de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 18 Março , 2010, 09:36
 
Sonhos, desencantos e lutas
 
Por António Marcelino
 
 
Ficou célebre a frase de Luther King “Eu tenho um sonho!”, proferida em 1963 na marcha pelo emprego e pela liberdade, direitos que reivindicava para os seus irmãos negros dos Estados Unidos, marginalizados no seu país, que se arvorava, já então, em pátria da democracia e grande defensor dos direitos humanos. Uma frase que gerou luta e lhe ditou a morte cinco anos depois, mas não o impediu de dizer “se eu soubesse que o mundo acabava amanhã, ainda hoje eu plantava…” Um sonho profético que acabou por levar, quarenta anos depois, um negro à presidência do país, mostrando que os grandes sonhos não geram frustrações, nem redundam necessariamente em pesadelos. Quando um sonhador está vivo, os seus sonhos geram vida.
Sou da geração de Luther King, nascido no ano seguinte ao do seu nascimento e, também eu, com muitos sonhos de que tenho a certeza não redundarão em desencanto, embora a sua concretização esteja deparando com inércias e correntes contrárias, que fazem lembrar e pensar num túnel muito longo e escuro. Mas, como túnel, tem saída.
 

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 16 Março , 2010, 11:46

 

Para os que gostam de rir, e não só

 

 

Intervenção de Ricardo Araújo Pereira na mesa-redonda «Deus: questão para Crentes e não-Crentes", organizada pela comunidade da Capela do Rato (Lisboa).

1.ª parte: "Para nós, ateus, a morte é um sono sem sonhos e nós continuamos com um mau perder em relação a isso. Não é fácil. E por isso, onde é que eu vou buscar conforto? À Bíblia (não sei se já ouviram falar). Especialmente a um dos meu livros favoritos, que é o do Eclesiastes."

 

Podem ver e ouvir os vídeos aqui

 

 


Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 11 Março , 2010, 09:00

 

 

O Papa vem aí... e então?
 
Por António Marcelino
 
«O Papa é, no dia-a-dia, esmagado por exigências de que não se consegue libertar e que dificultam a sua missão espiritual. Gente, ainda hoje nostálgica dos tempos de um papado com corte e poder temporal, aplaude e favorece costumes e tradições de triste recordação, que dificultam os caminhos da evangelização e se tornam um peso pessoal indesejável. Grilhões para uns, desejos e anseios para outros. Bento XVI é um homem simples, um homem de fé e sempre disponível para a missão. Deixem-no ser peregrino e testemunha de Cristo. Para isso vem. Não o abafem nem desvirtuem a sua missão. Que a pretexto de o honrarem, não se procurem honras pessoais.»
 
 
 
 

Editado por Fernando Martins | Sábado, 06 Março , 2010, 19:36

Mais vida para a Fraternidade

A Fraternidade de Nuno Álvares na Região de Aveiro vai avançar para  a criação  de departamentos, que respondam, de forma muito concreta, à projecção dos seus anseios. Esta foi uma decisão tomada na última reunião de Direcção Regional, realizada  na passada quinta-feira.

Os departamentos ficaram assim distribuídos: Ambiente, chefiado por António Ferreira, da FNA - Núcleo de Águeda; Internet e Multimédia, por Laura Vaz, da FNA - Núcleo de Ílhavo; Protecção Civil, por Natividade Monteiro, da FNA - Núcleo de Esgueira; e Radioescutismo, chefiado por Carlos Mónica, da FNA - Núcleo Alabarium.

