de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 12 Junho , 2009, 14:12

“Tem de haver uma mudança radical no nosso olhar para nós mesmos. Portugal vive praticamente a duas cores. Cor-de-rosa e cinzento. Pouco adequado a um país com muito sol e um enorme mar azul à frente. Há cada vez mais gente a cantar em inglês (especialmente na zona centro, vá-se lá saber porquê), o que denota um afastamento gradual da língua mãe, e portanto da nossa razão de ser povo. Porque não voltar a ter uma bandeira bonita? Já a tivemos, era azul e branca. E, já agora, tirar aquela ridícula letra do hino e deixar a música viver em pleno, que o hino é muito bonito.”

Rui Veloso

Citado pelo jornal i

IDEIAS PARA PENSAR

:
Ora aqui está uma ideia para pensar. Eu sei que as nossas prioridades estão centradas na política e no mais feroz e avassalador objectivo, que é a economia. Sem ela, não creio que haja vida digna. A velha teoria do amor e duma cabana já lá vai há muito. Mesmo assim, acho que há ideias interessantes, como esta lançada por Rui Veloso.
Diz ele que o nosso mar e o nosso céu, com sol que baste para tornar o nosso País bastante luminoso, poderiam inspirar uma bandeira diferente, com cores mais consentâneas com a nossa realidade. O verde e vermelho, duas cores que casam tão mal, apenas terão surgido por oposição agressiva às tradicionais cores da bandeira nacional, em que o azul e o branco pontificavam. E assim ficou, até hoje, explicando-se o facto com argumentos que de outra forma também se arranjariam a contento de todos.
Depois abordou a questão da letra que considerou ridícula. Aliás, não é primeira vez que alguém a contesta. Que eu saiba, o primeiro a fazê-lo foi Alçada Baptista, em Chaves, no discurso (depois publicado num dos seus livros) do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Na altura, não faltaram protestos contra o autor da ideia. Mas ele, com a sua bonomia, ria-se e dizia, com graça, que há muita gente que canta o Hino Nacional, sem sequer pensar no que está a dizer. Pois é. Então, por que razão não se há-de pensar no assunto?
Alçada Batista tinha destas coisas. Um dia também contestou a oração que nós, católicos, muito rezamos e que é a Salve, Rainha. Afirma ele que não faz sentido usar palavras e expressões como “os degredados filhos de Eva”, “vale de lágrimas” e “desterro”. Expressões e palavras que denunciam pessimismo e uma visão negativa da vida.
Seja como for, acho que o Hino Nacional merece outra letra, já que a música, como diz Rui Veloso, é muito bonita.
Quanto à Salve, Rainha, não acredito que alguém lhe mexa. Mas como há tantas outras orações expressivas e optimistas, o melhor é optar por elas.
Que dizem os meus leitores e amigos?

Fernando Martins
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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 12 Junho , 2009, 14:00


O papel do padre, em vez de se esboroar, tem-se afirmado com um relevo inédito. Pode mesmo dizer-se que o padre se torna cada vez mais importante.

Por bizarro que possa parecer, tornou-se muito raro ouvir falar da identidade ou da função do Padre na Igreja Católica sem associar imediatamente a palavra crise. Se este termo só muito recentemente entrou na gramática do quotidiano para designar a economia e a sociedade, há muito que ele acompanha a definição da figura e da missão do presbítero. Primeiro, porque as estatísticas desenham uma diminuição das vocações sacerdotais e religiosas que não pode não ter consequências.

Segundo, porque o modo como o padre era olhado do exterior também se alterou (o padre detinha um poder simbólico e exercia um magistério social inquestionáveis). E, por fim, e para resumir, a maneira como o Padre olha para si mesmo reflecte também novas interrogações, expectativas e possíveis caminhos. A grande questão é como transformar esta crise, que não é de ontem nem de hoje, numa oportunidade para a perspectivação e vivência deste ministério fundamental.

Há, num contexto de nem sempre fácil leitura, algumas linhas que vão sublinhando a esperança. Uma delas é a percepção paradoxal de que o papel do padre em vez de se esboroar se tem afirmado com um relevo inédito. Pode mesmo dizer-se que o padre se torna cada vez mais importante na vida dos cristãos e das comunidades. À medida que a visibilidade sociológica do padre parece diminuir, cresce a procura para o diálogo e o confronto da vida, as solicitações para acompanhar pequenos grupos e equipas, para estar presente nos momentos mais variados e em contextos mais íntimos. Lendo alguns sinais deste tipo, vemos emergir três eixos que constituem outros tantos desafios para o Padre de hoje:

1. O Padre é chamado a ser cada vez mais um homem da Palavra. Espera-se dele que tenha mergulhado a sua vida e a sua inteligência na Palavra de Deus e possa ser um anunciador, com capacidade de traduzi-la numa linguagem pertinente e actual, agindo com sentido profético e verdadeira sabedoria evangélica.

2. O Padre é chamado a exercer a paternidade espiritual de modo mais intenso, pela disponibilidade para acolher e acompanhar, sublinhando nos momentos diversos o essencial da esperança.

3. O Padre é chamado, até por fidelidade à tradição da Igreja, a sondar e a valorizar as novas fronteiras onde o Espírito se revela.

José Tolentino Mendonça
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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 12 Junho , 2009, 13:50

1. Aproximam-se tempos de festas populares. Uma oportunidade de, bem mais cuidadosamente, apreciarmos aquilo que são os dinamismos das comunidades que vão fazendo perdurar no tempo um conjunto de valores de pertença. Sendo certo que existirão tradições a aperfeiçoar, senão mesmo a purificar neste ou naquele aspecto, valorizemos essa vontade de expressão comunitária e deixemo-nos sensibilizar para o sentido de que a tradição também se constrói. Diz-se que em tempo de crise também o mesmo fim poderá acontecer às tradições. Nem por isso as coisas terão de ser assim, pois que o segredo das tradições sempre esteve e estará em serem simples e populares. Até porque no sentido espiritual mais profundo, a tradição religiosa procurou sempre aproximar as comunidades simples de ideais divinos, por vezes bem complexos para a mente humana.

2. Assim se compreende que as devoções aos santos – veja-se o caso exemplar universalista de Santo António –, sendo verdade teologicamente que quem salva não é o Santo mas Deus, consegue tirar de casa gente que de outro modo não sairia. É certo que em muitas faces os caminhos das tradições poderão ter contra-sensos, mas na grande maioria da sua expressão a tradição repleta de tradições consegue o milagre de unir, reunir, gerar elos de ligação das raízes das gentes ao sentido de projecto com futuro pessoal e social. Um valor inestimável que em palavras mais “caras” se poderá designar de antropológico, cultural, espiritual, educativo, filosófico e mesmo ético, habita o seio das tradições, valores a compreender para mais e melhor preservar.

3. Importa, por isso, não esperar que elas acabem para depois procurar as suas raízes. Importará investir não tanto em criticá-las como mais em reorientá-las no sentido mais pleno da reconstrução contínua da tradição. As tradições, na sua maior expressão não são museu que o tempo levou, mas transportam consigo a alma das gentes, um sentido de vidas com projecto comunitário. Tão preciso!
Alexandre Cruz

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