de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Domingo, 04 Outubro , 2009, 23:41


Boris altivo
.

Bonacheirão
Obediente
Reguila
Irreverente
Sorninha!

Donzília Almeida

Editado por Fernando Martins | Domingo, 04 Outubro , 2009, 11:11

Meu Pai, meu Filho, meu Espírito Santo

Estendo as mãos à caveira da noite, e a criatura que sou consome-a a areia do vidro do tempo. nada digo que não te pertença, nada escrevo que não corra à eternidade.
De cada vez que caio subo mais alto, e ao encontrar-te, voo acima de mim mesmo. Aquieto-me contigo, com o pão e o vinho, e não há luz que pese como o absoluto cristal do ar.
Mas quando o teu rosto se afasta, e a treva se desdobra, o Mundo fica um caroço de mágoa que endurece no lugar do coração.
Livra-me da tua ausência. Fica comigo enquanto o dia acaba.

Mário Cláudio

In Cartas a Deus

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Editado por Fernando Martins | Domingo, 04 Outubro , 2009, 00:40

BACALHAU EM DATAS - 41

 
O NAUFRÁGIO DO “MARIA DA GLÓRIA”
 

 

Caríssimo/a:
 
O relato que aí vos deixo é o resumo do muito que encontrei, em livros e na internete, sobre este acontecimento que marcou profundamente a nossa infância.
O MARIA DA GLÓRIA era um lugre de três mastros, 45m/320tb, construído em 1919 na Gafanha da Nazaré, ria de Aveiro, com o nome de PORTUGÁLIA, por Alfredo Mónica. Em 1927 foi adquirido pela Empresa União d’Aveiro, Lda, que lhe alterou o nome e em 1937 instalou-lhe um motor auxiliar.
O jornal “Ilhavense”, na sua edição de 1 de Agosto de 1942, noticiava que segundo um telegrama recebido no Ministério da Marinha e assinado pelo capitão da marinha mercante Sílvio Ramalheira, comandante do lugre-motor “MARIA DA GLÓRIA” na altura, “este barco foi afundado no dia 5 de Julho pelas 15:30, por um submarino que não ostentava bandeira nem qualquer outro sinal indicador da sua nacionalidade” [Submarino alemão U-94, do comando do Oberleutnant Otto Ites.]A notícia do “Ilhavense” prossegue afirmando que “o lugre levava a bandeira portuguesa pintada no costado. [...] Como o capitão Ramalheira nada podia fazer, resolveu dar ordem de abandono do lugre. A tripulação e pescadores – 44 homens – passaram apressadamente para os dóris, as minúsculas embarcações da faina bacalhoeira e que em breves instantes o “MARIA DA GLÓRIA”, sucessivamente atingido, afundou-se”.
“A partir do momento em que o navio afundou, começou então a negra e angustiosa tragédia dos pescadores e tripulantes. Os dias passavam entre as brumas densas, apertadas, que guardavam no meio do mar o mistério sombrio, dramático dos acontecimentos. Os dóris, primeiro em grupos, juntos durante cinco dias, foram-se dispersando pouco a pouco. A névoa isolá-los-ia por fim. Nas longas noites agitadas e tristes as ondas levavam cada barquinho para seu lado. [...]”.
Escrevia “O Primeiro de Janeiro”, a 3 de Setembro de 1942, após a chegada dos quatro primeiros sobreviventes a Portugal: “No dia do afundamento do lugre português havia bom tempo, mas a primeira noite passaram-na sob medonho temporal, com chuvas torrenciais. A bordo dos dóris não havia mantimentos. Foram queimados trapos, em miragem de socorro e no terceiro dia, dos nove dóris lançados à água os sobreviventes só conseguiam avistar quatro. Passaram muita sede e muita fome. O capitão do “MARIA DA GLÓRIA” distribuíra pelos dóris, para melhor orientação, o “estado maior” do lugre. Ao sexto dia da terrível odisseia, o capitão Ramalheira, por estar extenuado, abandonou o seu frágil bote com outro tripulante, que estava também muito mal e passaram para outro dóri, o que seria recolhido ao 11º dia [a 15 de Julho]. Na pequena embarcação abandonada ficava o cadáver de um terceiro marítimo, morto pelo cansaço e pela fome.”
Os sobreviventes foram recolhidos por uma corveta da marinha de guerra norte-americana.
Entre os 36 mortos e desaparecidos do afundamento do “Maria da Glória” estavam várias parelhas de irmãos, entre elas por exemplo dois jovens da Gafanha da Encarnação, os irmãos José Augusto Cardoso Roque com 22 anos de idade e Manuel Cardoso Roque, de 18 anos de idade, ambos solteiros. Eram os mais velhos dos 12 irmãos. Mais tarde, um dos sobreviventes da tragédia contou à família que José Augusto Cardoso Roque seguia a bordo do dóri onde iam os oito sobreviventes. No entanto, o amor fraternal e os gritos de desespero do irmão mais novo, que seguia num outro barco, levou-o a pedir para mudar para o outro bote, de modo a poder acompanhar e confortar o irmão Manuel. E assim, ambos desapareceram para sempre nas águas do Atlântico. A tragédia ocorrida em 1942 aconteceu 25 anos após o regresso de Augusto Roque, o pai dos dois infelizes tripulantes, de França, onde combateu contra as tropas alemãs durante a I Guerra Mundial.
 