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Editado por Fernando Martins | Sábado, 06 Março , 2010, 12:27

MULHERES E TEOLOGIA

Por Anselmo Borges
 
 
Celebra-se, depois de amanhã, 8 de Março, o Dia Internacional da Mulher, lembrando as suas lutas de emancipação. As religiões, na sua ambiguidade, foram e podem ser factores de libertação. De facto, a sua influência neste domínio foi e é sobretudo negativa e opressora. Que impressão causa, por exemplo, pensar na possibilidade de uma mulher à frente da Igreja como Papa?
Mas há iniciativas, inimagináveis há poucos anos. Assim, no passado dia 26 de Fevereiro, a partir de uma colaboração da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no quadro do Mestrado e Doutoramento em Estudos Feministas, integrando também um seminário sobre "Mulheres e Religiões", do Instituto Universitário Justiça e Paz e do Centro de Estudos Sociais, teve lugar na Faculdade de Letras um Colóquio subordinado ao tema "Mulheres e Teologia", com cerca de 170 participantes.
 

Editado por Fernando Martins | Sábado, 20 Fevereiro , 2010, 00:57

 

 
Este ano, as Catequeses Quaresmais do Bispo de Aveiro, D. António Francisco Santos, terão um novo formato. Cada domingo, D. António Francisco presidirá à Oração de Vésperas, às 18h00 horas, na Sé, integrando aí uma reflexão quaresmal para cada semana, excepto no primeiro domingo da Quaresma, em que o Bispo de Aveiro presidirá à oração de início da Quaresma, na Igreja das Carmelitas, às 16h00. Presidirá a seguir à Eucaristia, na Sé, às 19h00, na qual nomeará novos Ministros Extraordinários da Comunhão.
 
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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 19 Fevereiro , 2010, 16:29

 

Um grupo de anglicanos conservadores, na Austrália, votou para entrar em comunhão com a Igreja Católica, aceitando a proposta do Papa de criar um Ordinariato Pessoal.
A delegação Australiana da Forward in Faith, um grupo que reúne anglicanos de tendência conservadora, tomou a decisão de pedir para entrar em comunhão com a Igreja Católica.
A decisão surge poucos meses depois da Igreja ter publicado a constituição apostólica Anglicanorum Coetibus, que prevê a criação de ordinariatos pessoais para ex-anglicanos, onde estes possam manter aspectos do seu património litúrgico e espiritual.
 
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Editado por Fernando Martins | Domingo, 07 Fevereiro , 2010, 13:59

EXCELENTE TRABALHO

Por Georgino Rocha


Paulo classifica como excelente o seu trabalho. Pelo modo como o realiza, mas sobretudo pela graça de Deus que, por meio dele, vai agindo. Primeiro, transforma-o radicalmente. De perseguidor fanático, fá-lo apóstolo inexcedível de criatividade missionária. Depois, de observante fiel, converte-o em testemunha qualificada da ressurreição de Jesus Cristo. A ele que se considera como “o abortivo”, um ser humano incompleto e desfigurado.
A esta acção de Deus, corresponde Paulo com uma disponibilidade total, uma atenção absoluta, uma obediência pronta e fiel.
Outras pessoas seguem o mesmo exemplo e podem dar testemunho semelhante. É o caso – evocado hoje pelas leituras da celebração - de Isaías, de Jesus e de Pedro.
Trabalho excelente o de Isaías que se reconhece um pecador, a quem o enviado de Deus liberta da culpa e prepara para ser profeta em favor de todo o povo. E que grande missão desempenha este homem que vive no século VIII, antes de Cristo!
Excelente trabalho realiza Jesus, após a infrutífera faina da pesca que o grupo de Pedro faz durante a noite. Na madrugada seguinte, o fracasso e o desalento são evidentes. A transformação é clara: ânimo revigorado e obediência pronta e generosa.
O homem experimentado – era um profissional reconhecido pela sua barca de pescador -, aceita mudar de rumo, relançar as redes noutras áreas e capturar para a vida outros “peixes”, libertando-os dos horizontes estreitos em que andavam enrolados. Esta imagem alude claramente à missão apostólica que Jesus lhe confia.
Trabalho excelente será o nosso, o de cada um e de todos, se nos disponibilizarmos para que o Senhor nos dê o seu jeito de ser e de agir, a forma típica do cristão, e nós cooperemos com Ele na edificação da humanidade inteira como “criação ou poema de Deus” no mundo.

