de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 31 Outubro , 2007, 17:29
Gafanhoas (Década de 40 do século passado)


Há dias, alguém perguntou-nos de que lado estávamos: se do lado do gafanhão ou do gafanhonazareno? Respondemos, com toda a naturalidade, que não estávamos de lado nenhum, embora usássemos a falar e a escrever a palavra gafanhão. E acrescentámos que não estávamos de lado nenhum pela simples razão de que não gostávamos de dividir os filhos desta terra que nos viu nascer, e onde sempre vivemos, em dois grupos que se digladiassem, já que muito de bom nos unia e exigia essa mesma unidade, rumo a um progresso cada vez mais saudável.
Justificámos, no decorrer da conversa, a nossa posição, que não tem nada de teimosia nem de fuga a qualquer tipo de evolução no campo da Língua Portuguesa, por nela acreditarmos, quando tal é de aceitar, com a introdução de novas palavras e termos, quando necessário. Assim: usamos o gentílico gafanhão por estar consagrado há dezenas de anos, talvez centenas, no linguajar do povo e em todos os dicionários que conhecemos; por ser esse o que vem em qualquer livro que fala da Gafanha da Nazaré ou de outra Gafanha; por estar consignado no Guia Ortográfico da Língua Portuguesa; por sentirmos que é necessário impô-lo, sobretudo depois de ter sido considerado depreciativo por alguns povos vizinhos; por gostarmos dele (não soa ele tão bem?); por ser, principalmente em Portugal e no Mundo, a palavra que melhor nos identifica, aos olhos dos outros, segundo cremos; e por não vermos qualquer vantagem em criar outro termo que a substitua. As palavras novas só são de aceitar, a nosso ver, quando não há outras para definirem a mesma coisa, ou quando o povo, com toda a sua autoridade, resolve “criá-las” ou adoptá-las. Não foi o povo que criou o “gafanhão”? Ou terá sido, como poucos pensam, algum letrado a fazê-lo? Foi o povo, não há dúvidas, que começou a chamar “gafanhões” aos que por aqui começaram a aparecer para amanhar as terras até aí improdutivas. Sendo assim, deixemos ao povo da Gafanha da Nazaré, sem quaisquer pressões, o direito de seguir o que melhor lhe convier, talvez por gostar mais. Nós não nos oporemos. Só não concordamos é com influências excessivas, como que a querer impor uma qualquer teoria, venha ela de onde vier.
Também não concordamos que se diga ser urgente dignificar o povo com a alteração do gentílico. Aos que dizem que é preciso substituir gafanhão por gafanhonazareno (gramaticalmente correcto, não duvidamos) por o primeiro ter tido uma carga negativa, lembramos que o povo só se dignifica e sai dignificado, não com mudanças de gentílicos, mas com atitudes educadas de todos nós. Assim, se soubermos, como gafanhões, honrar e dignificar o nosso povo, tendo posturas certas na sociedade e em qualquer sítio em que nos encontremos, estamos a elevá-lo e a impô-lo à consideração do mundo que nos rodeia. E isso não passa, necessariamente, por ser gafanhonazareno ou gafanhão, mas por ser gente que se respeita e respeita os outros.
Porém — acrescentámos ao nosso interlocutor —, aceitamos perfeitamente a opção de outras pessoas por outro gentílico, sem vermos nisso razões minimamente aceitáveis para nos ofendermos ou guerrearmos. Cada um é livre de seguir a opção que muito bem entender, sem ser preciso dividir os filhos desta terra em bons (ou que são pelo gafanhonazareno) e maus (ou que defendem gafanhão).
E também lhe dissemos que, já agora, gostaríamos de saber que nomes haveríamos de dar aos filhos das Gafanhas da Boavista, de Aquém, da Encarnação, do Carmo, da Boa Hora e da Vagueira. Talvez gafanhoboavistenses, gafanhodaquemnenses (será assim que se escreve?), gafanhoencarnacenses, gafanhocarmoenses, gafanhoboaorenses e gafanhovagueirenses. O que dirão os entendidos nestas coisas da linguagem, e os próprios interessados, já que a lei deve aplicar-se a casos semelhantes? Aqui deixamos a questão para que outros, sem agressividade, lhe respondam. Nós demos a nossa opinião, como nos solicitaram. E ponto final, por agora, porque a Gafanha da Nazaré tem muito mais em que pensar, para inovar e evoluir, em tantos campos, se é que quer ocupar o lugar a que tem direito na sociedade em que se insere. E não será por causa desta questiúncula que nos vamos dividir, ao ponto de sairmos dos trilhos da sã convivência e da boa educação.

