de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 19 Janeiro , 2010, 22:15



«Por escolas de outros tempos»


Penso que nunca se publicou tanto no nosso País como agora. Diariamente aparecem nas livrarias novas obras de jovens promissores e de escritores consagrados. As reedições sucedem-se, sinal de que há muita gente a ler. E se as edições se vão multiplicando dia a dia, com facilidade para alguns escritores e com imensas dificuldades para os novatos nestas lides da escrita, é sabido, também, que muitos outros se vêem obrigados a edições de autor, isto é, pagas pelos próprios, sem ajudas de ninguém. Os mais teimosos lá vão tentando descobrir patrocínios para as suas publicações, mas nem sempre é fácil. Outros desistem dessas preocupações e vão escrevendo para os familiares e amigos.
Um desses é o meu amigo Manuel Olívio da Rocha, um gafanhão que reside no Porto há décadas. Quase todos os anos, pelo Natal, brinda-nos com um trabalho que poderia, muito bem, ser impresso e distribuído por editoras que não se envolvessem somente com escritores que aparecem nas televisões ou nas rádios, ou que tenham amigos nos jornais e revistas, ligados a lóbis editoriais.


Neste Natal trouxe-me «Por escolas de outros tempos», onde nos oferece um retrato das escolas das nossas meninices. Evoca professores e alunos, fala das brincadeiras não ensaiadas, recorda exames que nos inquietavam e a «tinta que escorreu do aparo e pôs uma borrata logo ali no meio da cópia!»
Evoca professores que fizeram história na Gafanha da Nazaré e diz com graça: «Há dias em conversa alguém me dizia que o Professor Carlos era baixo e pequenote… Fiquei perplexo! Na minha ideia ele era um “gigante”… »
Ilustrado quanto baste, a preto e branco, como exige a bolsa do meu amigo, este trabalho do Manuel Olívio leva-me lá para trás, para folhear os livros que usávamos, escrever com a pena que entrava no tinteiro da carteira, antes de chegar ao papel. Dos borrões inesperados, dos mapas que duravam anos a fio, das provas levadas a sério, dos desenhos e das caligrafias, dos problemas de seis operações, do quadro preto que acolhia tanta sabedoria decorada e tantos erros que exasperavam os professores.
Depois há transcrições da Monografia da Gafanha do Padre Resende, a relação dos jogos daqueles tempos, ilustrados quando possível, adivinhas, poemas e outros textos.
E muito, muito mais, que seria impossível transcrever. O melhor é ler o livro. O pior é que o livro não foi editado nem está à venda. As editoras não podem. Mas há tanta coisa nas livrarias sem graça nenhuma, meu Deus.

Fernando Martins

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