de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 27 Novembro , 2009, 21:57
Um só crime


1. A hierarquia católica nunca lidou bem com os abusos sexuais do clero, como mostra de novo o relatório publicado na Irlanda (como, já antes, documentos semelhantes no Canadá, EUA, Áustria e Austrália). Durante décadas, vários bispos (incluindo cardeais, como Bernard Law, ex-arcebispo de Boston) preferiram o chamado "bem da Igreja" ao bem das vítimas - exactamente o contrário do que a sua fé lhes diz.
Uma das razões para esta falta de tacto era a forma como se reprimia a sexualidade. Como certeiramente disse o ministro irlandês da Justiça, Dermot Ahern, o episódio traduz a "ironia cruel de uma Igreja que, motivada em parte pelo desejo de evitar o escândalo, de facto criou um outro, de uma incrível amplitude". Para a própria Igreja, o encobrimento foi trágico: nos EUA várias dioceses tiveram que vender património e declarar falência, para pagar indemnizações às vítimas.


2. O problema é mais vasto: o relatório irlandês culpa também as instituições do Estado pela omissão na descoberta da verdade. A questão traduz também o modo como, em sociedade, nos relacionamos com os afectos e com os mais frágeis. As relações entre as pessoas são também, em muitos casos, relações de poder e só nas últimas décadas a pedofilia começou a ser mal vista pela opinião pública. O caso Polanski aí está para o recordar: alguns desculpam ao cineasta o que não perdoam em outros casos. E as contradições judiciais do caso Dutroux, na Bélgica, mostram a dificuldade com que ainda se lida socialmente com estas questões.


3. Nem sempre os media deram igual atenção às medidas tomadas para sanear o problema (posições de João Paulo II ou Bento XVI, decisões dos episcopados) que deram aos escândalos. Outro dado: números da Conferência Episcopal americana (80 por cento dos padres envolvidos eram dos EUA, uns 4400, num total de 5000 em todo o mundo) dizem que, desde 1950, foram "só" quatro por cento do número total os padres que estiveram envolvidos em casos de pedofilia. Apesar de tudo, uma parte reduzidíssima do clero. Mas bastaria um crime de um único padre para que a questão já fosse importante.

António Marujo, no PÚBLICO de hoje

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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 27 Novembro , 2009, 18:20


SILÊNCIO

Só o silêncio
no ramo!
Já chegou
e já partiu
quem nele poisou
um dia
e quem sofreu
a agonia
de ser uma pausa
breve...
silêncio
de quem já foi
silêncio sorriso
alegre
silêncio
da dor que mói...
só o silêncio
se escuta
naquele ramo
oscilante
silêncio
da asa solta
que se foi
ao sol levante!...

Maria Mamede

In Grupo Poético de Aveiro
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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 27 Novembro , 2009, 14:12
Acabou-se a liberdade


«Já ninguém se entende no país dos brandos costumes e agora pegou a moda de todos acusarem todos. O país está a brincar com o fogo: não tarda nada esquece a importância do significado da palavra liberdade. E aí...

O regulador dos media, a ERC, vai investigar se existem interferências do governo no sector. Os juízes, por sua vez, querem saber se existe espionagem política no país. Todos se sentem vigiados, mas ninguém sabe se essa sensação é real. Ou melhor, o director do "Sol" acusou claramente pessoas ligadas ao primeiro-ministro de lhe terem prometido dinheiro (para os problemas financeiros do semanário que dirige) em troca de não publicar notícias sobre o Freeport. E um juiz de Aveiro sustenta que Armando Vara está envolvido em negócios obscuros. O que se passa neste país?»

Martim Avillez Figueiredo

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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 27 Novembro , 2009, 14:06


Europa dos interesses ou do pluralismo democrático?


