de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 05 Outubro , 2009, 19:21
Pesca do Bacalhau


A Hora da Saudade, de que há meses falei no meu Pela Positiva, foi agora recordado pelo coleccionador António Rodrigues, no seu site Rádios Antigos no Ar. Tema para eu, como outros, reviver, porque o assunto, na época em que aconteceu, suscitava grande interesse. Hoje, praticamente, ninguém evoca a Hora da Saudade, que levava pelos ares a nossa voz emocionada e feliz, até junto de familiares que labutavam no alto mar por uma vida melhor para os seus. Leia mais aqui.


Editado por Fernando Martins | Domingo, 04 Outubro , 2009, 00:40

BACALHAU EM DATAS - 41

 
O NAUFRÁGIO DO “MARIA DA GLÓRIA”
 

 

Caríssimo/a:
 
O relato que aí vos deixo é o resumo do muito que encontrei, em livros e na internete, sobre este acontecimento que marcou profundamente a nossa infância.
O MARIA DA GLÓRIA era um lugre de três mastros, 45m/320tb, construído em 1919 na Gafanha da Nazaré, ria de Aveiro, com o nome de PORTUGÁLIA, por Alfredo Mónica. Em 1927 foi adquirido pela Empresa União d’Aveiro, Lda, que lhe alterou o nome e em 1937 instalou-lhe um motor auxiliar.
O jornal “Ilhavense”, na sua edição de 1 de Agosto de 1942, noticiava que segundo um telegrama recebido no Ministério da Marinha e assinado pelo capitão da marinha mercante Sílvio Ramalheira, comandante do lugre-motor “MARIA DA GLÓRIA” na altura, “este barco foi afundado no dia 5 de Julho pelas 15:30, por um submarino que não ostentava bandeira nem qualquer outro sinal indicador da sua nacionalidade” [Submarino alemão U-94, do comando do Oberleutnant Otto Ites.]A notícia do “Ilhavense” prossegue afirmando que “o lugre levava a bandeira portuguesa pintada no costado. [...] Como o capitão Ramalheira nada podia fazer, resolveu dar ordem de abandono do lugre. A tripulação e pescadores – 44 homens – passaram apressadamente para os dóris, as minúsculas embarcações da faina bacalhoeira e que em breves instantes o “MARIA DA GLÓRIA”, sucessivamente atingido, afundou-se”.
“A partir do momento em que o navio afundou, começou então a negra e angustiosa tragédia dos pescadores e tripulantes. Os dias passavam entre as brumas densas, apertadas, que guardavam no meio do mar o mistério sombrio, dramático dos acontecimentos. Os dóris, primeiro em grupos, juntos durante cinco dias, foram-se dispersando pouco a pouco. A névoa isolá-los-ia por fim. Nas longas noites agitadas e tristes as ondas levavam cada barquinho para seu lado. [...]”.
Escrevia “O Primeiro de Janeiro”, a 3 de Setembro de 1942, após a chegada dos quatro primeiros sobreviventes a Portugal: “No dia do afundamento do lugre português havia bom tempo, mas a primeira noite passaram-na sob medonho temporal, com chuvas torrenciais. A bordo dos dóris não havia mantimentos. Foram queimados trapos, em miragem de socorro e no terceiro dia, dos nove dóris lançados à água os sobreviventes só conseguiam avistar quatro. Passaram muita sede e muita fome. O capitão do “MARIA DA GLÓRIA” distribuíra pelos dóris, para melhor orientação, o “estado maior” do lugre. Ao sexto dia da terrível odisseia, o capitão Ramalheira, por estar extenuado, abandonou o seu frágil bote com outro tripulante, que estava também muito mal e passaram para outro dóri, o que seria recolhido ao 11º dia [a 15 de Julho]. Na pequena embarcação abandonada ficava o cadáver de um terceiro marítimo, morto pelo cansaço e pela fome.”
Os sobreviventes foram recolhidos por uma corveta da marinha de guerra norte-americana.
Entre os 36 mortos e desaparecidos do afundamento do “Maria da Glória” estavam várias parelhas de irmãos, entre elas por exemplo dois jovens da Gafanha da Encarnação, os irmãos José Augusto Cardoso Roque com 22 anos de idade e Manuel Cardoso Roque, de 18 anos de idade, ambos solteiros. Eram os mais velhos dos 12 irmãos. Mais tarde, um dos sobreviventes da tragédia contou à família que José Augusto Cardoso Roque seguia a bordo do dóri onde iam os oito sobreviventes. No entanto, o amor fraternal e os gritos de desespero do irmão mais novo, que seguia num outro barco, levou-o a pedir para mudar para o outro bote, de modo a poder acompanhar e confortar o irmão Manuel. E assim, ambos desapareceram para sempre nas águas do Atlântico. A tragédia ocorrida em 1942 aconteceu 25 anos após o regresso de Augusto Roque, o pai dos dois infelizes tripulantes, de França, onde combateu contra as tropas alemãs durante a I Guerra Mundial.
 
Em 1942 naufragaram o "DELÃES" e o "MARIA DA GLÓRIA", afundados por submarinos alemães. Do "DELÃES" todos se salvaram, mas do "MARIA da GLÓRIA" apenas sobreviveram oito tripulantes que com fome e em desespero comeram o cão do navio. A água era a que recolhiam das velas dos sete dóris que ainda estavam a flutuar. O comandante do navio capitão Sílvio Ramalheira foi um dos sobreviventes e demorou muitos meses a recompor-se.
 
