de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 19 Março , 2009, 14:41
Flores do quintal do meu pai e agora meu

ASSOCIO MUITO O MEU PAI A S. JOSÉ

Celebra-se hoje o Dia do Pai. Também a Igreja celebra S. José. Associo muito o meu pai a S. José. Ambos trabalhadores com responsabilidades familiares. Ambos humildes e dados a um certo e normal silêncio. Ambos conscientes dos seus deveres sociais e religiosos. Ambos crentes num Deus Criador. Ambos disponíveis para enfrentarem dificuldades. Ambos com grande capacidade de sacrifício. E ambos sabiam amar muito.
O meu pai faleceu há bastantes anos. Foi nos idos de 75 do século passado. Inesperadamente. De forma apressada e sem hipótese de cura. Nunca o tinha visto doente. Nunca se queixava de qualquer incómodo que nos levasse a pensar num possível enfarte. Era um homem saudável e até brincava com as nossas fraquezas. Mas a primeira doença que teve foi fatal.
O meu pai foi desde menino um homem de mar, mas não foi um pai ausente. A mãe, que dele nos falava todos os dias, enaltecia os seus sacrifícios e a sua bondade, tornando-o presente em todos os momentos das nossas vidas.
A partida para o mar era muito dolorosa. Quando o dia se aproximava, o silêncio instalava-se em casa. Olhávamos uns para os outros sem palavras. E na hora de nos deixar por uns meses, o embaraço entre todos acentuava-se.
Recordo, como se fosse hoje, esse dia triste. Nos meus ouvidos ainda moram os momentos da despedida. Com beijos e palavras de consolação que ele nos oferecia. Eu nunca conseguia articular qualquer frase. Fui nessa altura, como hoje, de emoções que me bloqueavam e bloqueiam a fala.
Assistia, à porta de casa, à partida do autocarro que recolhia pela freguesia os tripulantes. E retenho nos tímpanos, com compreensível vivacidade, o roncar do motor da camioneta. Mesmo depois dela desaparecer dos meus horizontes físicos, aquele som permanecia comigo. Até hoje.
Mas no regresso voltava a alegria. Havia prendas canadianas para todos. Abraços, beijos, perguntas, muitas perguntas, e a certeza de que o pai ficaria uns tempos em casa. Punha-se a conversa em dia.
Não faltava a visita ao Prior Guerra. O meu pai oferecia-lhe um pacote de tabaco, daquele que era distribuído pelos pescadores. O Prior Guerra fumava muito e fazia os cigarros com as mortalhas, embrulhando-os, cuidadosamente, para ficarem bem cilíndricos e apertados. Quando o meu pai chegava da visita, dizia:
- O senhor Prior agradeceu-me o tabaco e aproveitou para conversarmos um bocado; e no fim até me disse que eu já estava confessado.
Recordo que meu pai costumava sentar-se nas traseiras da casa, em horas de descanso ou de pura contemplação. Eu brincava com o meu único irmão, o Armando, que já foi para junto dele. Tinham o mesmo nome e eram conhecidos pelo mesmo apelido de família: Grilo. Nessas brincadeiras mostrávamos as nossas habilidades, perante o sorriso permanente do pai. De vez em quando lá vinha uma gargalhada que reflectia a sua felicidade de nos ver e de estar connosco.
Quando algum se magoava, com um ou outro gesto menos calculado, o meu pai levantava-se pressuroso para lhe acudir. E a brincadeira, sob a alegria do meu pai, continuava. Até à exaustão. E ele então dizia:
- Chega por hoje!

Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 19 Março , 2009, 14:10

Há poucos dias celebrou-se o Dia Mundial da Mulher. Multiplicaram-se as entrevistas e reportagens nos meios de comunicação social, não faltaram artigos a falar do tema, ouviram-se opiniões de psicanalistas, sociólogos e juristas, mulheres das mais diversas condições foram ouvidas, tanto na rua, como nos estúdios, outras escreveram sobre as suas vidas.