A decisão do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, a partir de um equívoco do laicismo provocado por outros equívocos, que define a “presença dos crucifixos nas escolas da Itália como uma violação da liberdade religiosa dos alunos”, traz ao de cima um problema mais grave que o dos sinais religiosos em lugares públicos. Este problema cifra-se na prática corrente de as instâncias europeias decidirem, com um dogmatismo carregado de moralismo ou amoralismo, sobre os países da União, em relação a aspectos que bolem com a sua história, cultura, religião e identidade nacional, como se tratasse de definir as cotas leiteiras. Agora foi a Grécia a reagir.


Não é assim quando os países grandes têm interesses próprios e uma voz grossa para dizer “não”, como aconteceu e acontece em relação a muitos aspectos comunitários.

As habituais tensões provêm, em geral, de uma União Europeia que deixa pouco ou nenhum lugar aos seus membros para se afirmarem na sua originalidade ou se defenderem de intromissões, que não deviam existir. Morto o pluralismo, matam-se muitas ocasiões de um enriquecimento comum, benéfico para todos.

A ideia de que os cidadãos europeus devem ter em tudo direitos iguais e padrões de valor idênticos, onde quer que se encontrem, tem destruído, a pouco e pouco, o património cultural e moral de muitos países com história própria. À revelia das suas origens, a UE foi-se transformando, por pressões diversas, numa instância de padrões morais e pseudo culturais. Por infelicidade, são poucos os estados que reagem a este domínio e prepotência. E, quando o fazem, logo são classificados de reaccionários e conservadores. Para os ideólogos, com carimbo europeu, só o que eles ditam é certo, moderno e aceitável. Assim têm baralhado as populações e as suas referências morais.

Leis e normas sobre família, casamento, vida humana, natalidade, divórcio, aborto, tudo sai da central ideológica de Bruxelas, como decisão sem apelo ou critérios de inspiração obrigatória para as leis dos países membros.

Assim, as doenças morais graves do continente europeu acabam por ser epidemia que se exporta e alastra por todo o lado. Quando, neste campo, os países que ainda mantêm lucidez, pundonor e liberdade, reagem, logo surgem pressões e ameaças. Como da Europa vem o dinheiro e já nenhum país pode sobreviver sem cumprir as normas europeias que lhes abrem portas, por vezes bem estreitas, a reacção torna-se impossível para os mais dependentes, que são sempre os mais pequenos e mais pobres. Aparecem na fotografia, mas, nas grandes decisões, são números que pouco contam.

Certamente que nem tudo tem sido negativo e que o balanço tem muitas coisas positivas, que muitos países membros nunca teriam coragem de enfrentar por si, dados os interesses criados, sobretudo políticos e económicos. Mas não é este o problema, na minha opinião. Será, antes, saber se os países têm de se anular na sua originalidade e legítima autonomia para poderem fazer parte de um grupo alargado, com interesses comuns, mas que parece esquecer-se que precisa de todos e do específico de cada um, que não é só a gastronomia, o artesanato e o folclore.

A origem da EU, a partir do Tratado de Roma de 1956, não previa aniquilar ninguém. Os da primeira hora eram cristãos com ideais de respeito e abertura. Os que agora dominam são, na sua maioria, servos da maçonaria, com poderes e estratégias que já não enganam ninguém. Não se nega a ninguém o direito a ser de qualquer Loja, mas sim que esta seja a oficina do novo rosto da Europa, a que negam as raízes cristãs e a face humanista.

O primeiro obreiro, Giscard D’Estaing, de uma Constituição rejeitada, não ocultou a face maçónica nela impressa, os objectivos ideológicos pretendidos e os incómodos históricos que sofria. Não se entende, com tudo isto, qual é a noção de pluralismo e de respeito pela verdade e pelas pessoas. Se o Parlamento tivesse mais gente com cultura e capaz de pensar, as coisas seriam diferentes. Assim, seremos os eternos obedientes que trocam tudo por dinheiro e por sonhos.

António Marcelino

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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 27 Novembro , 2009, 14:00
"Uma ideia: preparar o futuro da educação. Como: preparando melhor os futuros professores. Porquê: porque em breve vai aumentar a procura de profissionais do ensino. De que forma: dando maior importância à formação dos futuros professores e instituindo exames para entrada na profissão. Quando: já!"

Nuno Crato

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