de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 26 Março , 2009, 16:50



Há sessenta anos um padre francês, Henri Godin, acordou a Igreja da sua terra, com a publicação do livro “França, país de missão”. Escândalo para uns, grito que incomodou outros. O mesmo padre deu origem à “Missão de França”. Desencadeou-se, então, um movimento imparável: o Cardeal Suhard institui a Missão de Paris (1944); multiplicaram-se os “padres operários”, mais de uma centena entre 1944 e 1954 e cerca de 800 em 1978; o Cardeal Suennes, belga, publica o seu livro “Igreja em estado de missão”; um pároco de Paris partilha a sua reflexão e inquietação no livro “Paróquia, comunidade missionária”; dois padres da Vandeia, a terra das muitas vocações sacerdotais e religiosas, então professores do Seminário de Luçon, reflectem, no livro “Seminários em estado de missão”, a sua vontade de formar os seminaristas para um mundo novo, dando início às “férias missionárias” para que pudessem contactar, de perto, com a realidade das suas dioceses. Também por essa altura, o Cardeal Cerejeira, a seu modo, dizia que “ A África fica às portas de Lisboa”. Ontem um profetismo de apelo à evangelização dos lisboetas da periferia. Hoje, seria mais ainda como atenção especial à presença numerosa dos africanos.

Entrei na vida pastoral, como padre, neste clima que, então, por cá não se sentia nem se respirava por aí além, mas que, ao chegar a Roma (1955), pouco tempo após a intervenção de Pio XII sobre os padres operários (Março de 1954), me fez acordar para uma realidade, que nunca mais deixou de ser para mim, incómoda e interpeladora. A Europa estava-se paganizando, não obstante a estar Igreja implantada em todo o continente.

Há poucos dias, a “Vida Nueva” (7-13 de Março), revista semanal da Igreja de Espanha, dizia que a “Espanha já é terra de missão”. Vimo-lo dizendo em relação a Portugal, como um facto evidente da realidade religiosa e como eco das intervenções dos últimos papas aos bispos portugueses. Sobre tudo isto, juízos diferentes, ora de assentimento, ora de se pensar que se trata de um exagero, ora levando a reflectir e a unir esforços.

Mesmo quando as coisas não eram ainda tão claras, João XXIII, por certo incomodado e perplexo pela posição de Pio XII sobre os padres operários, deixou-lhes o seu parecer nestas palavras, então as mais objectivas e sensatas: “Eu compreendo-vos, mas, nas circunstâncias presentes, não vos posso atender. Entretanto, já convoquei um Concílio. Este e o meu sucessor farão aquilo que eu agora não posso fazer” (Fevereiro de 1960). Assim aconteceu. Em 1965 os bispos franceses oficializam os padres operários e Paulo VI, tempos depois, convida um deles para pregar, no Vaticano, o seu retiro espiritual. A semente estava lançada. Vinha da JOC e dos seus assistentes religiosos, desde 1925. A situação social foi-se modificando, outros caminhos se abriram. Porém, a evangelização permanece como o grande desafio posto à Igreja, que não tem fronteiras nem geográficas nem humanas e para a qual não há soluções definitivas.

O anúncio da fé que leva à conversão e personalização do crente e a edificação de comunidades cristãs, testemunhas do Evangelho no mundo, exigem dos evangelizadores a fidelidade diária ao projecto de Deus e a inovação cuidada que a realidade pede e a verdade revelada apoia em cada dia e circunstância.

O laicado cristão tornou-se, no mundo de hoje, indispensável como motor e executor da missão evangelizadora da Igreja. Não apenas tarefa do clero e de uns tantos que o rodeiam e seguem, de modo obediente e pouco crítico. O papel dos leigos é, de facto, prioritário no anúncio e difusão do Evangelho. Com eles se recuperará a família com todos os seus membros, e a Igreja se tornará presença válida nas instâncias seculares, carentes da inspiração e dinamismo evangélico. A pastoral de conservação, mesmo que generosa, já não é caminho. Um mundo em mudança tem gritos novos. Assim a Igreja, lembrando a história, lhes dê ouvidos e atenção. Estamos todos em missão.

