Há muito se diz que é melhor ser ex-ministro que ministro. O caso de Dias Loureiro, que saiu sem fortuna quando deixou o Governo e que logo a seguir enriqueceu, é paradigmático. E julgava eu, ma minha boa-fé, que não era assim. Não terá acontecido com muitos, mas é um caso dos que se serviram dos relacionamentos de ministro para subir na vida dos negócios, aparentemente com uma facilidade incrível. Uns contactos, umas viagens, mais uns amigos daqui e dali, e está bem feita a cama onde pode dormir descansado o resto da vida. Ele e a família.
Não tenho nada contra o ex-ministro Dias Loureiro, que sempre me pareceu um homem digno, sendo certo que, até prova em contrário, temos de o respeitar. Porém, depois da entrevista na RTP, já há quem o desminta, sobre a história dos contactos que manteve no BdP, por causa do BPN. A justiça dirá.
Vem isto a propósito de me habituar há muito à ideia de que cargos políticos são, para os vocacionados para isso, para servir a comunidade, como missão e contributo para o bem comum. Para servir, que não para ser servido. Mas, afinal, parece que não é bem assim. Daí o vigor com que muitos políticos se agarram aos “tachos”, como lapas à rocha dura. Para eles, a vida, fora disso, nem terá sentido. Continuo a ter dificuldades em aceitar estes comportamentos, embora admita que possa estar enganado.
Eu sei que o poder, pelos vistos, é aliciante. Há quem goste de estar na crista da onda, quem goste de ocupar cargos de chefia, quem goste de mandar e de impor as suas razões, e, ainda, quem goste de ficar na história, de preferência com busto ou estátua na praça pública.
Eu gostaria mais de ver políticos que cumprissem, com dignidade, os cargos para os quais foram eleitos, regressando às suas ocupações anteriores com toda a naturalidade deste mundo. E se gostassem de se dar à comunidade, haveria sempre um qualquer campo de intervenção tão importante como os cargos políticos. Não há por aí tantas instituições à espera de voluntários?
É claro que nem todos os políticos terão na manga a preocupação de enriquecer depois de regressarem a uma vida profissional normal. Nem todos enriquecem à custa dos cargos que desempenharam, mas começa a notar-se, infelizmente, que há uma certa vantagem em ser ex-ministro. Não será a maioria, mas, pelos vistos, há quem se aproveite.