Fernando Martins
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Anónimo a 1 de Novembro de 2007 às 00:04
Para mim é gafanhão... e mais nada!!
João,
São Jorge, Açores

Fernando Martins a 1 de Novembro de 2007 às 08:53
Meu caro...

Dando liberdade a que outros sejam o que quiserem...

Um abraço


Fernando

José Augusto Rocha a 1 de Novembro de 2007 às 12:50
Caro amigo e sr. professor.
Nunca, até hoje, li um artigo em que tão bem se procurasse, de uma vez por todas, pôr fim a esta ridícula questão. Sem guerrilhas e sem imposições, cada qual pode e deve utilizar o termo que quiser, desde que o mesmo seja correcto.
Parabéns e um abraço.

Anónimo a 1 de Novembro de 2007 às 16:24
O "cromo" da Gafanha da Nazaré que quer ser "gafanhonazareno", não presta como homem. É má pessoa. Vivam para a história, os GAFANHÕES.

José Alberto.

João Marçal a 2 de Novembro de 2007 às 00:43
Concordo plenamente que o termo gafanhonazareno é gramaticalmente correcto.Contudo não vejo razão para o usar atendendo àquilo que o povo homolgou há muito tempo: o termo gafanhão. E isto para todos os povos de todas as Gafanhas. Gafanhonazareno é factor de divisão entre povos que têm as mesmas ou semelhantes raízes. Admito o seu uso numa reunião ou texto em que sejam abordados temas ou pessoas de distintas Gafanhas como modo de facilitar a comunicação. Mas o seu uso deve ficar por aí.
Quanto ao facto do termo gafanhão ser depreciativo para alguns povos, numca foi problema para mim que o adoro ser e tentei sempre demonstrar isso sem discutir o assunto ou mostrar azedume pois com o tempo acabam por verificar que os gafanhões são exactamente como os outros povos: têm os seus defeitos e as suas virtudes. Agora hà quem pense que tudo ficava bem melhor se nos chamássemos gafanhoYorquinos ou coisa parecida mas muito "in".
JM

RUBEM DA ROCHA a 5 de Novembro de 2007 às 18:33
Caro sr. professor:
Gostei muito do artigo que li. È pena que algumas pessoas, que até estão identificadas, tenham vergonha de ser gafanhões. È que gafanhão para mim, não tem esse sentido negativo e diminuitivo que lhe querem dar mas sim o sentido de alguem que conseguiu transformar a gafanha naquilo que ela é hoje.
Parabens pelo blog um abraço do amigo Rubem

RUBEM DA ROCHA a 5 de Novembro de 2007 às 18:33
Caro sr. professor:
Gostei muito do artigo que li. È pena que algumas pessoas, que até estão identificadas, tenham vergonha de ser gafanhões. È que gafanhão para mim, não tem esse sentido negativo e diminuitivo que lhe querem dar mas sim o sentido de alguem que conseguiu transformar a gafanha naquilo que ela é hoje.

Parabens pelo blog um abraço do amigo Rubem

Paulo Teixeira a 6 de Novembro de 2007 às 10:40
Caro Sr. Professor Fernando Martins:
Acabei de ler com muita alegria e prazer o seu artigo sobre a polémica do Gafanhão / Gafanhonazareno.
Subscrevo inteiramente o sua opinião e concordo plenamente que os Gafanhões têm que se evidenciar pela sua atitude e não pelo facto de terem um nome pomposo. Esta questão nunca devia ter existido, pois sempre fomos e seremos Gafanhões e com muito orgulho.
Um abraço amigo e continue como sempre a defender a Gafanha e os Gafanhões.

Paulo Teixeira

Anónimo a 6 de Novembro de 2007 às 13:56
Na minha opinião o mais importante é como diz algures no seu artigo..."respeitar-se e respeitar os outros..."
Não podemos é deixar que queiram impor o Gafanhonazareno, porque entendem que Gafanhão é depreciativo para o povo da Gafanha...
Há coisas e pessoas que são bem mais depreciativas para a Gafanha...e com elas também temos de "gramar".

Cumprimentos,

Daniela Felícia

Anónimo a 7 de Novembro de 2007 às 18:41
O antigo prior da Gafanha é um lunático! Padres Fidalgos na nossa terra são dispensáveis.
Leonel.

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