António Marcelino
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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 26 Março , 2009, 12:51
Fernando Nobre

Incentivar a Participação

1. Sabe-se como é essencial, e pedagogicamente importante até como verdade democrática, a participação. Mas muitas vezes tem-se medo dela, pois pode ser desinstaladora de paradigmas cristalizados. Quantos regimes sociopolíticos e/ou determinadas estruturas institucionais dizem-se arautos da participação mas, efectivamente, quando ela dá frutos surpreendentes ao modelo pré-existente o cenário fica sem resolução… Claro que não se pretenderá uma participação qualquer, desarticulada, que possa gerar efeitos contraproducentes, mas o discernir dos essenciais. A participação terá de possuir uma dose de racionalidade para ser eficaz. Mas, e talvez nos tempos que correm seja mesmo o essencial, pretender-se-á, ainda que como aguilhão despertador, que a participação vença a indiferença.

2. Os tempos que correm, de tão pródigos em termos de tecnologias de informação e comunicação, e mesmo que na verdade de outras novas formas de participação on-line, dão a conhecer uma era apressada e desgarrada em termos de fecundidade de comunicação entre as pessoas. Não será juízo de valor o observar-se que com um certo desmoronamento da instituição familiar, com o défice dessa imprescindível escola informal e familiar de valores (onde se aprende sem códigos legais a agradecer e a desculpar), a participação como valor cívico acaba por sofrer os próprios efeitos colaterais. A participação como fenómeno social mais amplo está umbilicalmente ligada à informalidade da educação diária.

3. Os que vão liderando processos e organismos humanitários (como o presidente da AMI, Fernando Nobre) vão gritando “contra a indiferença”. Caberá a todas as escolas de saber, das formais às informais (de que destacamos um projecto com 20 anos, Movimento de Voluntariado Diocesano Vida Mais), estimular pela positiva à participação, esta que poder gerar dinamismos mais proactivos e ampliadores na co-responsabilidade.

Alexandre Cruz

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 26 Março , 2009, 12:33



“To be or not to be, that’s the question”- Hamlet
Shakespeare


Várias vezes, aquela aluna a solicitara, para obter informação mais avançada, no domínio da Língua Inglesa. Queria saber mais… queria conhecer o significante em Inglês, daquelas palavras que lhe povoavam a mente. Palavras soltas que ouvia nas canções dos seus ídolos. Espantava-se a teacher, com aquela inusitada curiosidade, acerca da língua estrangeira que preenchia o seu currículo e cuja aprendizagem agora iniciava. Sim, a Cristiana, aquela menina de longos cabelos de azeviche e olhos de amêndoa, com a profundidade do oceano, dava os primeiros passos no decifrar da Torre de Babel. Era a teacher uma privilegiada neste campo, pois tinha ali, na sua frente, uma discípula ávida por desvendar as língua dos Beatles, dos Rolling Stones e de tantos que fizeram as delícias da sua juventude.
Que reconfortante ter no meio daquela massa de gente, às vezes amorfa, às vezes hiperactiva, alguém que lhe bebia as palavras e queria descobrir-lhe os segredos.
- É a letra duma canção, Sra Professora! Não percebo esta palavra…
Estando, ainda na iniciação à Língua Estrangeira, espantava-se a teacher com o acervo de palavras, de significantes que aquela aluna já possuía. Não era vulgar na sua idade e na sua condição de beginner! O desejo de entender as letras das sua canções preferidas… fazia aquele milagre.
Um dia, segurando na mão um papel escrito, dirige-se à mestra e diz-lhe: - Podia passar-me para Inglês este texto? É a letra duma canção que escrevi. É que… eu quero ser cantora!
Abriu a boca de espanto... sorrindo ao mesmo tempo, pois isso evocava-lhe os tempos, não muito longínquos, em que as suas colegas a haviam solicitado, para escrever os hinos da escola: o Hino ao Ambiente, musicado e já gravado em cassete, e o Hino da Escola, ainda nas mãos do compositor.
Será que a sigla dos nomes de ambas as intervenientes neste episódio, CD, seria premonitória de algum compact disk a sair num futuro risonho?
Hoje, no fim da aula, veio revelar-lhe, com a satisfação dos afortunados, que fora convidada para cantar num sarau. A Escola que “... fazes desabrochar sementes em ti caídas...” tal como diz o seu hino, fora ao encontro dos seus desejos. E… a Cristiana era uma menina feliz, no dealbar de uma promissora carreira, quem sabe?
A teacher ali estava, para acarinhar e orientar talentos emergentes, e... ser ou não ser uma cantora é o dilema existencial que vai dominar o pensamento e a vontade desta lírica criatura!

Mª Donzília Almeida
23.03.09
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