Curvemo-nos perante a memória dos tripulantes e pescadores do MARIA DA GLÓRIA, muitos deles nossos parentes e vizinhos:
 
 
 
Sílvio Ramalheira-39 anos- Ílhavo-Capitão-Sobrevivente
António dos Santos-49 anos-Ílhavo-Piloto- Sobrevivente
Domingos Sarabando-28 anos-Gafanha-motorista-Desaparecido
Jacinto Alcides T. Pinto- 27 anos-Ílhavo-Aj. Motorista-Desaparecido
Carlos Gafanhão-32 anos-Gafanha-Cozinheiro-Desaparecido
José Martins Júnior-22 anos-Gafanha- Aj. Cozinheiro- Sobrevivente
José Menício Tróia-38 anos-Aveiro- Contra-mestre-Sobrevivente
António Carlos Afonso-17 anos- Gafanha- Moço-Desaparecido
João Rosa Pereira-19 anos- Gafanha- Moço-Desaparecido
Miguel dos Santos P. Novo-20 anos- Gafanha-Moço-Desaparecido
João Manuel P. Redondo-16 anos-Ílhavo-Moço-Desaparecido
António Maria dos Santos-27 anos- Murtosa-Pescador-Desaparecido
António Luís Brázida-24 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
José Francisco da Graça-40 anos- Fuzeta- Pescador-Desaparecido
Américo Pereira Patusco-38 anos- Murtosa-Pescador-Desaparecido
António Ramos Paló- 35 anos-Fuzeta-Pescador_Desaparecido
Júlio da C. Simões Júnior-36 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
Isidro da Fonseca-34 anos-Murtosa-Pescador-Sobrevivente
António Santos Cego-26 anos-Figueira da Foz-Pescador-Desaparecido
Manoel dos Ramos Baló-32 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
João Maria Costeira-37 anos- Murtosa-Pescador-Sobrevivente
Felisberto Pires Flora-54 anos- Fuzeta-Pescador-Desaparecido
António André Simões-?-Fuzeta- Pescador-Desaparecido
Manuel dos Santos Neves-?-São Jacinto-Pescador-Desaparecido
Joaquim Lino C. Simões-27 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
João Luís Brázida- 29 anos-Fuzeta- Pescador-Desaparecido
Manuel Gualberto Martins-21 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
Lázaro das Neves- 25 anos-Gafanha-Pescador- Sobrevivente
José dos Santos Matias-32 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
José Maduro Viegas-34 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
António Maria Gandarinho-?-Gafanha-Pescador-morto
João Valente Caspão-23 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Eustáquio Caria Matracão-24 anos-Nazaré-Pescador-Desaparecido
José A. Cardoso Roque-22 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Manuel Cardoso Roque- 18 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Manoel dos S. Parrolheiro-28 anos-Matosinhos-Pescador-Desaparecido
Júlio de Abreu Guerra-33 anos-Buarcos-Pescador-morto
José Ramos-?-Setúbal- Pescador-Desaparecido
Laurélio das Neves-33 anos-Gafanha-Pescador-Sobrevivente
José da Rocha Rito-25 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Ramiro Nunes Ramizote-42 anos-Ílhavo-Pescador-Desaparecido
Artur Pereira Ramalheira-?-Ílhavo-Pescador-Desaparecido
Armando das Neves-20 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
José Martins Freirinha-49 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
 
E terminemos com este desabafo do ti Zé Caçoilo, ouvido por Bernardo Santareno [Nos Mares do fim do mundo, pp 219 a 222] :
 
 
«Ah gentes amigas, s'aqui, nestes bancos do bacalhau,. cada home dos nossos qu'as ondas comeram, ficasse assinalado por uma alminha acesa, como é d'uso lá nas nossas terras, podem crer, amigos, qu'atão este mar saria todo ele um luzeiro, maior qu'aquele qu'enche a Cova d'Iria, no treze de Maio!»
 
 
Manuel
 
 

Editado por Fernando Martins | Sábado, 26 Setembro , 2009, 22:52
BACALHAU EM DATAS - 40
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Gil Eanes
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FINALMENTE NAVIO-HOSPITAL...

Caríssimo/a:

1941 - «A primeira bênção [dos navios bacalhoeiros] foi protagonizada pelo Padre Cruz, passando depois a ser presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa e posteriormente – de 1941 em diante – pelo arcebispo D. Manuel Trindade Salgueiro, conhecido por “bispo do mar”, natural de Ìlhavo, cujas origens se ligavam estreitamente ao mar e à pesca, pois era filho de pescador morto em naufrágio.» [Creoula, 16]

«O mestre Benjamim Mónica reatou a construção naval em madeira na Figueira da Foz [Murraceira], iniciando a construção de dois lugres, em madeira, em finais de 1941. estes deram trabalho a 250 homens, num “verdadeiro formigueiro humano”, inserindo os estaleiros da Murraceira na renovação da frota bacalhoeira preconizada pelo Estado Novo. Em 1943, os estaleiros da Murraceira entregaram as duas unidades. Tratava-se dos dois primeiros navios-motor em madeira da frota nacional e os futuros modelos “tipo CRCB”. A sua traça esteve a cargo do Engenheiro Naval Capitão-tenente J. Valente de Almeida e foram baptizados com os nomes BISSAYA BARRETO e COMANDANTE TENREIRO. Tinham capacidade para 660 t de carga de bacalhau cada e foram equipados com motor diesel de 500 CV, frigoríficos, TSF, luz eléctrica e aquecimento.» [Oc45, 116]

1942 - «Os estaleiros de Alcochete participaram na reestruturação da frota da pesca do bacalhau, em 1942, com a reconstrução do lugre-motor em madeira FLORENTINA, de 700 t e capacidade de albergar 420 t de bacalhau. Este lugre foi alvo de melhoramentos a nível das instalações dos tripulantes e dotado de aparelhagem moderna. Esta reconstrução decorreu sob as ordens do mestre José Maria e do Capitão Manuel Lourenço. O casco do antigo lugre-escuna TERRA NOVA dava lugar ao FLORENTINA, com capacidade para albergar 60 pescadores.» [Oc45, 114]

