Árvore do Outono
Escola Básica da Gafanha da Encarnação
Havia o sentido comunitário da partilhaComemora-se no dia 9 de Dezembro, quase na mesma altura em que o Universo (!?) proclama o aniversário desta criatura, a elevação a vila, da Gafanha da Encarnação.
Quem atravessou já dois séculos de existência e recorda a vida pachorrenta destas gentes, tem na memória cenas bucólicas dum enorme pitoresco. Carros de vacas a chiarem sobre o asfalto da rua principal, a rua de cima, em que o condutor da viatura lhe seguia o ritmo, às vezes com a pessoa mais velha esparramada no estrado da carroça, eram um espectáculo recorrente. Os excrementos eram lançados na via pública sem que ninguém se importasse com isso, pois não havia a concorrência dos automóveis que hoje enxameiam nas artérias da vila. Eram poucos os proprietários de automóveis e quem os possuía era detentor de um estatuto económico-social privilegiado.
As casas de habitação eram modestas, poucas delas possuindo água sanitária canalizada e por consequência as instalações sanitárias eram quase inexistentes. O banho era um ritual de fim-de-semana, antes do dia do Senhor e não consta que tivesse havido alguma epidemia, muito menos pandemia, com esta parca higiene.
O comércio reduzia-se a meia dúzia de mercearias/tabernas, onde o povo se aviava e os homens passavam o tempo excedentário dos seus empregos, tagarelando, jogando as cartas, bebericando uns copitos! Quase todos ligados à agricultura e pesca.
Havia o sentido comunitário de partilha, em que o forno que cozia a boroa dava para mais de uma família e as pessoas vizinhas cooperavam nos momentos altos da faina agrícola –as sementeiras, as colheitas e a matança do porco.
Já a encaminhar-se para os finais do século passado a Gafanha da Encarnação teve um incremento notável, tendo atraído muitos forasteiros que escolheram estes areais ensolarados, para o seu local de residência.
O céu da Gafanha da Encarnação é mais azul e tem mais brilho! Dizia um colega em tom laudatório, que eu nunca levei muito a sério. A um citadino de gema é difícil acreditar que trocasse o ambiente urbano da cidade de Aveiro, por estas terras pacatas de Joana Maluca. A verdade é que se mudou para cá, de armas e bagagens e eu tive que acreditar na sua explicação para esta elevação duma pacata aldeia.
- O Criador, ao passar por estas terras, foi um esbanjador de luz, no dizer de Almada Negreiros! Sustentava o referido colega, apreciador incondicional desta terra. Tive que me render a esta argumentação, uma vez que se trata de uma pessoa de apurado bom gosto e com formação em História da Arte!
A Gafanha evoluiu, tanto o comércio como a indústria cresceram exponencialmente, tendo-se, até, criado uma zona circunscrita para as pequenas e médias empresas se desenvolverem, a zona industrial. Enfim, tornou-se um oásis para os muitos trabalhadores descansarem no fim dum dia árduo de trabalho.
Para este crescimento demográfico, imobiliário, cultural, muito contribuiu o poder autárquico, que construiu as infra-estruturas necessárias para a freguesia se afirmar com a sua relativa autonomia, na educação e noutros sectores de actividade.
Aqui fica uma palavra de louvor ao seu actual Presidente da Junta, que diz-se aqui, que ninguém nos ouve (!?), quando foi meu aluno, há décadas atrás, já na altura, tinha uma postura que fazia adivinhar, viria a ser um Homem Grande O vaticínio concretizou-se e, devo afirmar, com toda a convicção, que os habitantes desta Gafanha, colocaram os destinos desta terra, em muito boas mãos!
M.ª Donzília Almeida