Nas Asas de um Sonho
Nas asas de um sonho
Através do espaço
Liberta de penas
Sempre hei-de voar.
Voar sem limites
Os céus o destino
Por entre as galáxias
Lá na imensidão
Subindo, subindo
Sem para trás olhar.
Nas nuvens dormir
Em cama de estrelas.
De almofada o sol
Cortinas de bruma
Lençóis de luar.
Ao raiar da aurora
Irei acordar
Aspirar o amor
Ver do alto a vida.
Tristezas e mágoas
P’ra longe bem longe
P’ra lá do infinito
Do peito expulsar.
Aida Viegas
Nota:No próximo dia 28 de Maio, em Aveiro, terá lugar a apresentação de mais um livro de Aida Viegas: Histórias de Bolso das Gentes de Aveiro
Que alegria é essa?
À espera de uma fatia de bolo
O meu preferido é aquele
O prazer de conviver
Penso que só os doentes (da cabeça) é que não gostam de conviver com familiares e amigo. Os normais, que acreditam que a vida pode ser uma festa, para além das amarguras das economias e das crises que de quando em vez surgem, antecedendo a bonança, esses procuram o encontro com os outros.
Pessoalmente gosto de ouvir e falar com amigos, embora frequentemente me exceda, dando pouco espaço àqueles com quem estou. Prometo a mim mesmo que na próxima ocasião serei diferente, ouvindo mais do que falando, mas depois esqueço-me.
Ontem à noite foi um dia desses. Estive com amigos que conheço há muito, saboreando uma deliciosa caldeirada de enguias à moda das gentes gafanhoas. Soube-me muito bem. Tal como os doces variados que completaram o convívio. Pelo que ouvi, a minha opinião coincidiu com a dos demais. E dormi lindamente…
Este encontro foi promovido pelo Conselho Económico e Pastoral da Gafanha da Nazaré, com o objectivo de todos se conhecerem, para melhor conjugarem esforços nas tarefas a desenvolver na construção da comunidade, que se quer mais humana e mais fraterna, porque mais cristã.
Espero que outros convívios se sucedam, com ou sem caldeirada de enguias. Na Gafanha da Nazaré não faltam sabores de regalar.
FM
Cineasta português vai estar diante de Bento XVI no encontro
com o mundo da cultura e abordará questão da fé e das artes
“É inquietante aceitar
a existência de Deus como negá-la”
Manoel de Oliveira já escreveu o discurso que vai dirigir a Bento XVI no próximo dia 12 de Maio, no Centro Cultural de Belém, no qual aborda a
questão “da fé e das artes”.
O cineasta português foi a personalidade escolhida para falar ao Papa em nome dos agentes da cultura, num encontro em que também intervém o próprio Bento XVI, para além de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto e presidente da Comissão episcopal responsável por esta área.
Manoel de Oliveira não entende este discurso como um “prémio”, mas reconhece que ficou “surpreendido” com o convite que lhe foi dirigido.
A poucos meses de completar 102 anos de idade, o realizador já foi galardoado em vários pontos do globo pela sua obra na Sétima Arte. Ainda assim, a sua paixão e vocação pelo cinema “continua bem viva e vai-se confirmando”, como disse à Agência ECCLESIA.
Estes mais de cem prémios são sinónimos de reconhecimento. Perdeu-lhes a conta, mas recorda aquele que recebeu de João Paulo II.
“Foi um Papa excepcional”, afirma.
Manoel de Oliveira compara o percurso dos dois últimos Papas: “Este (Bento XVI, ndr) é talvez mais culto, o outro tinha um sentido religioso e humano notável”. João Paulo II “até pediu perdão pelos erros cometidos pelo catolicismo”, acrescenta.
Depois de afirmar que “Deus é único”, o cineasta deixa lugar à dúvida: “Se é que existe”. “Já S. Paulo o fazia, quando disse: «Se Cristo não ressuscitou, toda a nossa fé é vã»”, justifica.
NÓS E OS OUTROS
Anselmo Borges
Nos anos 20 do século passado, Louis Bolk avançou com a teoria da neotenia, posteriormente seguida e aprofundada por biólogos e filósofos. Constata, no essencial, que o Homem é um prematuro - para fazer o que faz, precisaria de permanecer no ventre materno mais um ano, mas isso não é possível; assim, nasce no termo de 9 meses, em vez de passados 20 -, tendo, portanto, de receber por cultura aquilo que a natureza lhe não deu. Frágil segundo a natureza e sem especialização, tem de criar uma espécie de segunda natureza ou habitat, precisamente a cultura. Como escreve o filósofo Robert Legros, "é na cultura ou no que a fenomenologia chama um mundo que a humanidade de Homo encontra a sua origem, e não na natureza. Quanto à origem da cultura, ela está por princípio votada a permanecer uma questão sem resposta".
Enquanto os outros animais nascem feitos, o Homem, nascendo por fazer, em aberto, tem de fazer-se a si mesmo e caracteriza-se por essa tarefa de fazer-se com outros numa história aberta, em processo.
Constata-se deste modo que nos fazemos uns aos outros genética e culturalmente. Os meninos-lobo mostram-nos que nos tornamos humanos com outros humanos. Eles tinham a base gené- tica de humanos, mas faltou-lhes o encontro com outros homens. O ser humano é, pois, sempre o resultado de uma herança genética e de uma cultura em história.
Assim, no processo de nos fazermos, o outro aparece inevitavelmente. O outro não é adjacente, mas constitutivo. Só sou eu, porque há tu, em reciprocidade. O outro pertence-me, pois é pela sua mediação que venho a mim e me identifico: a minha identidade passa pelo outro, num encontro mutuamente constituinte.
Alberto Martins
17 de Abril de 1969
Maria Donzília Almeida
Decorria o ano da Graça de 1969 em Coimbra, onde me encontrava como caloira, na urbe universitária. Todos os dias subia os degraus daquele extenso patamar que dava acesso à Faculdade de Letras. Mesmo em frente, erguia-se imponente a estátua de Minerva, que parecia dar as boas-vindas aos estudantes. Eu, uma novata e amante do exotismo estrangeiro, ouvia, sempre, nessa saudação, a palavra welcome reescrita e transposta para o acesso à entrada da minha actual “Home, sweet home”.
Coimbra era uma cidade a latejar por todas as suas artérias, desde a parte alta onde se situava a velha academia, até à baixinha onde o comércio prosperava e se alimentava da massa estudantil.