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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 04 Fevereiro , 2010, 11:58

Sem muros
nem fronteiras

Por António Marcelino


Nem sempre é fácil viver num mundo complexo como o nosso, que é, ao mesmo tempo, pequeno e grande, fechado e aberto, indiferente e cordial. Onde tudo se conhece e poucos se conhecem, todos opinam e poucos escutam, todos falam de amor e poucos se amam. Cheio de riquezas e de misérias, de capacidades e de restrições, de esperanças e de desesperos… O Vaticano II definiu-o de modo ainda mais eloquente (GS 5-9).
Mas é este o nosso mundo. Aquele em que vivemos, e só pode melhorar se dele fizermos um projecto e pusermos em acção, de modo activo e concertado, nossa vontade e nossas potencialidades, alargando o circulo e o número dos interessados em igual projecto.
Ninguém deve esperar para começar. Quanto mais ingente a tarefa, mais urge o tempo para a realizar. Os cristãos acordados e todas as pessoas de boa vontade que sofrem com o que falta e se alegram com o que se vai conseguindo de bom e de auspicioso, têm de estar conscientes desta tarefa e desta urgência.
A Igreja, com todas as mazelas que sofreu ao longo do tempo, tem como missão ajudar a redimir o tempo perdido e necessário. Ela há-de levar ao despertar da fé, consciente e activa, na medida em que, lendo e discernindo os “sinais dos tempos”, se empenhar no serviço às pessoas, se unir e estimular aos que lutam por projectos sociais de justiça e de verdade.


O presidente da França, por altura da visita de Bento XVI ao seu país, não teve pejo, num mundo laico, como o francês, em reconhecer, de modo público, a importância da Igreja na sociedade e para a sociedade, vendo na mensagem cristã, posta em prática, um factor de equilíbrio e de coesão social e moral. E afirmou textualmente: “O catecismo dotou de um sentido moral, bastante afinado, gerações inteiras de cidadãos. Em tempos recebia-se educação religiosa, mesmo nas famílias não crentes. Isso permitia a recepção de valores necessários para o equilíbrio da sociedade”. E, mais tarde, em iguais circunstâncias, disse ainda: “Nós assumimos as nossas raízes cristãs. Seria uma autêntica loucura privarmo-nos da sabedoria das religiões. Seria um crime contra a cultura e contra o pensamento. Chegou a hora de passarmos a uma “laicidade positiva”.
A Igreja, consciente da sua missão e da sua história, mesmo com suas páginas menos brilhantes e ensanguentadas, foi sempre pátria de santos, conhecidos ou anónimos, e tem, por isso, de se empenhar cada vez mais, na tarefa ingente de ajudar a sociedade a equilibrar-se, para que possa ser uma sociedade bela e justa, de todos e para todos. Ela é global, pela sua mensagem e missão, antes de qualquer outra globalização. Os valores que propugna e propõe, em qualquer tempo e lugar, não estão sujeitos à erosão, nem ficam desgastados pela incoerência de quem os não vive ou os não pratica.
Terminou o tempo dos anátemas, das críticas inconsequentes, da distribuição de culpas, das sondagens para ilustrar e entreter. O tempo é de compromisso, testemunho, acção inteligente, organizada e corajosa. Para isso, há que romper com os muros interiores que ainda subsistem em pessoas e grupos e dividem sempre, mas não têm mais sentido num mundo plural, diverso e complexo. Há que romper com as exclusões e evitar os desencontros, tornando mais difíceis as relações pessoais e os projectos comuns.
Ninguém melhora o mundo distante se não melhorar antes e ao mesmo tempo o seu mundo interior e o da sua imediata proximidade, aí onde os sentimentos clamam por verdade e os actos por coerência.
O papel da Igreja é gerar fermento renovador que levedará a massa amorfa. O que se faz no templo se não se repercute na vida das pessoas e da sociedade nunca servirá de louvor ou de glória para Deus. O que se faz a olhar só para dentro encurta a vista do coração e da vontade, fomenta o narcisismo e torna-se lixo inútil. A hora é de novas oportunidades e de apelos urgentes, mas também, hora de conversão ao essencial.