ASSISTÊNCIA SANITÁRIA «[D]epois o GIL EANES, navio comercial alemão, refugiado em águas portuguesas e arrestado pelas nossas autoridades aquando do início da I Guerra Mundial. Mas este navio que ao serviço da Armada Portuguesa os mais variados serviços alternados – cruzador, transporte de tropas e matérias primas, apoio à nossa gente nos Grandes Bancos, cabotagem entre as ilhas açoreanas, viagem ao Oriente, etc. - só em 1942 viria estabilizada a sua condição de navio-hospital, de apoio exclusivo à frota portuguesa, data em que por decreto ministerial foi abatido aos serviços da Armada e transferido definitivamente para a SNAB – Sociedade Nacional dos Armadores de Bacalhau. Sob a bandeira da nova companhia faria mais vinte e sete viagens aos bancos da Terra Nova e Gronelândia, como navio-hospital e de apoio logístico à frota portuguesa. A sua última campanha fez-se em 1954... » [Vd.1923 e 1955] [HDGTM, 43]

5 de Junho – O lugre-motor MARIA DA GLÓRIA é bombardeado por um submarino alemão e afunda-se.

Manuel

Editado por Fernando Martins | Sábado, 19 Setembro , 2009, 23:25

Santa Princesa

BACALHAU EM DATAS - 39

Caríssimo/a:

1939 - «A autonomia de decisão dos armadores em matéria de renovação das frotas sem interferência do estado no planeamento prévio do tipo e da capacidade dos navios a construir apenas se nota até 1939.» [Oc45, 93]

«Garantindo o emprego a aproximadamente 250 operários dos estaleiros de Manuel Mónica, em 1939, era construída uma unidade de linhas airosas, de “tipo americano”, considerada como modelar pela sociedade inglesa classificadora de navios Lloyds Register of Shiping. Tratava-se do lugre AVIZ, uma encomenda da Companhia de Pesca Transatlântica, L.da, do Porto, com 50 m de comprimento, 700 t de arqueação, onde o maior conforto, inovação e eficiência constituíram apanágio. Dispunha de acomodações para 60 homens de tripulação, sala de oficiais, casas de banho, caldeiras para aquecimento central, frigoríficos e TSF. O seu motor debitava 400 CV e tinha 540 t de capacidade de carga. As madeiras utilizadas foram, mais uma vez, o carvalho, pinho manso e pinho bravo nacionais e madeiras brasileiras.» [Oc45, 117]

«Embora no final da década de 30 do século XX, perto de metade dos navios da pesca do bacalhau portugueses tivessem entre 10 e 20 anos de idade, dentre os 49 navios que compunham a frota em 1939, registaram-se 41 embarcações equipadas com motor, 16 com frigorífico e 36 com receptor TSF. A safra desse ano envolveria 2038 tripulantes e seria produtiva, atingindo a cifra recorde de 17.635 t de pescado.»[Oc45, 110]

«O avanço foi considerável, uma vez que antes da intervenção corporativa nas pescas, a frota bacalhoeira tinha somente 14 navios equipados com motor e nenhum possuía TSF ou frigorífico.» [Oc45, 119, n. 4]

1940 - «2.º arrastão para a EPA: SANTA PRINCESA Se a viagem inaugural [do SANTA JOANA] foi coroada de êxito, as viagens seguintes já sob comando de capitães portugueses, foram de tal forma bem sucedidas que logo a empresa armadora pensou em adquirir mais uma unidade. Foi assim que em 1940, um navio em segunda mão, comprado aos franceses veio juntar-se ao SANTA JOANA. Tratava-se de um navio novo que após ter sofrido um violento incêndio em pleno mar, incêndio que acabou por ser dominado, foi levado para o Havre a reboque de um arrastão da mesma companhia. Chamava-se este navio SPITZBERG, elemento de uma série de quatro navios todos iguais, sendo os restantes o PRESIDENT HONDUCE, o ANGELUS e o LE DUGNAY TROUIN. Uma vez chegado a Aveiro a reboque de um navio fretado para o efeito, foi totalmente recuperado com nova maquinaria e rebaptizado com o nome SANTA PRINCESA. Corria o ano de 1940, ano que marca o início de grande desenvolvimento da nossa frota pesqueira, com uma série de construções de ambas as modalidades – arrasto e pesca à linha. p. 44 de 1936 a 1950: 48 navios=> 20 arrastões (aço e motor diesel) e 28 navios para a “White Fleet” (madeira com motor e vela; ou de aço só motor).» [HDGTM, 43 ]

«Apesar da entrada na década de quarenta com uma encomenda em mãos, a NAU PORTUGAL, um empreendimento de 1200 t que viria a figurar na Exposição do Mundo Português, os Estaleiros Mónica mantiveram-se na senda das construções para a pesca do bacalhau, não esquecendo que a madeira como matéria prima era agora tida como prioritária no contexto da Guerra. No ano de 1940, os dois irmãos António e Manuel Maria Mónica, possuidores de estaleiros “paredes meias”, lançaram à água os lugres-motor D. DENIS e PRIMEIRO NAVEGANTE, dotados dos habituais pormenores a nível de conforto e equipamento, destinados respectivamente às empresas Pascoal e Filhos, L.da e Ribaus & Vilharinhos, L.da.» [Oc45, 117]

Fundação dos Estaleiros Navais do Mondego.

(10 de Março) - O navio VIRIATO, da frota da Figueira, foi aprisionado na Holanda, pelo exército alemão.

