de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 16 Julho , 2009, 19:00
Cristiano Reinaldo e Michael Jackson ocuparam páginas inteiras de jornais e tempos de antena sem conta, nas rádios e televisões. Foram ocasião de regozijo estrondoso e de lágrimas capazes de inundar um continente. Cansaram outros até à náusea.

O primeiro, conhecido pela arte de jogar futebol e pelas loucuras amorosas, custou 94 milhões de euros ao clube de futebol ou alguém que espera lucros. O escândalo deste negócio continua nos jornais. Revistas de opinião teorizam e falam de imoralidade e de excesso que ofende. O clube que o comprou tem dívidas de 500 milhões! Mas Cristiano, ídolo de multidões, diz sem pejo dele próprio que vale mais do que o clube pagou…

O segundo, um rei da música pop, uma história sinuosa e uma morte inesperada e envolta em mistério, astuciosamente aproveitada para pôr as vendas do seus discos no topo, perpetuar a sua memória e fazer contratos com a televisão de concertos já requentados, repetidos agora até à exaustão. Tão rico ele era, como se dizia, revelou-se agora que as suas dívidas são de centenas de milhões, e não falta quem pergunte, dada a situação da cidade de Los Angeles com um défice orçamental de 400 milhões de dólares, quem irá pagar as despesas de um funeral faraónico.

As multidões entraram em histeria e os críticos não param de opinar, em todos os tons, sobre estes ídolos, tornados super-heróis, num mundo que perdeu o rumo do essencial.

Décadas atrás, definia-se o homem como animal racional. Uma definição seca que dizia muito para o diferenciar dos outros animais, mas se ficava por implícitos que, em linguagem comum, o deixavam empobrecido de muitos aspectos essenciais para a sua compreensão. Davam-lhe a propriedade de raciocinar, que muitos já usam pouco.


Hoje, pelo menos, em definição mais realista e verdadeira, pode ir-se mais longe.

O homem é um ser-com-os outros, um ser aberto ao transcendente, um ser que leva consigo apelos de liberdade interior, de modo a que, se ele quiser, nada o pode limitar interiormente. É cidadão de um mundo globalizado e sem fronteiras, protagonista da história, não da historieta, tão rico por sua natureza, que é um ser irrepetível e único.


Acompanha-o um mistério em que nem ele próprio penetra por completo, mas se vai desvendando, a pouco e pouco, ao longo dos caminhos, direitos ou tortuosos, da sua existência. Um mistério que o ultrapassa, para além da sua vontade e da qualidade e abundância dos seus sonhos e projectos. Capaz do melhor e do pior, de defender a sua liberdade até à morte ou de se deixar agrilhoar por coisas passageiras e efémeras. Capaz de ser águia altaneira que rompe os céus, ou vulgar ave de capoeira, de voos curtos e sem história, mesmo que dele se faça um ídolo ou o transformem em super-homem.

Sempre que a pessoa, homem ou mulher, se esquece da sua verdadeira grandeza, escraviza-se a si mesmo, ou outros o fazem escravo, em proveito próprio. A grandeza está na normalidade do que se é, se assume e se vive, não num alarido alienante.

A proposta educativa de modelos normais, tão normais que emergem da mediocridade, ajudou muita gente a ser gente. Hoje, o sonho de ser um cristiano ronaldo, para ganhar muito dinheiro, ou um michael jackson, para enlouquecer multidões, começa na escola e, por isso mesmo, a escola, para muitos os interessa cada vez menos, os enfastia e a vomitam. O dom de cada um cultiva-se. Não se vive de sonhos, de fantasias ou invejas.

Ganhar muito e ser famoso, sem esforço e depressa, é ideal de muita gente nova. Mas não é este o projecto que lateja no mais íntimo de cada pessoa. E esse é o que conta.

Estamos ante um problema cultural grave. Só a educação a sério o poderá ir resolvendo. Criticou-se António Guterres quando falou da “paixão pela educação”. Os profetas incomodam. Mas a vida dá-lhes sempre razão. Às vezes, tarde demais.