Nunca se diz tudo, é certo. Mas, quando se segue, com alguma atenção, um acontecimento como este, e se analisam ecos vindos de todo o lado, fica-se com a sensação fria de que se falou muito, mas se disse pouco, e se passou ao lado de problemas sérios e importantes, perdendo-se, talvez, a ocasião de reflectir com a preocupação de ver na globalidade e de tocar o essencial do tema em causa.

Também na Igreja, embora esta tenha sido e seja, historicamente, o espaço onde a mulher mais tem sido defendida e dignificada, o problema não está por completo resolvido, se é que há problemas humanos com resolução definitiva. Não se trata apenas de ver o que falta outorgar-lhes como serviço ou tarefa e, de fora, se atirar pedras, por razões que nem sempre se explicam por uma verdadeira compreensão do que é a Igreja e a sua missão nas diversas culturas onde se professa a mesma fé. Também, por esta razão, o problema não se resolve uma vez por todas, nem à base de leis ou de opiniões superiores, muito menos de grupos de pressão. Já é bom que se aceite que o problema da mulher não está por completo resolvido, embora o tempo não aceite muitas delongas.

Porém, o problema da mulher é mais grave na sociedade ocidental e em diversas culturas do mundo, suficientemente conhecidas. Como nos toca mais o que melhor conhecemos, olhemos para o nosso espaço geográfico e reflictamos a partir daí.

Ninguém pode negar que muitos passos se deram e estão dando a favor de um estatuto mais humano e justo da mulher. Estão à vista, se confrontados com séculos atrás. Porém, a visão redutora de uns, a pressão ideológica de outros, a deficiente leitura dos fenómenos sociais, a emancipação sociológica sem limites humanos, naturais e sociais, vêm provocando novos problemas e não ajudando a uma equilibrada solução dos antigos. Hoje, para os que se julgam pioneiros da inovação social, há duas classes de mulheres: as que deitam abaixo todas a barreiras, e essas são louvadas e apoiadas, e as que mantêm princípios e valores, teimam em ser interiormente livres ante as pressões de uma sociedade acrítica, e essas são julgadas como retrógradas e consideradas obstáculo à modernidade e seus postulados.

Não vi ninguém falar das esposas e mães que não abdicam de ser uma coisa e outra; das mulheres fecundas, espiritual e socialmente, dedicadas a causas a que dão vida; das jovens que, para viverem um ideal em que acreditam e poderem dar sentido à sua vida, têm de entrar na clandestinidade pessoal, porque, neste país democrático, professores, colegas e até familiares, põem a ridículo as suas legítimas opções e fazem tudo para desvirtuar os seus propósitos; das mulheres, transformadas em objectos diários de prazer de um machismo irresponsável, de gente importante ou que se julga tal; das que deixam tudo e partem para serem mães e irmãs em terras e missões difíceis onde o amor escasseia; das vítimas de leis que lhes tiram a palavra para a darem a prepotentes, que fazem da sua influência e dos seus interesses pessoais a sua força; das que são, pela sua oração e radicalidade de entrega a valores permanentes que não perdem cotação, os permanentes pára-raios de uma sociedade progressivamente extraviada…

E todas estas são mulheres. O Dia Mundial também lhes dizia respeito. Se as mulheres perdem a dimensão e a referência espiritual das suas vidas, a sociedade fica mais pobre, na família, no trabalho, na convivência… Quem as ajuda a ser mulheres, sempre e só mulheres.
António Marcelino

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 19 Março , 2009, 12:31

Cai não cai é o que muitos pensam. Até agora não caiu e já a conheço há muito. Não cai porque tem as raízes bem presas à terra. É como os homens "verticais". A idade e o cansaço da vida podem obrigá-los a ficar inclinados, mas mantêm-se sempre de pé, como as árvores!
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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 19 Março , 2009, 09:52