«Carlos Roeder resolve, com um grupo de amigos e colaboradores, iniciar, no ano de 1940, na povoação de S. Jacinto, a construção de um estaleiro.» [in Os Estaleiros de S. Jacinto – 50 anos de história, por Henrique Moutela]

Manuel

Editado por Fernando Martins | Domingo, 13 Setembro , 2009, 00:04
BACALHAU EM DATAS - 38

Novos Mares
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NOVOS NAVIOS DE PESCA À LINHA
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Caríssimo/a:
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1938 - «Na campanha de 1938, a maior parte dos navios da frota bacalhoeira portuguesa já estava provida com aparelhos de telegrafia sem fios que era considerada como a providência da navegação, valendo, “por si, meia campanha”, pois permitia a comunicação entre navios e aumentava as condições de segurança das embarcações.» [Oc45, 110]

«[...] Seguiram-se, em 1938, [nos Estaleiros da Gafanha da Nazaré] o lugre de quatro mastros NOVOS MARES, a cargo de Manuel Mónica, para a empresa Testa e Cunha, L.da, de Aveiro, e os lugres-motores OLIVEIRENSE e DELÃES, saídos dos estaleiros de António Mónica.» [Oc45, 117]

«[O CREOULA] sofreu um acidente de consequências muito graves que fez desaparecer, numa onda que varreu o convés, 5 membros da tripulação, o imediato e quatro pescadores.»[C., 42]

«... o imediato de nome Calais e natural de Lisboa, o Joaquim Bolhões, da Nazaré, o Zé Damásio, da Ilha de S. Miguel, o Joaquim Caneco, da Fuzeta, e um outro de Setúbal, que tenho pena de não poder lembrar o seu nome... [José da Silva Cruz, Memórias 1972-1983]» [C., 43]

10 de Maio - «O lugre TROMBETAS, da Lusitânia, Companhia Portuguesa de Pesca, da Figueira, sofreu um acidente que arrastou para o mar - e vitimou - 7 dos seus tripulantes.»


1939 - «O terceiro momento da inovação [da frota bacalhoeira portuguesa] respeita ao advento dos grandes navios-motor de pesca à linha – uma novidade absoluta à escala internacional – e ao abandono da navegação à vela em parte da frota de “navios de linha”. Em Abril de 1939 saíram dos Estaleiros da CUF, na Rocha do Conde de Óbidos, de Lisboa, os primeiros navios-motor em ferro, o SÃO RUY e o SANTA MARIA MADALENA. Foram ambos armados pela Empresa de Pesca de Viana e já fizeram a campanha desse ano.» [Oc45, 100 ] Vd.1936

«Orçados num valor aproximado de 5.000.000$00. Obedecendo ao modelo de proa direita com ligeira inclinação para vante e popa redonda, apresentavam um comprimento de 66 m, um deslocamento de 1692 t e motores diesel suíços, fornecidos pela Sulzer, de 550 CV. Os seus meios de pesca e de habitabilidade eram dos mais sofisticados. Contavam com o seguinte equipamento: frigorífico para transporte de isco congelado, um duplo fundo para albergar água doce, habitabilidade estudada segundo os requisitos mais exigentes, fornos de isolamento, ventilação, sonda eléctrica, posto de telefonia, potência eléctrica suficiente para o trabalho de guincho das amarras, bombas de esgoto e incêndio e aparelhagem electromecânica para o serviço dos dóris.» [Oc45, p. 111]
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Manuel

Editado por Fernando Martins | Sábado, 05 Setembro , 2009, 23:44
BACALHAU EM DATAS - 37


Creoula - 1937
Caríssimo/a:
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1937 - «A Companhia União Fabril, concessionária dos estaleiros da Rocha do Conde de Óbidos, no porto de Lisboa, iniciou em 1937, os trabalhos da construção dos dois primeiros navios de pesca em ferro, fabricados em Portugal. Tendo sido efectuado o lançamento das quilhas no dia 3 de Fevereiro de 1937, foram construídos, lado a lado, dois navios gémeos – CREOULA e SANTA MARIA MANUELA – uma nova classe de navios bacalhoeiros inspirados nas antigas escunas da Nova Escócia. Os trabalhos de construção decorreram em 62 dias úteis e a cerimónia de lançamento à água ocorreu a 10 de Maio de 1937. Após o lançamento, os navios foram mastreados e acabados de aparelhar, tendo o CREOULA sido entregue ao armador em Junho, efectuando a sua primeira campanha de pesca nesse ano.» Creoula, 33-38
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«[...] [O CREOULA e o SANTA MARIA MANUELA] eram navios “gémeos” com 62 metros de comprimento numa deslocação de 1247 t, com uma estrutura reforçada de aço à proa, que permitia a navegação em segurança em mares de gelo, acomodações para 52 homens e todo o equipamento moderno. O CREOULA reunia sadias condições, era uma boa construção e um óptimo veleiro.» Oc45, 111
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«De acordo com a Revista da Marinha, de 19.11.1941, os alojamentos dos lugres CREOULA e SANTA MARIA MANUELA estavam forrados a madeira nas amuradas e anteparas, permitindo um aquecimento a água quente num circuito de tubos de ferro. Os alojamentos dos capitães, oficiais e motoristas situavam-se à ré e possuíam aquecimento central com irradiadores. Estavam ainda munidos de electricidade, TSF, projectores, instalação frigorífica e sonda eléctrica.» Oc45, 119, n. 6
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«...[V]erificando-se que os franceses usavam o sistema de trole desde o início do século XX, com dois pescadores em cada dóri, decidiu-se que também na frota portuguesa deveria ser introduzido tal método, tendo desempenhado o CREOULA o papel de navio pioneiro na concretização desta experiência. Assim, no decurso da sua primeira viagem, em 1937, o CREOULA partiu para a Terra Nova equipado com dóris adaptados a dois homens. Confrontados com a novidade, registou-se por parte dos pescadores uma firme atitude de recusa relativamente à experimentação deste método que, inúteis os dóris empilhados a bordo, tornou-se necessário que o capitão recorresse aos restantes navios da frota bacalhoeira portuguesa na Terra Nova, solicitando o empréstimo de dóris de um só homem, tradicionalmente utilizados pelos nossos pescadores.» Creoula, 19
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«Em 1937, o Ministro da Marinha autorizou a compra de navios de comércio com mais de 10 anos, contados a partir da data do lançamento à água, sob prévio parecer do Conselho Superior da Marinha, enquanto durasse a “situação anormal do mercado de navios e de custo das construções navais”. [in “O Ilhavense”, n.º 1178, 07.11.1937, p. 1]» Oc45, 119 n. 2
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Neste ano de 1937, é constituída a Sociedade Pascoal e Filhos com dois barcos de pesca à linha: RAINHA SANTA e D. DINIS.
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Manuel

