Falando desse tempo, às vezes a minha avó recordava uma ida ao São Paio que me ficou gravada em verso: ainda ela mal tinha posto os pés em terra, surgiu não se sabe de onde, um homem todo empertigado de viola ao peito cantando-lhe assim:
Não me sais do pensamento.
Vou falar com o teu pai,
Vou pedir-te em casamento.
“E vai eu ós’pois respondi-lhe assim:”- dizia ela
Vai-te embora homem casado,
Panela velha sem fundo.
A ti já te não são dadas
Barbaridades do Mundo.
Esta cena passou-se por volta de 1900, igual a tantas outras, que eram o espírito do convívio festivo do São Paio, à mistura com comezainas, bailaricos e melancias das Quintas do Norte.
A primeira vez que fui ao São Paio, cerca de 1990, ainda apanhei alguma desta espontaneidade popular, daí para cá isso tem-se perdido em troca com outras formas de expressão mais actuais: regatas, concursos de painéis dos barcos moliceiros, jogos florais e festivais de canções. Mas o São Paio continua fiel à tradição que todos os anos no princípio de Setembro arrasta multidões de forasteiros e emigrantes à típica Vila da Torreira.
João Marçal
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