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Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 26 Janeiro , 2010, 14:15

O Divino nas ruas

O nosso tempo tem grandes pensadores e esperamos que o terramoto no Haiti desperte as suas reflexões. Até porque os nossos contemporâneos merecem mais do que uma reportagem a “constatar” que o divino já não mora ali.

Em boa verdade, é quase inevitável perguntar por Deus nestas circunstâncias, mas não é honesto esquecer, com essa pergunta, aquilo que é da responsabilidade de cada ser humano. O divino não se manifesta no furor dos cataclismos, mas nos pequenos gestos que alteram a vida de quem nos rodeia, nesta aldeia global em que ninguém é um estranho.
Não será fácil perceber o que se passa no coração dos haitianos. Lembro, contudo, que muitos dos que têm sido salvos dos escombros atribuem a sua sobrevivência a uma força divina que, de uma forma ou outra, sentiram presente ao seu lado, quando a esperança desaparecia. Seria tentado a confiar mais em quem saiu vivo deste verdadeiro inferno do que num qualquer repórter demasiado lesto a expulsar o divino da vida de quem ainda sofre, ama e espera num futuro melhor. Porque há coisas que não se podem contabilizar.

Octávio Carmo




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Editado por Fernando Martins | Domingo, 24 Janeiro , 2010, 21:46


Irmã Heloísa


Irmã Lúcia


Irmã Cecília

Para uma pessoa ser feliz,
tem de seguir a sua vocação

«Um jubileu é celebração da experiência de acolhimento da Palavra proclamada, rezada, vivida e testemunhada», mas é também «proclamação da alegria e certeza da bênção de Deus», afirmou D. António Francisco dos Santos, na eucaristia de acção de graças celebrada hoje, no Santuário de Schoenstatt. Três Irmãs de Maria — Heloísa, Lúcia e Cecília — festejaram a sua entrega a Deus, a primeira há 50 anos e as duas últimas há 25.
Dirigindo-se às Irmãs, em especial, referiu que é com os olhos em Cristo que podem «ver mais longe» e ser «construtoras do futuro», na certeza de que um jubileu «ilumina o vosso passado e vos abre horizontes para a missão, que consiste em anunciar a Boa Nova».
Em nome das Irmãs que festejaram os seus jubileus, a Irmã Heloísa explicou, no final da missa, a sua caminhada vocacional. Com a emoção sempre presente, contida umas vezes e outras vezes manifestada, referiu que «cada um de nós tem a história da sua vocação» e que foi grande coincidência celebrar os 50 anos da sua entrega a Deus, neste Ano Sacerdotal e numa altura em que também se comemora o centenário da ordenação sacerdotal do Padre Kentenich.


A Irmã Heloísa confessou que desde criança percebeu que queria seguir a vida consagrada, pois «sentiu um impulso interior para se dedicar a Deus inteiramente». Ao contrário de alguns pais que se opõem à vocação dos filhos, a Irmã salientou que os seus «se sentiram muito honrados por terem uma filha consagrada a Deus». «Para uma pessoa ser feliz, tem de seguir a sua vocação», lembrou. E logo acrescentou que, se isso não acontecer, a infelicidade pode ser certa.
A Irmã Heloísa, que esteve 21 anos no Santuário de Schoenstatt da Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré, vai regressar ao Brasil. Entre nós, desempenhou uma acção pastoral dedicada e marcadamente espiritual, tendo incrementado imenso a Adoração do Santíssimo Sacramento e o culto a Nossa Senhora. Acolhia com muita serenidade os peregrinos e quantos se abeiravam do Santuário. A Mãe Peregrina também criou raízes na Diocese de Aveiro, graças ao seu cuidado.
A Irmã Lúcia, da Gafanha da Nazaré, impulsionou a animação musical nas celebrações, nomeadamente na igreja da Senhora dos Campos, nas eucaristias e noutros eventos ligados a Schoenstatt. Por sua vez, a Irmã Cecília, de Viseu, que também passou algum tempo no Santuário Diocesano de Aveiro, dedicou muito da sua vida ao serviço social e pastoral, na linha schoenstattiana. Vai dirigir, no centro Tabor do Santuário Diocesano, a Creche-Jardim de Maria.