Editado por Fernando Martins | Sábado, 22 Agosto , 2009, 22:57
BACALHAU EM DATAS - 35

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A BÊNÇÃO DOS BACALHOEIROS
Caríssimo/a:

1936 - «A primeira bênção [dos navios bacalhoeiros] foi protagonizada pelo Padre Cruz, passando depois a ser presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa e posteriormente – de 1941 em diante – pelo arcebispo D. Manuel Trindade Salgueiro.» Creoula, 16
«A bênção dos navios e tripulações da frota bacalhoeira, em Lisboa, é instituída pelo Estado Novo.» Oc45, 91

«No ano de 1936, a firma Brites e Vaz recebeu uma das “melhores construções portuguesas”, de então, saída das mãos de Manuel Maria Bolais Mónica, o lugre-motor, em madeira, de quatro mastros, BRITES. Este navio moderno, com 50 m de comprimento, deslocando 422 t, equipado com motor Deustcher de 300 CV, TSF, luz eléctrica, custou 600.000$00. Nele foram utilizadas as melhores madeiras brasileiras, riga, carvalho e pinho manso. O BRITES deslizou para a água acompanhado pelo hino nacional e sob as tradicionais palavras do Ministro da Marinha, comandante Ortins Bettencourt: “Em nome de Deus, da Pátria e do Estado Novo”. Por esta ocasião mestre Manuel Mónica viu reconhecido o seu trabalho na construção de muitos lugres para a frota mercante portuguesa, pois foi agraciado pelo Ministro do Comércio com a medalha de Mérito Industrial.» Oc45, 117

Abr19 - Manuel Maria Bolais Mónica recebeu a condecoração da medalha de Mérito Industrial e Agrícola.

«Entre 1936 e 1964, os navios velhos foram substituídos e construídos 83 navios novos. Destes, 67 foram construídos em estaleiros nacionais, entre os quais o CREOULA e o seu gêmeo SANTA MARIA MANUELA.» Creoula, 11

«Em 50 navios da pesca do bacalhau à linha no ano de 1936; lugres de madeira – só 1 de construção em aço-, 42 capitães de Ílhavo, 419 tripulantes (moços, cozinheiros e ajudantes), 1709 pescadores.» HDGTM,

FAROL – iluminação eléctrica (até esta data, a petróleo).

Manuel

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 20 Agosto , 2009, 19:38

Ontem, no Navio-Museu Santo André, onde decorreu a abertura do Festival do Bacalhau, alertaram-me para uma pequena (ou grande) incorrecção, no referente ao arrastão "Maria Teixeira Vilarinho". O Ângelo Ribau esclarece que o "Maria Teixeira Vilarinho" foi mandado construir em Viana do Castelo, pela firma José Maria Vilarinho Ldª. Era a construção n.º 69 daqueles Estaleiros e teve o n.º de registo V-4-N. Isto é, a firma indicada na exposição só nasceu depois do falecimento do C.tão José Maria Vilarinho, que ocorreu em 20 de Maio de 1985. Ainda me prestou outros esclarecimentos, que ficarão de reserva.

Editado por Fernando Martins | Domingo, 16 Agosto , 2009, 00:08
BACALHAU EM DATAS - 34
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Mulheres das secas


MULHERES ... SECAS

Caríssimo/a:

A propósito do “Festival do bacalhau”, onde 150 mil visitantes provaram, o ano passado, todas as iguarias à base de bacalhau”, lembrei-me de vos segredar que há dias recebi uma “caldeirada de espinhas de bacalhau”; foi uma prima que se lembrou de mim e mas enviou. “Que queres, a gente tem de ajudar; a vida não está fácil, eu ando na seca e sempre trago algum!”
Já ninguém se lembra de que a Gafanha é terra de bacalhau e da sua preparação! E é bem verdade que, além desta prima, uma sobrinha também se dedica a essa faina!..

Bem vindas as espinhas mas logo uma diferença: foram aparadas à máquina. Lascas de bacalhau, viste-las!, só uns fiapitos que a lâmina deixou passar.

E então a imagem de marca: secas a atulhar de bacalhau e de raparigas, montes de raparigas, na labuta, por entre galhofas, ditos e cantares. No final do dia, estradas e caminhos fervilhavam de juventude, em correrias ou andar romanceado, que era hora da procura, dos encontros e das conclusões. De duas irmãs que conheço, percorreram estes caminhos e ambas casaram “fora”: muitos rapazes imigravam à cata de trabalho, aqui criaram raízes e já não regressaram às suas terras de origem!

Casadas e cansadas, chegam a casa onde as espera o filho faminto e carente: seu primeiro cuidado é dar leite à criança que se aperta ao colo da mãe. Nos tempos que correm seria suposto uma qualquer ASAE fazer análises ao leite desta Mãe e não me surpreenderia que os químicos espreitassem bem para o fundo dos tubos de ensaio não acreditando nos valores que o computador ia revelando: suor, gotícolas de sal, uma ou outra farripa de bacalhau, vestígios de escamas e leite de muito boa qualidade! Mas, espanto geral, ao surgir um novo elemento, o mais inesperado e nunca visto: a análise acusava de forma bem clara a presença intensa de cheiro de bacalhau! Quem diria?!

E foi assim, amigas/os, que destas Mulheres nasceu a nossa geração.
De onde, pois, a admiração de que ainda hoje a nossa preferência vá para “todas as iguarias à base de bacalhau”!...

Do muito que (esta geração) viveu, trabalhou, pescou e até mordeu o bacalhau não vos massarei eu já que, ontem como hoje, só o conheço no prato! Mas fica aí o desafio para que se abram espaços (blogues... ou quejandos) onde se aprofundem estes temas; e um dos que valeria a pena seria, sem dúvida, “a mulher da Gafanha e as secas de bacalhau”.

