de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sábado, 11 Outubro , 2008, 13:56

As coisas não vão mal em todo o lado e sempre bem na Igreja. Um juízo farisaico e cego o de quem assim pensar. Todos temos telhados de vidro.
Recebo, regularmente, um jornal oficial de uma das mais antigas dioceses de Espanha. Num dos últimos números, onde vêm sempre ou quase sempre coisas de interesse, dava-se nota do número de cónegos dessa diocese. 44 ao todo, nada menos. Uns são dignidades, outros cónegos comuns, outros eméritos e ainda alguns honorários. Há dias juntaram-lhe mais 5. Bem se vê que não há crise de vocações canonicais. Lá parece que também a não há de vocações sacerdotais. Não sei há alguma relação entre as duas coisas.
Vi o que faziam e todos têm ocupação na catedral e nas suas capelas e ritos.Lembrei a Espanha a clamar por uma evangelização persistente. Fechei os olhos para ver ao longe e ao perto e deixei que me martelasse aos ouvidos o mandato de Cristo: “Ide, evangelizai, fazei discípulos…” E vi como lá, cá e acolá, muita gente na Igreja se ocupa, com grande zelo, em tarefas secundárias, e pouca gente na linha da frente.
A lucidez manda hierarquizar as acções em função dos objectivos e os recursos em função do que é essencial, para que não se desbaratem talentos e dons, nem fiquem frentes decisivas a descoberto. Que tenho eu a ver com isto? Agora dizem-me, em documento oficial, que como emérito devo ter a solicitude de todas as Igrejas. Pois! Como conheço bem o bispo dos muitos cónegos, vou-lhe falar desta preocupação. Sei bem que o muro é alto para o poder saltar, mas pode ser que o meu desabafo lhe dê algum conforto.

António Marcelino

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