António Marcelino
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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 16 Julho , 2009, 17:22
Presidente da CMI e vice-presidente da Federação do Folclore Português
.
Importância das manifestações
etnográficas e folclóricas


No decorrer do XXVI Festival Nacional de Folclore da Gafanha da Nazaré, a que tenho feito referência neste meu espaço, houve possibilidades de trocar impressões com diversas entidades e outros intervenientes nesta festa de cariz popular. Tive o cuidado de o fazer, para sentir, mais de perto, a importância das manifestações etnográficas e folclóricas, que no Verão, sobretudo, enchem o nosso País.
Do presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, Ribau Esteves, ouvi que a autarquia que lidera “valoriza, cada vez mais, a cultura que promove a criatividade, o empreendedorismo e o ‘culto da cultura’”, tendo em conta que essa cultura “é formadora e sensibilizadora, no sentido de criar nas pessoas um espírito criativo e interventivo”.
Reconheceu que nos grupos folclóricos e nas duas bandas de música da área concelhia a percentagem de jovens “é claramente maioritária”, o que demonstra “o dinamismo das famílias, que sabem transmitir esses valores para os seus filhos”. E adiantou que “também os grupos sabem manter uma relação positiva com o que promovem e defendem”.
Lembrou que na década de 80 do século passado “se olhava para a cultura popular como coisa fascista do antigo regime”, mas que “agora não é assim”. “O povo soube, e bem, ultrapassar essa situação”, disse.
Ribau Esteves enalteceu o dinamismo do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN), que organiza três festivais por ano, nomeadamente, o da Gafanha da Nazaré, o da Praia da Barra e o da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, frisando, ainda, a parceria que esta instituição mantém com a Câmara Municipal, para a manutenção da Casa Gafanhoa, símbolo de habitação de lavrador rico, do início do século XX.
Sobre a chamada Casa da Música, um antigo sonho do GEGN e da Filarmónica Gafanhense, Ribau Esteves garante que só está à espera da resolução para o realojamento duma família que ocupa parte do edifício destinado a remodelação geral, que permita criar o espaço para aquelas duas associações. Referiu que a autarquia nada pode fazer enquanto o despacho do juiz, que é esperado há bastante tempo, não vier, garantindo que a obra até nem é “muito cara”. E nessa Casa da Música, o GEGN e a Filarmónica poderão contar com espaço suficiente, para o desenvolvimento das suas actividades, adiantou.
Quanto à sala de exposições, que consta do projecto da Casa Gafanhoa, o autarca ilhavense não a considera fundamental, uma vez que o Centro Cultural, em fase de remodelação e ampliação, vai oferecer um espaço expositivo, com a área de 450 metros quadrados, distribuídos por dois pisos, constituindo uma nova frente, voltada para o Jardim 31 de Agosto. Aí, segundo Ribau Esteves, a Gafanha da Nazaré passará a ter um espaço condigno, o que não tem acontecido até hoje.

Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 16 Julho , 2009, 17:06

Raízes

as minhas raízes são como jasmim

não são fortes
não são profundas
apenas leveza
apenas perfume
estar aqui é apenas o ínicio
de uma aventura

as minhas raízes são como jasmim

imaginava a vida como uma árvore
com raízes sólidas
com braços de abraços
com um fim e um principio
com amor e ódio

descobri a beleza do efémero

as minhas raízes
são apenas perfume

Orlando Jorge Figueiredo
Julho 2009

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 16 Julho , 2009, 17:02

1. O recente relatório apresentado pela OCDE sobre a avaliação de professores em Portugal (com 24 equilibradas recomendações) poderá sugerir uma reflexão sempre oportuna sobre a avaliação. A cultura da avaliação será um pressuposto fundamental em todos os quadrantes da vida social. Sem avaliação não se progride em ordem ao justo reconhecer do mérito. “Nem ao mar nem à serra”, mas entende-se a habitual resistência à avaliação, como a resistência à mudança de hábitos. As últimas três décadas portuguesas, também na consolidação das instituições de participação democrática, muitas vezes, geraram o “vício” da avaliação fictícia em que às antiguidades equivaleriam as progressões nas carreiras.

2. Esse hábito de avaliação quase virtual (ou até meramente administrativa), terá sido, há que dizê-lo, um lógico gerador de anticorpos à justa e rigorosa avaliação, quando ela chegasse às práticas comuns de procedimentos regulares habituais. Normalmente é assim: o mau estar instala-se na hora de aplicar critérios de avaliação, também porque ela é mais vista como punitiva que como pedagógica. Em quantas circunstâncias a avaliação, infelizmente, é quase aquele inquisidor-mor mais que uma acção normal e pedagógica em ordem ao (sempre mais) desejado progresso. Os anticorpos em relação à avaliação (outra coisa será a burocracia “do 8 ao 80”…) também demonstra que não estamos à vontade e desfocámos…

3. Sabe-se que, mesmo em tempos de crise e mesmo para além de injustiças que possam reinar em determinados sectores (dos “dois” lados da barricada…), a verdade é que ao bom trabalhador todos o querem, a quem se aplica querendo aprender mais cada dia todos o procuram, a quem alia conhecimento à inovação não faltam propostas…Ou seja, também apreciarmos a avaliação e sermos avaliadores de nós próprios poderá gerar aquela força e determinação que da crise e da tempestade sabe gerar horizontes de bonança…

Alexandre Cruz

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 16 Julho , 2009, 10:48
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