Fernando Martins


Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 20 Janeiro , 2010, 17:08



Igreja em campo aberto


.A Igreja sempre esteve em campo aberto. É de sua natureza e, por isso mesmo, essa é a sua missão e seu modo natural de agir. Em campo aberto: ao calor do Verão, ao frio do Inverno, à beleza da Primavera, à serenidade do Outono. O Vaticano II veio dizer que assim é.
Porém, houve tempo, já lá vão séculos, em que a Igreja caiu na tentação de construir palácios com muralhas. À maneira de reis e fidalgos. Umas mais ostensivas a denunciar poder. Outras mais discretas, com frestas estreitas para poder espreitar, guardando da tentação de sair para o vento. Visto de longe, tudo parecia bem e iluminado. Assim, se tornou mais difícil entrar e sair, e mais cómodo estar de ouvidos cerrados ao rugir de vendavais e ao cair da chuva. O mesmo é dizer, estranho às intempéries da vida que geram sofrimento, e à luta inglória de muitos sem saberem como enfrentar o abandono.
As verdades foram ganhando bolor, as gargantas ferrugem, e o povo a ter de se contentar com a esmola ocasional e fugidia das palavras piedosas de algum frade pregador, que passava, de tempo a tempo, pelo povoado. Muitas casas paroquiais já nem eram do padre, mesmo com ele a viver lá dentro. E, onde ele ainda mandava, não raro as propostas de religião que apontavam para Deus eram limitadas, sempre iguais e de alcance reduzido para aqueles a quem chegavam, que, mesmo estes, iam escasseando, a pouco e pouco.
Um dia os maiores se aperceberam que, lá fora, em campo seu, se moviam outras forças e nelas estava o inimigo que era preciso esconjurar. Saíram, então, das muralhas para fazer guerra ao intruso. De defesa da fé e da verdade, dizia-se. Tarde de mais. Com a luz debaixo do alqueire não se pode estranhar que, na noite da vida, surjam lampiões. Os de fora equiparam-se com armas depreciadas pelos de dentro. A estas, outras se juntaram, de novo cariz e não menos poderosas. E a guerra de oposição não terminou mais.
Avisos do céu foram abafados. Palavras de profetas, não ouvidas. Sinais de novos caminhos, rejeitados. O bem que os outros faziam, desfeiteado…

