Desabrochar…
Por Maria Donzília Almeida
Iniciar uma aula com gente miúda, depois de um intervalo alargado, é sempre um trabalho árduo para o professor. Aquietar aquele fervilhar constante, aquela energia incontida, é tarefa hercúlea para o docente que quer iniciar a sua aula de qualquer disciplina.
Quando as criancinhas, numa imitação pura do mundo dos adultos, começam a imiscuir-se no mundo dos afectos, surgem cenas inesperadas e até divertidas. Amores não correspondidos sempre foram o mote para divagações de poetas, artistas de vários quadrantes, até a sétima arte neles se inspira.
Percorria as coxias da sala de aula, quando observa a B.M. (sem W!!!) a desenhar coraçõezinhos no braço estendido do J.A. Este estava, embevecido, a seguir com os olhos o traço firme da mão da sua pretendida. Como a aula estava a começar, advertiu a teacher que deveriam acabar com a brincadeira, sem se ter apercebido da comunicação daquelas duas almas.
- Recolhe agora o braço, aconselhou, brandamente, num propósito pedagógico de dar início às actividades.
A custo, obedeceu à ordem, mas um misto de tristeza e contrariedade toldou o seu rosto vivo de sorriso fácil, sempre alojado ao canto dos lábios.
Após uma breve pausa, chamou de mansinho a teacher e falando quase em surdina, confessou-lhe:
- Agora que ela está a atirar-se a mim!
Considerando que ainda há bem pouco tempo, a donzela pretendida usava a força das mãos, para lhe dar com os pés, e de todo o seu dispêndio de energias posto na conquista, é de acalentar qualquer esforço de entendimento e de harmonização dos sentimentos……De pequenino se torce o pepino!
As aulas sucederam-se, o convívio manteve-se e as arremetidas do D. Juan subiram de nível.
10.02.10