A partir daí, nunca mais destruí livros, embora os vá atirando para o sótão. Curiosamente, algumas vezes, já tive de recorrer a esses livros velhos ou considerados sem valor, o que me leva a pensar que, afinal, o que hoje não presta pode amanhã ser útil.
É verdade que semana a semana deito para o lixo jornais e revistas com reportagens oportunas e interessantes, por não ter hipóteses de os guardar. Há anos cheguei a coleccionar revistas e até alguns jornais, mas em dada altura não tinha espaço para tais colecções. Nem no sótão. Foram para o lixo. Guardava-os pelos temas que continham, mas quando precisava deles, para um ou outro trabalho, nunca conseguia localizar o que queria no momento.
Com os livros, porque permitem um enquadramento mais ou menos (des)ordenado nas prateleiras, ainda se vai tornando fácil arrumá-los. Mas revistas e jornais, isso não consigo.
Acontece que esta entrevista me fez reflectir sobre o que temos nas estantes. Tanta coisa que compramos sem nexo; tanto livro que, no fim da leitura, nada nos deixam; tanto livro que só nos empobrece, pelo nada que nos oferecem; tanto livro marcado pelo negativo da vida dos seus autores; tanto livro sem pés nem cabeça que compramos sob influência da publicidade que se faz à sua volta. E para ali estão à espera que um dia lhes achemos graça ou lhes reconheçamos um mínimo de valor. Até que um dia… os atire para o lixo. E a pergunta, que faço a mim próprio, é esta: Será que os livros das nossas estantes merecem mesmo o lugar que ocupam?
Fernando Martins