Sem perder de vista a vocação primeira de tais "espaços sagrados", uma tal celebração traz ao nosso convívio colectivo e a uma escala global um conjunto amplo de questões, que nos ajudam a reflectir, em última instância, o lugar do próprio crente na construção da comunidade mais vasta em que aquele se integra. Certo, ao erguerem notáveis edifícios e ao produzirem todo um conjunto de bens que lhes vestem a alma, as religiões contribuíram e continuam a contribuir decisivamente para a construção de identidades culturais, tantas vezes até étnicas. Mas é sobretudo de pessoas que falamos, não dos seus objectos ou dos lugares dos seus afectos, quando a visão do mundo se acerta pela lente da transcendência!
Hoje é pedido aos lugares de culto e aos agentes que os mantêm vivos, bem entendido, que voltem a assumir um papel que já desempenharam em outras épocas, em moldes sem dúvida diferentes: que avultem como centros geradores e potenciadores de cultura, que sejam, eles mesmos, sujeitos activos e protagonistas de cultura. Isto é, centros de humanização, em sociedades cada vez mais marcadas pela fragmentariedade dos ideais e das práticas. O Cristianismo tem para oferecer, a este respeito, não apenas a memória dos contributos dados no passado, mas a capacidade de continuar a rasgar caminhos de ousada novidade. As suas igrejas, as suas capelas, os seus santuários são espaços de vida, espaços dedicados a sinalizar na nossa existência trilhos de eternidade, onde a grandeza das mulheres e dos homens se faz ainda maior, de mãos dadas com um Deus que lhes está próximo. E, como lugares de tal encontro, eles revelam-se, de facto, como "espaços sagrados".
João Soalheiro