1. Os grandes autores da época do Renascimento primaram pelo espírito aberto de polivalência, do saber de tudo um pouco, da procura da visão de conjunto. Não, porventura, numa tentativa de explicação fixista unitária de tudo, mas na dinâmica procuradora do desenvolvimento humano integral, onde todas as faces da vida que nos envolve merecerão ter da parte do ser humano uma abordagem. Um dos maiores génios de sempre da humanidade vem desta época, Leonardo da Vinci (1452-1519). Das suas habilidades, do que nós hoje chamaríamos de polivalência, ele foi: pintor, escultor, arquitecto, matemático, engenheiro, fisiólogo, químico, botânico, geólogo, cartógrafo, físico, mecânico, escritor, poeta e músico do chamado Renascimento italiano. Teve, ainda, além de outras, intuições na área da futura aviação.
2. Claro que não vamos pedir tanto a nós próprios nem aos que hoje estudam ou ontem estudaram! Génio é génio! Mas haveremos sempre de pedir não um afunilamento demasiado na especialidade que faça perder a noção da globalidade (E. Morin). Poderemos mesmo colocar em esquema esta dúvida: o mercado de trabalho reclama polivalência adaptativa à realidade, mas, objectivamente, os circuitos dos estudos vão-se apurando sempre mais na especialização. Como articular? Por vezes perguntamo-nos a nós próprios: como pedir POLIVALÊNCIA, esta que traz consigo também a exigência e aceitação humanista e a capacidade de adaptação e recriação mediante as novas situações e mesmo as dificuldades…quando a formação aposta fortemente mais numa especialização no pormenor (?).
3. Nos tempos actuais (não dizemos se de crise, pré-crise ou pós-crise), esta capacidade de adaptabilidade generosa, na aceitação própria da gradualidade da construção da casa (seja física seja da vida), dará garantias de ser-se melhor profissional e mais cidadão na procura de cada dia (no pressuposto da ética) nos irmos moldando. Um novo renascimento!
Alexandre Cruz