2. É importante ir à raiz da «res-pública» para compreender os desafios da actualidade. Tantas vezes a limitação humana das reacções a determinados sistemas previamente vigentes pode bloquear o verdadeiro significado do que se pretende dizer. Neste sentido, talvez seja necessário destacar que a Revolução Francesa (1789), que ergueu um desejado saudável Estado de Direito, rapidamente primou tanto pela reacção ao passado que não foi «livre», tanto quanto se apregoa. A proclamação ideal de «liberdade, igualdade e fraternidade» espelhou-se em falácia verificada nos nacionalismos consequentes que invadiram a Europa, começando logo com o império francês napoleónico. Saudável a crítica republicana ao absolutismo e aos poderes instalados; engano tremendo a nova absolutização do «republicanismo».
3. A tradução para o feminino da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) valeu a uma mulher corajosa a morte na guilhotina. Afinal a «liberdade» só era masculina e os que não tinham direitos de cidadania também não tinham lugar. É assim maravilhoso relembrar que a autêntica república se alicerça nos Direitos Humanos (1948), não só «do Homem e Cidadão». Ou seja, exaltação exacerbada do «republicanismo» (como se fosse uma nova religião com o “ismo”), não! Porque poderá excluir as diversidades e ideologicamente o reflexo das próprias liberdades… República, Participação, Democracia, Justiça, Dignidade Humana, sim! Este será o caminho da inclusão pessoal e social das culturas, dos sentidos, das religiões, das raças, das políticas… É neste sentido que o 5 de Outubro poderá ser ponto de reflexão em que, enquanto houver indignidade humana e exclusão…, a liberdade da própria república continua incompleta. Ou não será? Depende da distância crítica em liberdade e da verdade de que os sistemas humanos não são valores absolutos.