de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 07 Outubro , 2008, 12:55


A economia está na ordem da hora. Reparem nos relógios, nos ecrãs, na histeria dos espectáculos bolseiros, nos sinais, na pressa, na subida, na descida, no sentimento positivo ou negativo. Tudo se passa como um relâmpago, começando em Wall Street e passando por Londres, Tóquio, Madrid ou Lisboa. E chega à nossa porta. Ao nosso bolso. Não contávamos com isto. Pelo menos para já. Neste novo milénio tivemos o 11 de Setembro, os arredores de Paris a arder, atentados no Iraque e Afeganistão, ameaças nucleares nalguns países, África por vezes a emergir, outras com a pobreza no pico mais alto, os barris de petróleo a fazerem rolar os painéis nas bombas de gasolina, nas viagem de qualquer tipo, no preço do pão de cada dia.
Diremos simplesmente que as leis são mais fortes que as vontades e as vontades que criam leis de justiça ou injustiça não mudaram. Vivemos a convulsão do “já e ainda não”, com os grandes do mundo mais assustados que os pobres, pois as suas perdas são mais arrasadoras que as perdas do cidadão comum. Mas as astúcias ganham cidadania. O dinheiro é jogo, especulação, ameaça, retracção, bluf, enganos contínuos para que a ilusão seja impulsionadora de negócio e o boato determine novas formas de lucro. Os poderes públicos já se sentiram ultrapassados. Uma espécie de terrorismo económico tornou-se determinante no xadrez de troca de capitais e bens – móveis ou imóveis – que nos leva a sentir-nos em estado de emergência e dúvida económica sistemática, decretada pelos prestidigitadores da moeda, dos juros, dos lucros, das subidas e descidas das acções como roleta constitutiva do nosso sistema económico. Adeus Marx, adeus capital.
Nesta matéria mentir não é bom. Mas dizer a verdade toda pode ser arriscado. Pode gerar efeito dominó. Cada qual lança ou paralisa o seu investimento, o pequeno ou grande sinal de compra e venda, e abre uma caixa surpreendente de consequências. Bento XVI na abertura do Sínodo referiu-se a esta crise como reveladora da “futilidade da corrida ao dinheiro”.
Não se vislumbra, por enquanto, saída para este estado de crise. Mas nem por isso podem ficar de fora as atitudes éticas no pequeno e grande mercado, nos negócios onde o ser humano está no centro e o mais frágil merece o maior respeito. A Igreja reafirma hoje mais veementemente a sua doutrina social, sejam quais forem os novos meios e técnicas em que se envolva o trabalho humano. O trabalho continua a ser um direito e um dever de todos, na continuidade da criação, na relação com o capital, no título de participação de todos, nas obrigações do Estado, no mundo agrícola e industrial, no mundo universo migratório, nos direitos da mulher, na remuneração equitativa, na distribuição dos rendimentos, nas novas formas de solidariedade e nas surpresas constantes da orgânica do mundo laboral. O ser humano é o mesmo. E continua indiscutível a frase de Cardijn: as coisas têm preço, os homens têm dignidade.

António Rego

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