de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Domingo, 04 Novembro , 2007, 11:37
Egas Moniz


A GRADE DE OURO E A FONTE

Caríssima/o:

Certamente que vais ler e não tens qualquer reacção; é normal, mais lenda menos lenda...
Então vamos à leitura que no final contextualizo esta introdução:

«Decerto que Avanca – rica em episódios protagonizados por mouras encantadas, bruxas e lobisomens – é a freguesia do concelho de Estarreja onde se notam mais as marcas das tradições lendárias. Mesmo assim é a pátria de um dos espíritos científicos mais destacados deste país, Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina em 1949.
Na noite de S. João, por exemplo, que continua a ser condignamente comemorada, diz-se que aparecia uma bela grade de ouro no fundo do Poço dos Chavões, junto às Chousinhas, no lugar do Rio Gonde, exactamente onde o leito é mais profundo. Pois a lenda fazia anotar que para a retirar das águas importava conseguir-se o auxílio de uma junta de bois. E estes bois deveriam ser negros. E poderíamos perguntar se a grade ainda lá está, e neste caso como é que não há notícia de quem quer que seja se tenha habilitado à sua extracção do rio, e se a principal escusa será a falta de bois negros nas redondezas! Ou será que já a levaram?
Também no lugar do Fojo situa-se a Mina da Água Nova, também conhecida por Mina dos Nove. A lenda foi passada a escrito pelo cónego Julião Pires Valente Figueira, quando tratava da origem e história da família dos Juliões, de cuja árvore genealógica ele era um dos mais notáveis rebentos. Tire-se cópia da lenda, com a devida vénia:
“António Valente Figueira (lavrador do Outeiro da Bandeira)... Os seus vizinhos, porém, continuavam a colher pouco por não terem água abundante para os seus terrenos, penúria que muito o magoava e procurou remediá-lo estudando um pequeno charco existente algumas dezenas de metros acima do poço da sua mina. Verificada a probabilidade de alguma coisa se conseguir, tratou de estudar a directriz do rego e de entender com os donos dos prédios atravessados em que não encontrou dificuldades de maior.
Ele mesmo, com os seus criados, tinha feito algumas sondagens no charco, sempre animadoras, e acrescentando-as mais, verificou que uma bela nascente estava ali apenas a dois metros de profundidade, isto é quase ao sol. Dias depois chamou os vizinhos e com toda a sua gente de trabalho, para lá se dirigiram todos com grande satisfação, levando à frente uma junta de bois jungidos a um arado. Chegando e verificados os trabalhos já feitos, principalmente pelos vizinhos das terras subjacentes, que nem o charco conheciam, cujo rego de derivação iam começar a abrir, ele mesmo, pondo as mãos na rabiça do arado, no meio da admiração entusiástica expandido a sua alegria, lá foi manobrando o arado precisamente ao local onde a água procurava atravessar a mina já então existente.»
[V. M., 91]

Lida e não vos disse nada?!
Pois quando passei os olhos por cima do texto e encontrei o nome “António Valente Figueira” dei um salto na cadeira... Já o nome do cónego Julião me deixou de orelha guiada, mas aquele outro... é nem mais nem menos o avô de Manuel Joaquim Tavares Valente, mais conhecido por Manuel Passarinha que por sua vez é bisavô de nossos filhos!
Bem, mas fiquemos por aqui, que prometo continuar, se Deus nos der vida e saúde!

Manuel

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