de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 18 Outubro , 2007, 11:00

O perdão da dívida


1. Não se pense que falamos do “perdão da dívida” aos países pobres. Esse perdão seria bem-vindo, pois verdade se diga que muita da riqueza dos países ricos é conseguida à custa dos recursos explorados nos países pobres. Muitas destas nações em maior dificuldade estarão ainda a acolher a novidade efectivamente democrática e a encetar caminhos de real desenvolvimento, este que foi sendo travado pelo interesse estratégico de grandes (con-sideradas) potências ocidentais. Esse “perdão da dívida externa” tem merecido as maiores atenções e divulgações e, no fundo, não se trata de perdão mas sim de JUSTIÇA. Felizmente muitas têm sido já as vozes, da política às artes, sensibilizadoras para esta justiça do perdão da dívida, permitindo aos países de economia pobre um novo arranque no seu processo de justo desenvolvimento. Embora perdão sem um novo compromisso sociopolítico cai em saco roto…
2. Falamos de outro pretenso perdão (esquecimento, será?) de dívida. O caso do pai rico banqueiro que não sabia que seu filho havia pedido ao banco alguns milhões de contos (alguns, tanto faz o número para quem vive nessas esferas!), e, pelos vistos, pelo passar dos dias e das ideias, a dívida já deve estar quase perdoada!... Acontece tudo neste país!... Claro que, de facto, oficialmente, pouco se sabe e quase nada se deve dizer sobre o caso. Mas, o simples facto dessa possibilidade existir nessa gigante entidade bancária do país continua a fazer vir à luz do dia a desconfiança das entranhas dos processos, das agendas económicas, do modo como – em regime de pretensa igualdade de dignidade no tratamento das questões – uns continuam a ser mais iguais que outros. Pobre (rico) país!
3. Felizmente levantaram-se algumas vozes…mas que até têm lá os seus interesses, não vão os euros parar a outra algibeira! Mobilizaram-se entidades competentes, mas tudo em versão soft (leve), pois está consagrado prioritário a “imagem” em relação à “ética” dos milhões. Um arrastamento de silêncios e cumplicidades demonstra-nos bem a raiz dos nossos travões a um desenvolvimento justo, onde os tempos e lugares da ética e transparência terão de ser a fasquia de referência em qualquer área comum. Segundo os analistas da especialidade, essa entidade já havia passado um complexo “verão quente” ao que agora este caso denuncia maus hábitos de um “sistema”. Mas, não será possível ir à boleia por muito tempo; quando a ética de esvai abre-se a permeabilidade a tudo... No implacável mundo económico, não se resiste muito tempo na suspeita, a todo o custo se procuram seguranças. Assim, ISTO, por quanto tempo?!

Alexandre Cruz

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