Em 1942 naufragaram o "DELÃES" e o "MARIA DA GLÓRIA", afundados por submarinos alemães. Do "DELÃES" todos se salvaram, mas do "MARIA da GLÓRIA" apenas sobreviveram oito tripulantes que com fome e em desespero comeram o cão do navio. A água era a que recolhiam das velas dos sete dóris que ainda estavam a flutuar. O comandante do navio capitão Sílvio Ramalheira foi um dos sobreviventes e demorou muitos meses a recompor-se.
 
Curvemo-nos perante a memória dos tripulantes e pescadores do MARIA DA GLÓRIA, muitos deles nossos parentes e vizinhos:
 
 
 
Sílvio Ramalheira-39 anos- Ílhavo-Capitão-Sobrevivente
António dos Santos-49 anos-Ílhavo-Piloto- Sobrevivente
Domingos Sarabando-28 anos-Gafanha-motorista-Desaparecido
Jacinto Alcides T. Pinto- 27 anos-Ílhavo-Aj. Motorista-Desaparecido
Carlos Gafanhão-32 anos-Gafanha-Cozinheiro-Desaparecido
José Martins Júnior-22 anos-Gafanha- Aj. Cozinheiro- Sobrevivente
José Menício Tróia-38 anos-Aveiro- Contra-mestre-Sobrevivente
António Carlos Afonso-17 anos- Gafanha- Moço-Desaparecido
João Rosa Pereira-19 anos- Gafanha- Moço-Desaparecido
Miguel dos Santos P. Novo-20 anos- Gafanha-Moço-Desaparecido
João Manuel P. Redondo-16 anos-Ílhavo-Moço-Desaparecido
António Maria dos Santos-27 anos- Murtosa-Pescador-Desaparecido
António Luís Brázida-24 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
José Francisco da Graça-40 anos- Fuzeta- Pescador-Desaparecido
Américo Pereira Patusco-38 anos- Murtosa-Pescador-Desaparecido
António Ramos Paló- 35 anos-Fuzeta-Pescador_Desaparecido
Júlio da C. Simões Júnior-36 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
Isidro da Fonseca-34 anos-Murtosa-Pescador-Sobrevivente
António Santos Cego-26 anos-Figueira da Foz-Pescador-Desaparecido
Manoel dos Ramos Baló-32 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
João Maria Costeira-37 anos- Murtosa-Pescador-Sobrevivente
Felisberto Pires Flora-54 anos- Fuzeta-Pescador-Desaparecido
António André Simões-?-Fuzeta- Pescador-Desaparecido
Manuel dos Santos Neves-?-São Jacinto-Pescador-Desaparecido
Joaquim Lino C. Simões-27 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
João Luís Brázida- 29 anos-Fuzeta- Pescador-Desaparecido
Manuel Gualberto Martins-21 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
Lázaro das Neves- 25 anos-Gafanha-Pescador- Sobrevivente
José dos Santos Matias-32 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
José Maduro Viegas-34 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
António Maria Gandarinho-?-Gafanha-Pescador-morto
João Valente Caspão-23 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Eustáquio Caria Matracão-24 anos-Nazaré-Pescador-Desaparecido
José A. Cardoso Roque-22 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Manuel Cardoso Roque- 18 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Manoel dos S. Parrolheiro-28 anos-Matosinhos-Pescador-Desaparecido
Júlio de Abreu Guerra-33 anos-Buarcos-Pescador-morto
José Ramos-?-Setúbal- Pescador-Desaparecido
Laurélio das Neves-33 anos-Gafanha-Pescador-Sobrevivente
José da Rocha Rito-25 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Ramiro Nunes Ramizote-42 anos-Ílhavo-Pescador-Desaparecido
Artur Pereira Ramalheira-?-Ílhavo-Pescador-Desaparecido
Armando das Neves-20 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
José Martins Freirinha-49 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
 
