Sinceramente, para mim, assunto a esquecer! Desenho!? (Agora é 'educação visual' ou 'EV'...)
A nossa escolaridade decorreu no período pós Segunda Guerra Mundial: penúria, tristeza, cinzento. Os lápis de cor eram em caixinhas de meia dúzia, curtinhos e tinham de ser poupadinhos para todo o ano. Os livros eram a uma só cor, apenas o de leitura se dava ao luxo de ter imagens coloridas...
Os professores não nos mandavam ilustrar os nossos escritos, o desenho era outro: desenhar um copo, um funil, uma caneca...
Isto nem tem nada de extraordinário, só que se o traço saía do trilho devido era a desgraça: a borracha era dura como pedra e não apagava, borratava e tanto mais quanto mais se teimava... até ao desastre final que era a folha rasgada! E agora?
Mas o que mais irritava é que o Armando pegava no lápis e, sem a mínima dificuldade, em menos de um 'já', tinha o vaso desenhado e com uma flor! Bem olhava para a mão dele e para a cara, mas aquilo saía sem uma sacudidela ou um trejeito, tudo natural. Ora, se ele faz, ... vamos a isto!...
Desta vez, não rasgou o papel, mas o vaso ficou de crena, qual navio encalhado no paredão da Meia-Laranja!
Chegada a quarta classe, o apuro refinava: o desenho tinha de ter sombreado. O Professor bem exemplificava, até no quadro preto, e chamava a atenção para a zona onde batia a luz, era tudo mais que evidente. Vamos à prática... Oh, desgraça, agora a sombra ocupava o espaço do desenho, como que a esconder o cilindro que fora posto sobre a secretária. Nada de desanimar: com uma pontinha de papel rasgado e mesmo com a ponta do dedo, com cuidadinho, vamos dar certo volume redondo ao cilindro...
Olha, dá-me a impressão que até o papel está com pena do artista!
Manuel