de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 27 Abril , 2009, 21:30

1. Corria o ano de 1360, a 24 de Julho, segundo os historiadores em Cernache do Bonjardim nascia Nuno de Santa Maria. Aos treze anos torna-se pajem da rainha D. Leonor, sendo acolhido na corte e acabando pouco depois em cavaleiro. Quando da morte do rei D. Fernando I (a 22 de Outubro 1383), sem ter gerado filhos varões verifica-se o vazio no poder, a que seu irmão D. João Mestre de Avis responde envolvendo-se na luta pela coroa pretendida pelo rei de Castela. Os contextos difíceis da história da época de trezentos, sofrendo de profundas mazelas e de grave crise social, reclamavam visões e posturas claras de defesa da identidade e do património nacional, não que tal represente com os olhos de hoje um nacionalismo cego mas um dever de zelo comunitário inalienável.
2. Nuno Álvares Pereira toma o partido da defesa da nacionalidade no proteger D. João, o qual o nomeou Condestável, estratega e comandante supremo do exército, missão que levou a efeito com sucesso registando-se a 14 de Agosto de 1385, ao fim de muitas, a simbólica vitória de Aljubarrota que poria fim à crise da sucessão. Faz parte da história e da identidade dos portugueses – mesmo que sem mitologias – que, com a chegada de D. João I à coroa, se inicia uma nova era no desígnio das gentes da costa ocidente europeia, facto este (da base de sustentabilidade para o encontro de culturas operado nas descobertas) que também muito se deve à educação em valores universalistas dada aos filhos de D. João e Filipa de Lencastre. Um conjunto de valores e de confianças perpassaram nas gentes da época que, à semelhança de Nuno e D. João, terão sido pilares da edificação comunitária.
3. Muito se escreveu e se disse, nos vários prismas, sobre o acontecimento que no passado domingo elevou à santidade o militar com alma, apelidado na sua morte de “Santo Condestável” (Páscoa de 01-04-1431). Apurar a memória também será “desatar” alguns dos problemas actuais!

Alexandre Cruz

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 27 Abril , 2009, 19:41
Foram vários os caprichos da União Europeia que, por exemplo, roubou aos ovos moles a possibilidade de se aconchegarem em tabuleiros de madeira e os fez acamar em desconfortáveis grelhas de inox. Mas este mês chegou a hora da retribuição. As mais antigas e tradicionais doceiras, como a dona Silvininha, podem dormir descansadas, que a receita original já está protegida pela lei. Por Graça Barbosa Ribeiro (texto) e Paulo Pimenta (fotos), no PÚBLICO

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 27 Abril , 2009, 19:29


Em seis séculos, o Condestável perdeu capacidade de mobilizar o país e a Igreja. O homem a quem se reconhecem virtudes éticas mesmo na guerra e que foi capaz de renunciar a títulos e bens para andar descalço por Lisboa a pedir para os pobres não criou agora, com a sua canonização, grandes entusiasmos por parte do Estado, nem dos católicos. Esse vazio foi, aliás, ocupado (legitimamente) por sectores conservadores da Igreja e pela causa monárquica.
Certo que o acontecimento de ontem era religioso. Mas quando o Estado se associa com entusiasmo a celebrações de futebóis, causa estranheza não ver mais empenho em relação a uma figura que marcou a História do país - para o bem ou para o mal, admitam-se as opiniões.
A Igreja também não foi capaz ainda de vincar um discurso rigoroso e actual em relação ao novo santo - as duas intervenções do Papa, ontem, são disso exemplo. A hagiografia tem oscilado entre a "exaltação patriótica" do militar - que o patriarca de Lisboa teve a preocupação de rejeitar - e as virtudes e histórias que às vezes se confundem com lendas. Como dizia o cardeal Policarpo, faz falta que a história investigue mais a figura do Condestável. Falta outra coisa, que a canonização evidenciou: o segredo em que os responsáveis católicos colocam os processos das curas que permitem as beatificações e canonizações não ajuda a dar credibilidade a tais acontecimentos. Sentiu--se isso com a beatificação dos videntes de Fátima, sentiu-se de novo agora.
Ontem, o cardeal Saraiva Martins declarava-se "feliz" pela conclusão do processo, após "tanto trabalho" que teve para concluir em três meses o que levaria "cinco a seis anos". Ora, as dúvidas surgidas em tantos sectores da opinião pública (incluindo a católica) não podem ser olhadas de soslaio pelos responsáveis da Igreja. Para que os santos sejam mesmo modelos para quem os quer seguir.

António Marujo
27.04.2009

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