António Marcelino



Mas o Espírito ia trabalhando. Onde era maior o sofrimento pela injustiça dos pecados sociais, surgiam novos apóstolos; onde o tesouro da verdade estava aberto só a iniciados, alguns mais ousados penetraram nele e apresentaram-no como bem de todos os que a ele tinham direito; onde o medo imperava, uma coragem inesperada tornou-se expressão de vida; os humildes vieram à ribalta e soaram palavras novas…
Já nada era igual na Igreja, nem modo havia de retroceder. Uns perceberam que era necessário abrir caminhos novos e uniram-se para tal tarefa. Outros não temeram a tempestade e enfrentaram-na corajosamente. Outros, ainda, avançaram sem intuitos de guerra, dispostos a falar a todos da “liberdade com que Cristo nos libertou”, mesmo onde já se hasteavam bandeiras de outras liberdades de sinal diferente.
Muralhas foram caindo; incómodos por novo rumo foram crescendo; a noite dando lugar a dias de esperança; as lutas perderam o sentido; a paz foi mais desejada; os ouvidos mais atentos às vítimas das mentiras e injustiças; os corações sensíveis à dor.
E a Igreja viu-se, como nos seus princípios, no Cafarnaum da confusão, na feira franca das ideias e das opções, no campo aberto onde todos entram. Surge, então, João XXIII com um sorriso de esperança. Carregava as preocupações de muitos, era eco da voz do grande Profeta. E disse assim: a Igreja de Cristo é luz das nações e sinal de salvação para todos, se for, de novo, serva e pobre; ela é povo de irmãos com vocação de fraternidade universal; edifica o Reino e é sinal de que Ele já está entre nós; é mãe e mestra, serviço e não poder; tem na pessoa humana  o seu caminho e o seu lugar é o lado da verdade e da justiça; tem de deixar de vez o trono dos grandes e estar, disponível para o lava-pés; falará com o mundo e ouvirá dele as alegrias e esperanças…
Outra vez Igreja no campo aberto de uma sociedade plural. Aí tem de ser ela mesma: fermento, sal, luz, proposta de amor e aberta ao diálogo, disposta ao sofrimento, fiel à verdade e ao encontro das pessoas. Igreja votada, a tempo inteiro, ao essencial, o projecto de Cristo. Igreja no mundo, sem ser do mundo, deixando que o Espírito a conduza.

António Marcelino

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 18 Janeiro , 2010, 10:34

Bento XVI com o rabi Ricardo di Segni, AFP PHOTO / Filippo MONTEFORTE


Bento XVI fala de acção "discreta" durante a II Guerra, judeus pedem arquivos abertos

O Papa Bento XVI foi ontem visitar a Sinagoga de Roma - o que aconteceu pela primeira vez. Mas quem esteve presente, nos discursos dos judeus que o acolheram e no discurso que dirigiu à comunidade judaica da cidade, foi o Papa Pio XII, que liderou a Igreja Católica durante a II Guerra Mundial.

Durante a cerimónia, o presidente da Comunidade Judaica de Roma, Riccardo Pacifici, pediu ao Papa a abertura dos arquivos do Vaticano respeitantes ao pontificado de Pio XII (1939-1958). "Enquanto esperamos um julgamento partilhado, desejamos, com o maior respeito, que os historiadores tenham acesso aos arquivos do Vaticano sobre este período e todos os acontecimentos" ligados à Alemanha nazi, afirmou.

António Marujo



Foto publicada no PÚBLICO
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Editado por Fernando Martins | Domingo, 17 Janeiro , 2010, 10:02

Gérard David - Bodas de Caná - séc. XVI


O VINHO DA FESTA


A festa de casamento dos noivos acaba de modo feliz. O episódio ocorre em Caná da Galileia. Obedece a um ritual bem definido para celebrar o amor conjugal – sinal publicamente reconhecido do amor de Deus por toda a humanidade. Os protagonistas são o chefe de mesa, os serventes e alguns convidados, dos quais se destaca Maria e seu filho Jesus. Nazaré.

Tudo corre bem, até que Maria dá conta de que o vinho está prestes a faltar. Cheia de solicitude e com muita discrição, comunica-o a Jesus. Após umas palavras de interpelação, Maria diz aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser”. E o inesperado acontece: Surge vinho novo em abundância e da melhor qualidade. E a festa cresce de intensidade e de ritmo. A acção de Jesus havia dado um apoio decisivo às carências dos noivos, à busca de soluções dos intervenientes, à alegria dos convivas.

João – o narrador do episódio – regista o facto não apenas pelo seu valor histórico, mas sobretudo pelo seu alcance simbólico. É este alcance que lhe interessa: mostrar a mais valia da presença de Deus no casamento religioso e concretizar esta presença em Jesus Cristo e na sua atenção às situações concretas.