Manuel

Editado por Fernando Martins | Sábado, 08 Agosto , 2009, 22:51

BACALHAU EM DATAS - 33
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Santa Joana


O SANTA JOANA

Caríssimo/a:


1935 - «...[P]erante a incapacidade dos estaleiros navais portugueses em satisfazer as necessidades da frota, apesar da necessária autorização prévia do Ministro da Marinha, os armadores portugueses recorreram à aquisição de unidades usadas no estrangeiro, onde os preços de navios usados oscilavam entre os 150.000$00 e os 200.000$00. Aquisição do lugre em ferro JOSÉ ALBERTO, para a praça da Figueira da Foz e dos lugres em madeira SANTA QUITÉRIA, para a praça do Porto, e LABRADOR, para a praça de Lisboa. Ainda no mesmo ano e para a praça de Aveiro, foi comprado em França o lugre NORMANDIE e na Irlanda o lugre SENHORA DA SAÚDE.» Oc45,109

«O JOSÉ ALBERTO, adquirido na Dinamarca pela Sociedade de Pesca Oceano, L.da, em 1935, se[rá] o primeiro lugre-motor de pesca à linha, totalmente feito em ferro, a ser integrado na frota de pesca do bacalhau.» Oc45, 111

«17 de Fevereiro - Entrou na barra da Figueira o lugre com motor de 4 mastros JOSÉ ALBERTO, construído em chapa de aço em 1923, na Dinamarca. Propriedade da Sociedade de Pesca Oceano, o lugre foi considerado "o maior e mais elegante navio da frota bacalhoeira portuguesa". A maioria das casas comerciais da zona ribeirinha fecharam, para que o seu pessoal pudesse observar este momento histórico.»

«Neste ano a frota bacalhoeira portuguesa era composta por 46 navios, sendo 11 da Figueira da Foz.»

1936 - «O segundo marco de inovação [das características técnicas introduzidas nos navios bacalhoeiros da frota portuguesa do bacalhau] foi o começo da pesca com arrastões clássicos ou laterais, em 1936, com o célebre SANTA JOANA.» [v. 1932 ] Oc45, 100

«Por encomenda da Empresa de Pesca de Aveiro, foi construído nos estaleiros de Nakskow, na Dinamarca, um arrastão em aço, o SANTA JOANA, que viria a ser o primeiro barco em Portugal a utilizar o sistema de pesca do bacalhau por arrasto. Era de aço, com 66 metros de comprimento e 17 pés de calado. A sua tonelagem bruta atingia as 1198 t e a sua capacidade de pesca ia até às 1080 t. Com uma tripulação de 58 homens, possuía frigorífico, TSF e um motor Guldner que debitava 900 CV. Este motor permitia-lhe fazer duas safras por ano, a primeira entre Março e Junho, a segunda de Setembro a Dezembro. O SANTA JOANA era um navio sofisticado e bem equipado, numa época em que o preço de um arrastão com estas características rondava os 8.500 contos.» Oc45,111

«O SANTA JOANA foi o primeiro arrastão português da pesca do bacalhau. Pertencia à Empresa de Pesca de Aveiro e era considerado, na sua época, uma das maiores unidades do arrasto na pesca do bacalhau.» Oc45,119 n. 5

«Esta modalidade [o arrasto] firma-se entre nós nesse ano de 1936, com a construção dinamarquesa do SANTA JOANA para a Empresa de Pesca de Aveiro, na gerência de Egas Salgueiro. Assume o comando do navio o Capitão João Ventura da Cruz, veterano dos lugres bacalhoeiros, um dos que, em 1931, demandaram pela primeira vez os bancos da Gronelândia.» HDGTM, 7

«Em 1936, foi adquirido o lugre MILENA, em Génova, também para engrossar a flotilha aveirense [para a Indústria Aveirense de Pesca].» Oc45, 109

Manuel

Editado por Fernando Martins | Domingo, 02 Agosto , 2009, 00:06

BACALHAU EM DATAS - 32

Pescador de bacalhau

A COMISSÃO REGULADORA DO COMÉRCIO DO BACALHAU


Caríssimo/a:

1934 - «De 1929 a 1934, construíram-se apenas 4 navios, sem que a sua construção representasse qualquer progresso sério nos métodos da pesca.» HPB, 77

«Em 1934 foi criada a Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau (CRCB) com a finalidade de proteger e incrementar a indústria do bacalhau. E a sua acção, de certo modo positiva, fez-se sentir até à liberalização do comércio deste peixe, o que aconteceu em 1967. Durante essas três décadas surgiram grandes grupos económicos ligados ao sector e a CRCB começou a perder capacidade de liderança. As importações subiram e as capturas, obviamente, desceram. O 25 de Abril desmantelou como é sabido, esses grupos e a CRCB passou a ter o monopólio das importações de bacalhau, alargando a sua acção aos congelados.» BGEGN[1], 1991, 7

«A criação da Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau ocorreu a 5 de Junho de 1934 (Decreto-Lei n.º 23.968), marca o arranque de um amplo processo de reorganização estatal do sector bacalhoeiro que precede as políticas de fomento da frota. A acção institucional da CRCB tinha por fim garantir a reserva do mercado à produção nacional e o condicionamento das importações de peixe estrangeiro, a estabilidade do aprovisionamento e dos preços.» Oc45, 104 n. 3

«Considerado por Henrique Tenreiro, delegado do Governo junto de todos os grémios das pescas, como “ um dos principais factores da vida portuguesa”, a pesca do bacalhau foi objecto de uma reorganização a partir de 1934. O Estado Novo encetou a reestruturação das pescas, atendendo a uma reforma financeira com o objectivo de repor os bens considerados essenciais, aumentar a produção nacional e combater as importações.» Oc45, 109

E ainda na mesma revista “Oceanos, n.º 45” se pode ler

na página 91: «1934 a 1967: Período áureo da “Campanha do Bacalhau”.»;

na página 93: «De 1934 a 1969 o total de navios que vão ao bacalhau quase que duplica. A média é de 60 navios por ano.»;


na página 99: «De 1934 a 1967, 74 % dos “navios de linha” em actividade tinham casco de madeira.»;

e na 101: « ... [E]scassas 4.726 toneladas de arqueação líquida da frota bacalhoeira em 1934.»

