de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 02 Dezembro , 2009, 18:30



Menino à janela


Não é iniciativa oficial da Igreja nem de Espanha nem de Portugal. A ideia surgiu entre nós no Facebook. E propõe uma operação simples: colocar na janela ou na varanda um pequeno estandarte vermelho com a imagem do Menino Jesus. Apenas isso, na época do Natal. Para dar visibilidade ao Menino de Belém que anda substituído por tantos símbolos que nada são e nada dizem a não ser que há abundância de quinquilharias à venda em esquina próxima.

Não é de agora esta mistura do Natal com o comércio. Até se pode compreender, como se entende a proximidade de lojas junto dos santuários e que isso constitua uma oportunidade de as pessoas terem as suas lembranças e de quem vive do comércio possa recompor-se de eras difíceis como a que atravessamos.

Mas parece que de há uns anos a esta parte o problema tem outros contornos: algum silenciamento programático, ideológico, do religioso no espaço público. Empurrando-o exclusivamente para o privado e o individual, riscando-o mesmo da história. Os suíços acabam de referendar a proibição de construir no território minaretes (torres de mesquitas). Os crucifixos receberam ordem de expulsão dos lugares públicos, foi chumbada, no início, a referência ao cristianismo na “Constituição Europeia”.

Deve afirmar-se, para bem da fé e da sociedade, o Estado laico, o respeito pelas diferentes Confissões religiosas, os direitos das crenças minoritárias, a total ausência de proselitismo ou de intromissão religiosa na consciência das pessoas. Bem como uma informação aberta sobre os diversos credos, com um total respeito pela liberdade de cada um. Mas à sombra desse legítimo cuidado não se pode riscar da história o património dum povo, a afirmação de grandes valores assentes na natureza e nas aquisições históricas e religiosas - sem se negar a evolução, a inovação, os desafios novos do presente e do futuro.

É aqui que se situa a nobreza dum povo como o nosso que não destrói os Jeró-nimos para realçar a Torre de Belém, nem retira dos seus museus preciosidades de arte religiosa que são uma riqueza profunda de espiritualidade.
É este todo que precisa ser entendido para que o nosso futuro não seja cons-truído sobre um acrílico parecido com cristal. O Natal entra neste património espiritual.

E uma vez que se esconde o nascimento de Jesus como facto central da história – da nossa história – pois que venha para a janela um estandarte que na sua humildade recorda a forma como, a contra corrente nasceu em Belém há 2000 anos, o Messias, o Filho de Deus, o Redentor, Aquele, sem o qual não entendemos a nossa história.

Na entrada em vigor do Tratado de Lisboa, não podemos deixar de saudar o seu capítulo XVII que “reconhece o contributo específico das Igrejas na integração europeia, bem como o contributo vital que prestam à vida social e cultural dos diferentes Estados membros”. E prevê um diálogo “aberto, transparente e regular entre as Igrejas e a União Europeia”.

António Rego

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