PELO QUINTAL ALÉM – 3
A COUVE
A
Senhora Mestra Joana Rosa
Ti Pluremes
Caríssima/o:
Com licença, hoje, apresento a couve.
Não preciso de dizer que há muitas variedades de couve... ou será que os nossos jovens já não distinguem a galega do repolho?
Não se dispensava na horta por mais pequena que fosse.
a. Ainda hoje é rainha no nosso Quintal.
E mal vai quando, como neste Natal, não arranjamos para a bacalhoada da Consoada: dias antes saraivada tremenda furou e destroçou as folhas de tal forma que tivemos que ir a outro quintal mais afortunado...
e. Terreno bem cavado e melhor adubado com o rico esterco do curral do reco, ela ia medrando e... Podia não haver muita coisa para um caldo, mas uma ou duas batatas, um olhinho de azeite quando o havia, e uma boa braçada de couves...
Parece que foi ontem...
A senhora mestra perguntou a doutrina a um catequizando e este houve-se tão bem que ela, como prémio, mandou-o a casa da ti Pluremes para lhe catar as couves... Aquilo era só bicharada: encheu uma caçarola com lagartas gordas.
E ninguém imagina a recompensa que recebeu por esta caçada: um prato de caldo cheio até às bordas! Foi uma merenda de truz!
i. Desta hortaliça tudo se aproveita, como sabeis...
Em tardes de fome e de penúria os talos sabiam que nem bolos da Comunhão!
o. No capítulo da”couve e a saúde” é uma fartura...
A couve é um vegetal muito rico em Cálcio, Fósforo e Ferro, minerais importantes à formação e manutenção de ossos e dentes e à integridade do sangue. Contém ainda vitamina A, indispensável à boa visão e à saúde da pele; e vitaminas do Complexo B, que tem por funções proteger a pele, evitar problemas do aparelho digestivo e do sistema nervoso.
Esta hortaliça é laxante pela sua grande quantidade em fibras; boa para a asma e bronquite. Além disso, a couve é muito boa para combater as enfermidades do fígado, como a icterícia e os cálculos biliares, assim como os cálculos renais, as hemorróidas, e as menstruações difíceis ou dolorosas.
E o suco? É um tónico excelente, muito recomendado às crianças em fase de desenvolvimento. E não digo mais senão parece que estamos na festa do S. Paio a ouvir as virtudes da banha da cobra: ele é o caldo da couve cozida que é indicado nas enfermidades da pele; a couve dissolve também os cálculos, combate a artrite e as dores reumáticas e as nevralgias, desinfecta o intestino, cura as úlceras gástricas e dá óptimo resultado no combate a vermes. Em caso de febre, aplica-se à cabeça do enfermo cataplasma refrescante de folha de couve, que serve, também, para tratar feridas inflamadas...
u. Até podemos afirmar que entrava nos banquetes e fazia boa figura.
O nosso mestre Padre Rezende, na sua Monografia, na página 159, escreve:
«Três pratos apenas [na festa do Baptizado], mas abundantes, sendo o primeiro a sopa de couve com batatas inteiras e negalhos ou molhinhos....»E não ficou famoso o
«carneiro com couves»?Também entra em muitas estórias a figurona:
«Comecemos pela sopa da lenda, a sopa de pedra.
Conta-se que um frade, já cansado e com fome após uma longa jornada, bateu à porta de um solar e pediu à cozinheira que o deixasse entrar para fazer uma sopa. Que não se preocupasse, pois precisava apenas de um tacho, água, sal e um seixo do rio. Mas o nosso frade, sentado à lareira, assim que a água deu sinais de ferver principiou a pedir, um a um, vários ingredientes. Agora um bocadinho de feijão, depois um enchido, a seguir uma couve, etc.
O resultado foi uma suculenta e saborosa sopa que ficou como símbolo do engenho humano.
Ainda hoje faz parte da tradição ser servida com um seixo ou pedra pequena no fundo do prato.»
Já conhecias?
E esta?
«Era uma vez um coelhinho que foi à horta buscar couves para fazer um caldinho.
Quando o coelhinho branco voltou para casa, deu com a porta fechada. Muito admirado bateu à porta.
- Quem é? – perguntaram-lhe de dentro.
- Sou eu, o coelhinho branco, que foi à horta buscar couves para fazer um caldinho.
Responderam-lhe do outro lado da porta:
- E eu sou a cabra cabrez, que te salta em cima e te faz em três!»
E vamos que o caldinho já nos espera; com vossa licença já que não sois servidos...
Manuel