Manuel


[1] Boletim do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, do ano de 1991

Editado por Fernando Martins | Sábado, 25 Julho , 2009, 22:31

BACALHAU EM DATAS - 31



ANTÓNIO RIBAU


Caríssimo/a:


“...[D]ois barcos de pesca à linha: ANTÓNIO RIBAU e LUÍSA RIBAU.”: assim terminava o último “Tecendo ...”. Como é minha convicção de que sempre temos tratado mal os nossos Avós, regresso hoje ao Timoneiro, e desta feita ao ano de 1990, ao mês de Dezembro, para nos deliciarmos com o “TOCA A MARCHAR!...” de Marcos Cirino e O. Louro, e do qual transcreverei pouco mais do que as partes relativas ao senhor António Ribau.

«Diz a lenda regional
que em tempos que já lá vão
fabricou-se o rico sal
nesta linda população
. [...]

“Com a deslocação da Barra , em meados do século XVII para próximo de Mira (...) o número de 500 marinhas (no salgado de Aveiro) estava reduzido em 1778 apenas a 178. A crise da barra e os consequentes assoreamentos na Ria foram causa do abandono e desaparecimento das marinhas das Gafanhas desde Vagos e desde a Costa Nova.
Pelo sul da actual ponte da Cambeia também desapareceram a Marinha Velha, a dos Gramatas e bem assim a dos Mil-Homens que ficava pelo norte do Forte Novo ou Castelo da Gafanha
.” [...]

É daqui oriundo o mais, ou pelo menos, um dos mais antigos armadores da frota bacalhoeira. De facto, a não ser que se conhecessem documentos do século XVII ou do XVIII, e até prova em contrário, vamos considerar o senhor António Ribau o primeiro a mandar fazer um navio. Mandou fazê-lo na Murtosa, sendo posterior o chamado NAVEGANTE I, feito em 1921 pelo Mestre Mónica.
Quando este barco foi feito, o senhor António Ribau deu uma quota de 1.000$00 a cada filho – e eram onze – e sabe-se que o preço médio dum navio nessa década de 20 rondava os 14.000$00.
Foi então que surgiu a empresa ligada à pesca e secagem de bacalhau denominada Empresa Naval Ribaus, Lda. [...]

Vamos contar um episódio curioso. Voltemos ao senhor António Ribau. Nas suas deslocações tinha uma bicicleta com travões de cinta.
Naqueles tempos era costume, nos bacalhoeiros ou na arte xávega, irem à bruxa para dar sorte nas pescas. Ora nestes primeiros anos do século XX não havia comunicação entre os bancos do noroeste atlântico e Portugal. O barco do senhor A. Ribau não aparecia e já lá vão mais de seis meses. Que faz ela! Diz:
“O navio aparece amanhã e tem de entrar, senão vai ao fundo, porque se aproxima um ciclone.”

O mar estava ruim. Que fez ele? Carregou a pistola e na antiga cadeia do Forte, que pertencia aos pilotos da Barra, tomou posição e mandou entrar o navio que entrou mesmo. Se a sua ordem desse para torto, seria o seu último dia de vida. Tal não sucedeu. A propósito de superstições e bruxas a desenfeitiçar pescarias leia-se a curiosíssima página do livro “Nossa Senhora da Nazaré” referente à fundação da capela do senhor dos Aflitos ou a correspondente da Monografia.

Hoje a empresa de que falámos é do seu neto senhor José Ribau e outras empresas, quatro ou cinco, tiveram a sua origem no avô corajoso e investidor.
A Marinha Velha possui [...] uma seca de bacalhau e, em construção, o novo porto de pesca costeira, um futuro de esperança.»

Aí fica, para os nossos mais novos e um ou outro curioso, esta página de antologia do nosso Bacalhau!

Manuel

Editado por Fernando Martins | Domingo, 19 Julho , 2009, 00:09
BACALHAU EM DATAS - 30

.


EPA - EMPRESA DE PESCA DE AVEIRO

Caríssimo/a:

1928 - Constituição da E. P. A. (Empresa de Pesca de Aveiro) - primeira grande empresa virada para a pesca do bacalhau na Terra Nova, com dois barcos - S. JACINTO e SANTA JOANA, e em 1935, a construção de mais dois - SANTA MAFALDA e SANTA ISABEL. Em 1939, mudou-se para o lugar que hoje ocupa, tendo comprado praias de junco onde fez a construção dos armazéns.

1929 - « [É publicado] "A campanha do Argus", livro da autoria de Alan Villiers.» [C, 20]

1930 - «Durante o Estado Novo, o Governo, com a política de fomento das pescas, procurou incrementar a captura do bacalhau nos pesqueiros da Terra Nova, tendo esta pesca assumido, a partir dos anos trinta, uma importância estratégica no desenvolvimento da economia nacional. No discurso do Estado Novo, foi o próprio Estado quem, através do sistema corporativo, impulsionou a pesca do bacalhau, regulando directamente a produção, importação e preços e dirigindo a acção de armadores, produtores, pessoal de mar e comerciantes. Neste âmbito salientam-se a criação da Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau (1934), do Comércio dos Armadores dos Navios da Pesca do Bacalhau (1935), da Mútua dos Navios Bacalhoeiros (1936) e da Cooperativa dos Armadores de Navios de Pesca (1938). A partir de 1930, a frota portuguesa começou a pescar na Gronelândia, que se revelou um pesqueiro mais abundante que os bancos da Terra Nova, e adaptou-se uma nova técnica de pesca, designada por «trole», aparelho constituído por várias linhas ligadas entre si - 20 linhas de 50 braças; de cada braça ficava suspenso um anzol, ao todo cerca de mil.»

