Pode ler aqui um breve apontamento sobre o primeiro bispo da restaurada Diocese de Aveiro, D. João Evangelista de Lima Vidal.
Pode ler aqui um breve apontamento sobre o primeiro bispo da restaurada Diocese de Aveiro, D. João Evangelista de Lima Vidal.
PROFETAS SEM MORDAÇA
António Marcelino
A vida nunca foi fácil para os profetas. Perseguidos, amordaçados, calados, apedrejados, eles remam sempre contra a maré. A consciência da responsabilidade nunca os deixou sucumbir ante as dificuldades. Proibidos de falar, respondem, convictos e decididos: “Não podemos é ficar calados.”
Ser profeta não é vida para os ambiciosos de poder, os obcecados por carreiras vistosas, para os que só se ouvem a si próprios. Só para os que cultivam um ideal elevado, têm uma personalidade forte, estão marcados pelo sentido do dever, são humildes e corajosos.
Os profetas incomodam sempre o poder, tanto o civil como o religioso. Jogam fora do sistema. Não o canonizam, nem o favorecem. Os guardiães do sistema não gostam de quem levanta problemas, denuncia mazelas, aponta caminhos novos A gente do sistema quer ficar na história, sonha e prepara o pedestal da sua estátua. Os profetas olham o futuro dos outros, sonham uma sociedade mais justa e fraterna, resistem ao tempo.
Ao sistema, qualquer que ele seja, agradam mais os trauliteiros que se tornam coroa de defesa de senhores intocáveis, os acomodados com pruridos de uma cultura que não têm, os incapazes de contrariar quem manda ou preside e de quem esperam favores.
Os favores, recebidos ou esperados, são mordaças que tornam o profetismo impossível.
O tempo que tudo relativiza e banaliza, e em que só se sonha com êxitos e interesses pessoais, é tempo sem futuro. O presente fica vazio de ideal, cresce nele a selva dos parasitas, proliferam os videirinhos, só úteis aos senhores da corte, sem um futuro procurado e desejado com a gratuidade de quem só quer o bem dos outros.