E terminemos com este desabafo do ti Zé Caçoilo, ouvido por Bernardo Santareno [Nos Mares do fim do mundo, pp 219 a 222] :
 
 
«Ah gentes amigas, s'aqui, nestes bancos do bacalhau,. cada home dos nossos qu'as ondas comeram, ficasse assinalado por uma alminha acesa, como é d'uso lá nas nossas terras, podem crer, amigos, qu'atão este mar saria todo ele um luzeiro, maior qu'aquele qu'enche a Cova d'Iria, no treze de Maio!»
 
 
Manuel
 
 

Editado por Fernando Martins | Domingo, 04 Outubro , 2009, 00:25

Esta afirmação é feita a propósito de Jesus de Nazaré. Constitui o mais belo testemunho da sua vida e compêndio da sua obra. Desvenda o sentido de tantas atitudes notoriamente desconcertantes. Evidencia o alcance de gestos aparentemente insignificantes. Abre horizontes de plenitude aos momentos mais sombrios das suas lutas e tensões, inclusive da própria morte.
“Em proveito de todos” faz-se humano e assume um tipo de vida coerente com a dignidade da sua natureza; por isso, repõe a pessoa na sua fonte original – a de ser criatura de Deus, imagem e semelhança divinas, expressas no masculino e no feminino; por isso, propõe mensagens cheias de novidade que reforçam os laços solidários e fraternos entre os humanos e manifestam a relação com os bens de toda a criação que lhes é confiada; por isso, aproveita as ocasiões em que os seus adversários pretendem envolvê-lo e apanhá-lo em armadilhas e, com uma habilidade sábia e surpreendente, desmascara-lhes a mentira, deixando a descoberto a verdade.
“Em proveito de todos” restitui ao matrimónio o seu valor e sua qualidade originais, pondo a claro o projecto de Deus sobre o amor conjugal. Afirma que Moisés não foi fiel ao pacto da criação e que é preciso superar a “dureza do coração”, só possível com uma nova compreensão da relação entre homem e mulher. Esta relação mútua será sempre o sinal da relação original de Deus com o primeiro par humano, fruto de um amor exclusivo e único, dinâmico e fecundo, assertivo, fiel e performativo.
É certo que a licença concedida por Moisés representa um passo em frente na tradição judaica, obrigando o homem a legalizar o divórcio com a sua mulher mediante a carta de repúdio, E, em certas situações, a própria mulher repudiar o marido. Sem este acto formal, ficava pendente da arbitrariedade, do capricho ou de qualquer miudeza ocorrente, contrariando claramente a qualidade da relação assente no amor mútuo como pretendia o sonho primeiro do Criador da natureza humana.
O alcance da proposta de Jesus não é entendido por todos de igual modo. Por isso, dá origem a situações de vida divergentes e, por vezes, opostas que convém compreender à luz do projecto original e não apenas de qualquer lei positiva.
Esta diversidade de situações contém um gérmen evocativo, ainda que discreto e escondido, daquela harmonia interpessoal latente no coração humano e correspondente força de atracção e sedução. Como tal merece respeito, reconhecimento e apreço.
“Em proveito de todos” ergue-se o amor matrimonial, estável na liberdade da opção pelo casamento, apaixonado pela doação generosa, feliz no esforço de cada dia, compreensivo perante as fragilidades humanas, responsável pela aliança celebrada e pelo compromisso assumido. Feliz e fecundo, tendo o amor de Jesus como fonte inspiradora e medida de realização.

Georgino Rocha

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