1931 - «Em 1931 e 1932 apenas pescaram 26 a 30 embarcações respectivamente e o nível de capturas regressa aos valores dos primeiros anos da I Guerra.» HPB, 77


«O Capitão João Ventura da Cruz, veterano dos lugres bacalhoeiros, [foi] um dos que, em 1931, demandaram pela primeira vez os bancos da Gronelândia.» HDGTM, 7

1932 - «O primeiro fluxo de inovação [das características técnicas introduzidas nos navios bacalhoeiros da frota portuguesa do bacalhau] surge em 1932 com a motorização de uns poucos de lugres: LUSITÂNIA III, armado pela Lusitânia - Companhia Portuguesa de Pesca da Figueira da Foz, e o GAMO, da Parceria Geral de Pescarias, de Lisboa.» Oc45, 100

1933 - Funda-se a Sociedade Gafanhense com dois barcos de pesca à linha: ANTÓNIO RIBAU e LUÍSA RIBAU.

Manuel

Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 17 Julho , 2009, 18:40
No meu dóri, era eu o capitão...


João Zagalo, um doryman aguerrido - II

Contou-me uma história, que lhe deixou saudades, passada em Agosto, na Groenlândia, no Novos Mares, com o Capitão Pascoal:
– O navio deu a emposta (mudou de sítio) para arriar mais cedo. Deu uma pesquisadela. Disse o Capitão:
– Para fora, não tem nada. Ide para o lado de terra!

– «Vamos à vida, com Deus, vamos arriar!» – ordem do Capitão.

E a manobra do arriar começa. Eu, como era chasman (presumivelmente corrupção do inglês lastman), orientei, com outro camarada, a manobra de arriar.
Deduzi que o chasman era o dono do último bote do cimo da pilha, que não se desarmava. Tinha de ser um homem responsável, com jeito, traquejo e muita prática. Havia um chasman em cada pilha, que ajudava a arriar e a içar os botes e era sempre o último a partir para a pesca, depois de ter orientado estas lidas.
Eu, então, depois de botar as mãos no peitilho do avental para as aquecer, já que não trabalhava de luvas, remei de cu p’rà ré e fui p’ra fora, por estar mais desempachado (livre, disponível).
Larguei o trole e quando o grampolim chega ao fundo, comecei a sentir bacalhau na linha do grampolim. Bom sinal!
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Ana Maria Lopes
Leia mais aqui
.
Nota: Texto e fotos do Marintimidades

Editado por Fernando Martins | Domingo, 12 Julho , 2009, 01:04

BACALHAU EM DATAS - 29
.


GIL EANES


Caríssimo/a:

1924 - «No início de Janeiro de 1924, é fundada a Empresa Portugália, L.da e a Empresa de Pesca Bons Amigos, L.da. A Companhia Aveirense de Navegação e Pescas, em liquidação, vende todos os seus bens: a sede, o rebocador VOUGA, entre outros bens.» Oc45, 86

«Em 1924 o número de embarcações da frota bacalhoeira atinge as 65 . As capturas passam de valores inferiores a 2.000 toneladas de bacalhau para mais do dobro e o número de dóris ultrapassa os 2.000.» HPB, 76

«Outras vezes a pesca não chegava para as despesas. Diz Mário Moutinho, “quando foi à Terra Nova a maior frota desta época, a média de capturas não ultrapassou 100 toneladas por barco. Esta média manteve-se nos 20 a 25 e chegou mesmo a ser inferior em anos anteriores”.» Oc45, 88


1925 Dez 14- «Decreto do governo n.º 11.351 que se orientava para o desenvolvimento da frota e para a formação profissional do pessoal técnico dos estaleiros e oficinas de construções navais, a realizar na nova Escola de Construção Naval de Lisboa a qual nunca viria a ser construída. ... Este Decreto propunha a criação de um prémio de construção para os navios destinados à pesca do bacalhau que fossem construídos segundo os planos fornecidos pela Direcção da Marinha Mercante ou por ela aprovados... Não parece que estas medidas tivessem resultado, pois nos 10 anos seguintes apenas foram construídos 5 navios.» HPB, 73/74

1926 - Substituição do primitivo estaleiro da Gafanha por outro, situado mais para sul, pertença do mestre Manuel Maria Bolais Mónica. Aquele primeiro estaleiro, situado na margem esquerda da Ria, foi fruto da transferência, no séc. XIX, dos estaleiros localizados na Cale de S. João, em Aveiro, ocasionada pela subida dos fundos do canal da vila.

«Em 1926, pela primeira vez, pesca-se mais de 7.000 toneladas, assistindo-se a partir de então a uma quebra de produção.» HPB, 76/77

1927Abr08 - «O Decreto n.º 13.441 é sem dúvida a primeira peça fundamental da organização da indústria bacalhoeira promovida pelo Estado Novo, os assuntos tratados são muito variados, demonstrando uma visão globalizante dos problemas.» HPB, 74

«No art.º 27 do Decreto n.º 13.441 determinava-se que o Ministério da Marinha organizaria o serviço de assistência aos pescadores nos bancos da Terra Nova e promoveria estudos técnicos e científicos realivos à pesca do bacalhau. Neste quadro foi o «GIL EANES» à Terra Nova ainda em 1927.» HPB, 75


Finalmente o «GIL EANES»!...
E falar em «GIL EANES» é falar em assistência aos bacalhoeiros; e pese embora todas as críticas e suspeições (e bem fundamentadas!) a outras atribuições do barco de apoio, temos de convir que foi positivo o seu “bem-fazer”!
Será caso para dizer: tardou mas chegou!

Manuel

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