Caríssima/o:
Talvez por estarmos na Quaresma ocorreu-me este tema, embora à partida haja muito nariz torcido. A ver com a Escola instituição não tem; contudo, muitos de nós seremos escorreitos pela acção educativa quer de um quer de outra, senão de ambos! Se não estais de acordo comigo, tende paciência e lede mais um pouco do Padre Resende:
«Não devemos esquecer que a pronunciada polidez, que já se nota sobremaneira, nestes povos, se deve atribuir em grande parte ao concurso e ao trabalho persistente e eficaz do sacerdote, que, como condutor e mestre, lhes tem infiltrado na alma, paulatinamente, avultadas parcelas de cultura moral e intelectual. Foi o primeiro mestre que com eles esteve eficazmente em contacto, As máximas vividas do Evangelho, que no mundo e em todos os séculos têm sido o código e a regra por onde se regem os povos que querem viver; a Igreja que o mundo intelectual tem reconhecido como aferidora infalível das civilizações que se redimem e salvam, também na Gafanha deviam fazer sentir os seus salutares e benéficos efeitos. Em todos os séculos, repito, o sacerdote católico, embora aleivosamente caluniado e acusado injustamente como retrógrado pelos mumificados cientistas do século passado, tem sido mais que um educador; tem sido um mestre, que educando também ensina, que instrui quando educa. Não falando nos Institutos em que ele brilhou através dos séculos por todo o mundo, vemo-lo, ainda agora, na escola do seu ministério em que pontifica, acarinhando sempre, como amigas aliadas e inseparáveis, as duas irmãs gêmeas: educação e instrução. [...]
Antes que chegassem, porém, os pioneiros da instrução, ou fosse o professor primário, ou fosse o capelão permanente, depois pároco da Gafanha, como viviam estes povos, isolados do convívio social, entregues à crítica situação de primários, aos seus instintos semi-bárbaros? Viviam no seu deserto, na mais completa rudez.[...]» [MG 207]
Isto quanto aos Capelães e Párocos; quanto às nossas mestras já se escreveu:
«Nos primórdios da Gafanha, a Catequese de crianças era ministrada pelo Capelão com a indispensável ajuda das Senhoras Mestras. Assim continuou depois, com o Prior Sardo e com os que se lhe seguiram [na Gafanha da Nazaré], até à década de 50, sendo já Prior o P.e Domingos.
Embora seja impossível, por falta de registos, fazer referência a todas as que se dedicaram a essa nobre missão, não podemos, no entanto, deixar de citar algumas delas, sobretudo as que mais ficaram na memória do nosso povo.
São elas: Rosa Margaça, do Bebedouro; Joana Rosa Bola, da Cambeia; Rosa Cirino, da Marinha Velha; Maria Gertrudes, da Cale da Vila; Emília do Guarda, da Chave; e, ainda, Celeste Ribau e Esperança Merendeiro.»
[Monografia da Paróquia da Gafanha da Nazaré, 262]
Também na Gafanha da Encarnação, «Esta habilitação era feita em casa das "senhoras mestras", o habitual em toda a região. Porém, aqui tinha a particularidade de ser tratada, por todos, com muito carinho, por "Madrinha", madrinha da doutrina. Ainda hoje se recorda com muita saudade a "madrinha" Maria do Céu de Jesus Roque, que exercia a sua acção no Centro e Sul; também Isaura do Ti Amigo (enteada do Ti Frade) é lembrada como "madrinha".
Em 1973, ainda encontramos activas três Mestras: Felicidade Pinto, a Norte, Nazaré Magueta, a Sul, e Carmelinda Cardoso, no Centro da freguesia.»
[Monografia da Paróquia da Gafanha da Encarnação, 172/173]
Para mim, nesta caminhada, é gratificante ter encontrado verdadeiros educadores e educadoras nas pessoas amigas dos Priores (os meus Priores: Guerra, Bastos, Saraiva, Domingos, ...) e das Mestras (a minha Mestra Joana Rosa); fica, pois, a minha saudade e a minha profunda gratidão.
Manuel