de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 12 Maio , 2009, 15:17


Diz-se, no Brasil, que «ser carioca é… procurar em cada janela se há uma vista para o Cristo que está no monte». Facto que uma conhecida canção de Tom Jobim dedilha assim: «Muita calma pra pensar/ e ter tempo pra sonhar,/ da janela vejo o Corcovado, o Redentor, / que lindo!».
Talvez ainda não se tenha conseguido, em Lisboa ou Setúbal, a mesma centralidade afectiva e simbólica que a imagem de Cristo-Rei conhece do outro lado do oceano. Ela ali funciona como ícone de força indesmentível! Mas há 50 anos que, entre nós, o Cristo-Rei se avista (e nos avista). E as comemorações que, esta semana, a Igreja portuguesa promove, dão que pensar.

O Cristo-Rei, plantado junto do Tejo, surge-nos desde muito longe na paisagem, e podemos fazer quilómetros e quilómetros com ele no horizonte. Calculamos por ele a distância que nos separa do nosso destino, e esse facto tem ressonâncias que não são apenas geográficas e exteriores. Olhamos e o tempo parece mais interior e lento. A imagem de Cristo está ali. Os seus braços abertos ensinam-nos pacientemente uma largueza que ainda não temos e uma arte do acolhimento que as nossas gramáticas soletram com dificuldade. Mas o seu gesto constitui, só por si, uma alavanca da nossa realidade. Reabilita as histórias que escrevemos, empresta-lhes uma intensidade súbita, um toque divino.

Podemos estar sempre a vê-lo duma janela de casa, do corredor envidraçado do prédio onde trabalhamos, do alto da rua que entra nas nossas rotinas. Ou ao contrário: podemos só avistá-lo ao longe, ou de quando em quando, se nos calha andar por certos lados. Mas se perguntarmos: «qual é o melhor lugar para avistar o Cristo-Rei?», apercebemo-nos depressa que o lugar ideal, o que oferece um retrato mais fiel é sempre o coração humano. É verdade que há miradouros notáveis e horas e estações mais privilegiadas do que outras. Mas o essencial é invisível aos olhos. E o Cristo-Rei pede-nos para ser visto com o coração!

José Tolentino Mendonça

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 12 Maio , 2009, 14:59

Anda por aí muita gente enfurecida contra a ideia de os deputados da nossa Assembleia da República não poderem acumular com as suas profissões. A proposta avançou agora com o Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, que não gosta de ver os deputados-advogados ou advogados-deputados ligados a uma e a outra actividade. Acha que são tarefas incompatíveis. Também acho. Quem se dispõe a servir o povo deve pôr tudo de lado, ficando, exclusivamente, com a tarefa para a qual foi eleito. Ninguém pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Ou se está num lado ou no outro. Com a cabeça no Parlamento, não é possível estar a pensar em questões profissionais. E se está a pensar nos clientes, não pode estar a servir, em pleno, a causa pública. Sei que há quem pense que sim, obviamente por conveniência.
Não vejo o Presidente da República e o primeiro-ministro a acumularem. O mesmo se diga dos ministros. Dir-me-ão que não têm tempo para isso. Também os deputados, sejam eles advogados, médicos, engenheiros ou arquitectos, jornalistas ou professores, deviam deixar tudo para servir a sociedade, em espírito de missão, que é muito nobre. Este princípio aplica-se, naturalmente, aos presidentes de Câmara, Governadores Civil, presidente da Assembleia da República, Magistrados, etc.
Um deputado dizia há anos que tinha responsabilidades profissionais que não podia abandonar. Que não abandonasse, estava bem de ver. Não faltaria nem faltará quem esteja disponível para assumir em pleno os cargos políticos ou públicos, de relevante interesse nacional. Agora, isso de quererem estar em vários sítios ao mesmo tempo, é que não. Não há por aí tanta gente desempregada e à espera de um único posto de trabalho?

Fernando Martins
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Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 12 Maio , 2009, 14:15


O POVO DE AVEIRO HÁ MUITO
QUE JÁ CANONIZOU A BEATA PRINCESA


Tenho para mim que o povo nem sempre segue o Vaticano, quando o Santo Padre canoniza um cristão ou uma cristã, para nos servirem de exemplo. Com frequência deparamos com situações interessantes, que demonstram que o povo tem as suas razões e intuições, ao “declarar” quem são os seus predilectos no seio de Deus. E a Igreja, atenta à acção do Espírito no Povo de Deus, não deixará de canonizar os que foram escolhidos pelos crentes. Mas às vezes demora. Ainda espero, por isso, que a Beata Joana, Princesa de Portugal, venha a ser canonizada pela Igreja, porque em verdade já o foi pelo povo aveirense.
Aveiro está hoje em festa. A partida para o seio de Deus da Princesa Joana, como cremos, aconteceu a 12 de Maio de 1490, como reza a história. Tinha apenas 38 anos de idade. Foi beatificada em 1693 pelo Papa Inocêncio XII.
Como é padroeira da cidade, a autarquia engalana-se e promove diversos festejo. Os discursos políticos, tenham eles as cores que tiverem, não ignoram o exemplo da filha de D. Afonso V, que escolheu um modestíssimo convento dominicano de Aveiro para viver, sem esquecer os mais desvalidos da sorte, que a laguna aveirense mais desvalidos tornava, com as suas águas apodrecidas.
Diz a lenda que o seu féretro, ao passar pelos claustros do convento, a caminho da sepultura, contemplou a tristeza das flores que se deixaram cair em homenagem à princesa. O povo, que ela tantas vezes socorreu, em horas de dor, decerto também chorou a sua benfeitora.
Hoje, como todos os anos, as ruas da cidade mostraram quanto Aveiro gosta da sua Joana. A Irmandade, que tem o seu nome, continua a valorizar o culto a Santa Joana. E o povo agradece, enchendo as ruas para a ver no andor e nos rostos de crentes que vestem os trajes com uma dignidade notória. Depois, no final da procissão, o seu túmulo, com os restos da Princesa, volta a ficar rodeado de devotos. Em silêncio. Apenas podemos adivinhar as conversas entre eles e a Santa Princesa.

Fernando Martins

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