Caríssima/o:
Ora aqui está um assunto que muito nos interessava. Sabeis porquê?
Nem sei se vos diga: grande perigo para o equilíbrio das nossas crianças, pois, quando começava o jogo do botão, a roupa tinha valor pelos botões que nos disponibilizava para continuarmos a pôr na doca...
Como as «felpas» se resumiam ao indispensável, não admirava que usássemos a mesma camisola nas quatro estações... e sem reforço no inverno. Faz lembrar aquela cena do índio que afirmava “ser cara no corpo todo”! As calças eram uma amostra de vários bocados de flanela que iam tapando os buracos que as nossas brincadeiras lhes provocavam... e as joelheiras eram uma necessidade e uma prevenção: não foram elas e os nossos joelhos onde estariam?
Lembro-me que as meninas usavam muito a chita, nos vestidos, nas saias e nas blusas...
Roupas interiores, consideradas um luxo, iam aparecendo conforme as posses e as sobras dos ganhos dos pais.
Não sendo um filme de ficção e não pretendendo “injuriar” a juventude, estes simples apontamentos ajudarão a sentir a evolução e praza que a um ou outro interrogue sobre o respeito a estas necessidades básicas.
E na cabeça?
Raramente bóina ou boné que se perdiam deixados no primeiro bengaleiro a jeito.
Nos pés, solas grossas por andarem nus. Muitos viam os primeiros sapatos na comunhão ou no exame da quarta: sapatilhas de lona, azuis, castanhas ou brancas. Talvez fossem precisas umas meias mas, sinceramente, não me recordo de nenhumas que tivesse calçado.
Agasalhos para o inverno estavam à mão de semear nos sacos de serapilheira que dobrados a preceito nos protegiam das chuvas e dos frios.
Enfim, cenas de outro mundo poderiam surgir e fariam a nossa delícia... Como quando foi preciso tirar a fotografia para o bilhete de identidade e se usou a camisola do irmão mais velho ... que estava rota nos cotovelos...
Manuel