Recebo, regularmente, um jornal oficial de uma das mais antigas dioceses de Espanha. Num dos últimos números, onde vêm sempre ou quase sempre coisas de interesse, dava-se nota do número de cónegos dessa diocese. 44 ao todo, nada menos. Uns são dignidades, outros cónegos comuns, outros eméritos e ainda alguns honorários. Há dias juntaram-lhe mais 5. Bem se vê que não há crise de vocações canonicais. Lá parece que também a não há de vocações sacerdotais. Não sei há alguma relação entre as duas coisas.
Vi o que faziam e todos têm ocupação na catedral e nas suas capelas e ritos.Lembrei a Espanha a clamar por uma evangelização persistente. Fechei os olhos para ver ao longe e ao perto e deixei que me martelasse aos ouvidos o mandato de Cristo: “Ide, evangelizai, fazei discípulos…” E vi como lá, cá e acolá, muita gente na Igreja se ocupa, com grande zelo, em tarefas secundárias, e pouca gente na linha da frente.
A lucidez manda hierarquizar as acções em função dos objectivos e os recursos em função do que é essencial, para que não se desbaratem talentos e dons, nem fiquem frentes decisivas a descoberto. Que tenho eu a ver com isto? Agora dizem-me, em documento oficial, que como emérito devo ter a solicitude de todas as Igrejas. Pois! Como conheço bem o bispo dos muitos cónegos, vou-lhe falar desta preocupação. Sei bem que o muro é alto para o poder saltar, mas pode ser que o meu desabafo lhe dê algum conforto.
António Marcelino