de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 21 Maio , 2009, 10:49


Dedicação

O fato de bailarina
Fica-me mesmo a matar,
Quando a dona desatina
E se põe comigo a dançar!
Olá, Amigos!


Se pensam que morri e já estão a preparar-me o enterro, podem tirar o cavalinho da chuva, pois estou vivo e bem vivo!
Ando um pouco “enfiado”, lá isso é verdade….até me “afunilaram” as ideias! As ideias e os movimentos! Estes humanos quando se lembram…quando têm ideias brilhantes, aplicam-nos a nós, caninos, que somos um campo fértil para estudos e experiências… Eu, que prezo a minha masculinidade, que sou cão e muito cão….sou um cão em toda a acepção da palavra, não me sinto bem no papel de cobaia! Por isso não entendi, lá muito bem, com os neurónios que Deus me deu, que me tenham metido um funil, na cabeça! P’ra quê? Pergunto eu, com o meu raciocínio de cão. Lá porque o Dr JP me deu uma anestesia, para andar a “escortaçar” o meu membro posterior direito, não vejo a correlação entre a costura feita na minha patinha e os movimentos da minha cabecinha pensadora! Que eu sou muito irrequieto e faço muitas mesuras à minha dona e seus amigos, toda a gente o sabe. Também o vêem os outros pets que pastoreiam em ambos os lados do meu espaço privado – o big garden! Mas daí até me terem limitado os gestos, a minha única forma de comunicação, há quem diga que o gesto é tudo, já que não fui dotado da linguagem verbal, como os humanos,……francamente! Será que existe algum conluio entre o Dr Vet e a minha dona, para me porem a dormir, durante um interminável dia, na sua clínica pediátrica? Eu, que nunca tinha entrado numa “estalagem” dessas, ouvi dizer que ia ficar internado para uma intervenção cirúrgica! A minha dona, ao verificar que me nascera uma excrescência, na patinha posterior direita, ficou alarmada! De início, pensou ser apenas uma forma de solidariedade, ao tentar copiar o joanete dela, por transferência afectiva…quiçá! Tratou de consultar um especialista que prognosticou, diagnosticou e prescreveu a excisão da protuberância; a minha dona levou-me à Clínica Veterinária da cidade próxima, onde tive uma amistosa recepção e onde me foi feita a preparação para a intervenção cirúrgica. Inocularam-me a anestesia, que provocou um entorpecimento que em nada se coaduna com todo o meu fulgor de canino fogoso hiperactivo! As patinhas começaram a afrouxar e daí a pouco senti-me ao colo do Dr JP que me transportou, com muito carinho, para o bloco operatório. Apesar das pálpebras semi-cerradas, ainda consegui descortinar uma lágrima furtiva a deslizar no rosto saudoso da minha dona.
Ah! Nunca pensei que a dedicação dela atingisse este nível de emoção. E…até podia jurar, pondo as patinhas no fogo, que as lágrimas da minha dona não são lágrimas de crocodilo!
É verdadeira, recíproca e intensa esta afeição entre humanos e caninos.
Ao fim da tarde, quando me veio buscar, ambos rejubilámos de alegria, por podermos retribuir efusivamente o afecto que brota em cachões, qual lava em vulcão em actividade.


Quem tem uma dona, tem tudo
Quem não a tem, não tem nada!
Eu apesar de ser mudo
Comunico, sobretudo
De forma gesticulada
!



M.ª Donzília Almeida
21 de Maio de 2009
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