Homenagem

“As árvores morrem de pé!” Poder-se-ia aplicar com toda a propriedade a esta criatura, pela sua postura, pelo seu modelo de vida,!
O seu porte erecto, a sua verticalidade em todos os campos de actuação, a sua dignidade, não envelhecida pelo contágio das cãs que lhe emolduram o rosto, despertam a admiração que nutre por este homem, a sua orgulhosa descendente.
Reúne toda a sabedoria que as suas quase nove décadas de existência, atravessando dois séculos, lhe consentem.
Detentor de uma cultura e intelectualidade anacrónicas na época em que nasceu e cresceu, passeia-se na vida com a mesma frontalidade, com que sempre viveu. Soube respeitar os seus semelhantes, cumpriu até à exaustão os deveres familiares, sociais e políticos de que foi acometido. Pontualidade, dignidade, integridade, constituíram um valioso património humano que legou à sua prole.
Recordo ainda, com muita vivacidade, a forma sábia, pragmática, com que resolvia problemas do quotidiano, que se lhe deparavam e que atestam os seus profundos conhecimentos de psicologia.
De formação académica, possui apenas (!?) o exame da 4ª classe feito com distinção e rivalizava, em competência e aplicação, com a sua malograda companheira, que assinaladamente o abandonou, a 11 de Setembro do ano que ora terminou.
O seu maior sonho fora o prosseguimento de estudos, numa instituição de ensino técnico, para alargar os horizontes e pôr a render os talentos com que a Providência o dotou. E… foram tantos! As suas responsabilidades laborais, desempenhadas por turnos, a sua jovem família rapidamente acrescida e o desejo veemente de que nada lhe faltasse impediram-no de concretizar esse sonho. Ostenta, ainda hoje, na panóplia de documentos que preenche a sua carteira, um cartão de matrícula na E. Comercial e I. de Aveiro, que exibe, num misto de nostalgia e orgulho.
Tivesse Salazar dado a oportunidade, nos tempos que já lá vão, a algumas cabeças dotadas e outro galo cantaria! Se, na altura, existisse já a escolaridade obrigatória dos nossos dias, esta criatura teria ido longe. Foi-o mesmo assim, nos valores, na formação humana que transmitiu aos seus descendentes, aliados à oportunidade que lhes deu de singrar na vida, cada qual, à sua maneira. Todos venceram, para gáudio do progenitor!
Recordo, ainda, a forma sábia, inteligente, como reagia e dava resposta a quem o interpelava.
Quando me debatia com dificuldades e o desânimo se apoderava de mim, e devo confessar que muitas vezes esse violador de donzelas incautas, me possuiu... o pai, serenamente, numa atitude inteligente de dissuasão, respondeu imperturbável:
- Deixa lá, minha filha! Não ficas sem trabalho! Tenho muitas terras para cavar!
Nos estudos, que fazia na Faculdade de Letras, sentia esse desânimo quando me obrigavam a “imiscuir-me”, naquele maldito Fausto… em que a figura do Mefistófeles me dava voltas à cabeça. Aí, apetecia-me mesmo pôr-me a cavar e ir ter com o meu pai, à terra do tio Sam! Agora, à distância, tenho que agradecer, a Goethe, o seu precioso contributo, na decisão de acabar o curso! Tinha chegado a manifestar a intenção de desistir!
Uff! Ouvi, engoli em seco e hoje, quem quer ver-me a cavar, no sentido literal do termo, é pelo amor à terra, à Natureza, ao bucolismo que a vida do campo me proporciona!
Deambular pela horta, passear-me pelo ar quente e simultaneamente fresco e limpo, do pinhal adjacente, são a melhor terapia que posso ter encontrado para refrigério do meu cansaço intelectual... vulgo, stress!

Mexer nas plantas, na terra
É p’ra mim um doce alívio!
E com a verdade se encerra
Eu gosto deste convívio
!

E… o meu pai… não pretendeu mostrar a ninguém, muito menos à filha universitária, que era latifundiário!!! Na Gafanha, não os há! É uma realidade alheia ao povo das gafanhas!

M.ª Donzília Almeida

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