Uma boda de casamento sem vinho é, no nosso contexto sócio-cultural, uma anomalia inaceitável. O normal é que sobre comida e bebida. Mas esse risco ocorre na sociedade e nas comunidades cristãs. Sobretudo na família e no seu núcleo original – o casal heterossexual. E então, surge o vazio que provoca o impasse e semeia o pânico. Nesta situação, o coração humano não se sente bem e tenta encontrar saídas para a penúria e para a crise em que se encontra. São saídas sempre precárias e instáveis.

O vinho de qualidade junta dois elementos preciosos: a água enquanto riqueza natural e a intervenção de Jesus, o amor humano e a graça divina, a pessoa e Deus, o momento e o seu alcance definitivo, o casamento e o sacramento. Junta-os e gera uma unidade tal que constituem uma só realidade.

A vida será uma festa em que o amor estável e fiel dá sentido a tudo o que acontece, quer seja programado pelo casal, quer provenha de surpresas ocorrentes. Amor que brota do coração humano, mas tem a sua fonte em Deus, como o vinho novo de Cana a teve na intervenção de Jesus. Amor que, diariamente, necessita de cultivar a frescura original e irradiar de forma contagiante e apelativa. Amor que desabrocha na valentia da liberdade alicerçada na verdade e na responsabilidade.

Georgino Rocha
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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 15 Janeiro , 2010, 17:30

Ricardo Araújo Pereira



“O ateísmo tem sido, para mim e para tantos outros incréus, a luz que me tem conduzido na vida. Às vezes fraquejo, em momentos de obscuridade e de dúvida, mas, mesmo não sendo capaz de provar a inexistência de Deus, tenho conseguido manter a fé – uma fé íntima fundada numa peregrinação que tem a grandeza e a humildade da longa caminhada da vida – em que Ele não exista”. Fiquei a pensar nestas palavras de Ricardo Araújo Pereira, lidas na Visão de 31/12/2009 (intitulavam-se “Paz e amor para todos menos para mim”), onde ele descosia, com cordialidade e combate, a homilia de Natal do Patriarca. À irresistível trepidação hilariante, que pontua a construção dos seus textos, junta-se aquilo que mostra, talvez ainda melhor, como Ricardo Araújo Pereira é simplesmente um grande escritor: o modo como se expõe e nos expõe, numa archeologia ad usum animae.


O pretexto de que parte é que “D. José Policarpo [na dita homilia de Natal] saudou os judeus e todos os que acreditam num Deus único – mas, ostensivamente, não me saudou a mim, que sou ateu”. Não se intenta propriamente uma animosidade com o Cardeal, cujo magistério, diga-se, se destaca no diálogo inteligente e sempre buscado com os não-crentes (recorde-se o livro de cartas trocadas com Eduardo Prado Coelho). O ponto, se entendi bem, é a solidão e a dor por não-crer, absolutamente reversíveis (e era isto que queria dizer a Ricardo Araújo Pereira) com a solidão e a dor de crer. Crer também é difícil. Os crentes, colocados perante o indecifrável alfabeto de Deus, dizem como Job: «chamo por Ti e não me respondes». Desde Abraão, Moisés, David, Coeleth, a Bíblia parece mais uma conferência de existencialistas incorrigíveis do que um grémio de convictos vendedores de seguros. Um cristão, por ter ouvido a prece de Jesus na Cruz (“Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste”), sabe-se chamado, sem facilitações nem ilusões, a viver a paixão do encontro com Deus na fragilidade e no abandono. O problema não é, portanto, a ausência de Deus (pois ela, encarada pela positiva ou pela negativa, nos veste a todos). O problema é aquilo que o filósofo Martin Heidegger assinala: «a verdadeira pobreza do mundo é não sentir a ausência de Deus como ausência».

José Tolentino Mendonça

In SNPC
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