de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Domingo, 04 Maio , 2008, 09:00

Recebi, há dias, um convite fora do comum que me deixou cheio de alegria. Um par de noivos pede-me para presidir ao seu casamento e, na celebração da eucaristia, dizer aos convidados que tinha tomado a decisão de dedicar as ofertas recolhidas na missa às famílias empobrecidas do nordeste brasileiro.
O noivo conhecia bem a situação de abandono, perseguição e fome que grassam por essas terras. Havia estado por lá em trabalho missionário cinco anos. A noiva vive há muito a simplicidade e a sobriedade de Taizé, comunidade ecuménica que difunde o seu espírito por todo o mundo.
Assim procedi, não sem uma certa emoção, vendo passar na minha imagimação os milhares de famintos deserdados pelos grandes latifundiários que se apoderam das terras para fazerem as enormes herdades. Assim correspondi, fazendo meu um pedido tão nobre e um gesto tão expressivo em ordem a atenuar um enorme problema social.
Está presente o pároco de uma dessas zonas nordestinas. Agradavelmente surpreendido pela iniciativa dos noivos, toma a palavra, após a recolha das ofertas, agradece comovidamente e deixa-nos uma linda e interpelante mensagem.
Hoje, é o dia da Mãe. Os noivos quiseram fazer-nos esta surpresa admirável. Pois, meus amigos, a oferta que pondes nas minhas mãos vai ser dedicada a satisfazer a necessidade maior sentida pelo povo de que sou responsável. Como não tem onde se reunir para tratar dos seus problemas, nem para rezar em conjunto, nem para tomar parte na celebração da missa, estamos a construir uma igreja dedicada a Santa Gianna Beretta Molla. Este dinheiro e, sobretudo, a vossa generosidade vão para esta construção que pretende ser um monumento à vida que este jovem casal está agora a iniciar.
Santa Gianna Beretta Molla foi canonizada em 2004 por João Paulo II. Era mulher casada e mãe de vários filhos. Tinha uma vida feliz, normal, simples. Uma vez, depara-se com um problema dilacerante: uma gravidez de risco. Os médicos aconselham-na a abortar. Ela pede para fazerem todo o possível para os salvar a ambos, mas sobretudo à sua filhinha nascente. E assim acontece, tendo ela sucumbido logo após o parto.
O olhar do jovem casal brilha com um fulgor intenso. A assembleia parece electrizada e irrompe numa ovação extraordinária. A admiração é visível em todos os rostos. A coincidência torna-se muito expressiva. O gesto chega mais longe do que as palavras.
O destino das ofertas recolhidas tinha um alcance sublime que o missionário apresenta de forma tão evangélica: enaltecer a coragem de quem defende a vida nascente, apoiar o sentido nobre do casal aberto à solidariedade com os mais empobrecidos no momento preciso em que mais se gasta e consome.
A assembleia assim o entende; e por isso, aplaude e colabora generosamente. E o gesto fica como uma recordação inesquecível na memória de todos.

Georgino Rocha

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