionários públicos com direito à tolerância de ponto são, em princípio, os do Porto e Lisboa, nos dias em que o Papa está nessas cidades. No dia 13 será para todo o país;
3. Os não católicos, naturalmente, não aceitarão a tolerância de ponto, porque, como será óbvio, não estarão interessados nas prédicas do Papa. Devem, portanto, ocupar os seus postos de trabalho;
4. Os radicais e intolerantes em relação à defesa do Estado Laico nunca perdoam, por norma, qualquer aproximação do Governo aos interesses de confissões religiosas. E então se a religião for maioritária, ficam logo altamente assustados e com medo da velha e há muito ultrapassada união entre o trono e o altar. Mas se for uma religião minoritária, alguns até acham bem e aplaudem;
5. Claro que, se a tolerância de ponto fosse decretada por um outro acontecimento qualquer, como o dia de Carnaval, tudo estaria bem;
6. Meus caros compatriotas, procuremos ser compreensivos e vivamos sem demagogias baratas.
Fernando Martins