de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sábado, 24 Janeiro , 2009, 20:27



URGÊNCIAS DO TEMPO

A crise da economia instalou-se. Começou por desacelerar o ritmo anunciado, depois estagnou o crescimento previsto e entrou em recessão. Agora é mais do que se vê e ouve. Que virá a seguir?!
Tende a alargar-se a nível nacional e mundial. A economia real, a das pessoas que contam os cêntimos para custear as despesas obrigatórias, vai dando sinais alarmantes: os que chegam aos meios de comunicação de multidões e os que ficam nos grupos de atendimento caritativo da vizinhança ou de alguma associação humanista e cristã.
O tempo urge novas medidas. A consciência humana tem de mostrar a sua face social e fazer-se solidária. Os cidadãos devem fazer ouvir a sua voz humanista e reivindicar os valores em todas as iniciativas de superação. As empresas, na sua organização e produção, são chamadas a revalorizar a sua componente ética. As forças sociais e políticas hão-de convergir nas suas propostas de acção.
A Igreja, ao verificar como estão em jogo a pessoa e os direitos fundamentos que explicitam a sua dignidade, há-de posicionar-se correctamente, com firmeza e humildade, defendendo propostas que eliminem ou atenuem os sacrifícios das pessoas e das classes mais desfavorecidas, reforcem a participação de todos, desenvolvam a solidariedade entre os grupos socioprofissionais, fomentem a cooperação no âmbito nacional e internacional.
A Igreja, dentro da sua missão específica, há-de opor-se a que sejam os empobrecidos a pagar “a factura da crise” e fomentar correntes de pensamento e de intervenção que evitem privatizar os benefícios e generalizar as perdas. Há-de, com lucidez e valentia, cultivar e promover o sentido do bem comum, ainda que contrariando os interesses privados, próprios ou alheios, praticar e difundir um estilo de vida sóbrio e solidário, educar para o uso dos bens, destacando o comércio justo e o consumo responsável num mundo de recursos escassos.
O tempo do mercado desregulado e da globalização comandada pela “mão invisível” de quem pode dispor dos mecanismos controladores; o tempo da colectivização anónima e despersonalizante e da centralização planificada e asfixiante da liberdade de iniciativa e de associação, esse tempo encurtou ou melhor devia ter “chegado ao fim”.
Uma nova forma de vida organizada está em construção. Uma cultura que privilegie os valores dignos da condição humana tem de ser preferida e desenvolvida. Uma religião que desvele à pessoa a sua autêntica “estatura e vocação” que germinalmente está em si mas precisa de desabrochar continuamente, deve ser encarada como um bem para a humanidade e um valor a integrar nos dinamismos da sociedade.
Entre o mercado livre e o Estado centralizador está a pessoa e a multiplicidade das associações em que expressa a sociabilidade e constrói a solidariedade, dimensões fundamentais para a sua realização humana. São estas que constituem parte indispensável do tecido social que dá consistência e vitalidade ao circuito económico: da extracção e produção de bens à sua comercialização e consumo ou conservação.
A urgência do tempo surge clara no episódio da prisão de João Baptista. Encarcerado por ordem de Herodes, cala-se a voz do profeta que reclama o direito e a justiça, que aponta o machado posto à raiz da árvore pronto para a cortar, que proclama estar presente Alguém que vem inaugurar uma “nova era”.
Este Alguém é Jesus Cristo que, sabendo do que haviam feito a João, irrompe em público com a boa nova de que é urgente uma mudança radical e total, a começar pelo interior de cada pessoa. A inteligência devia colocar-se ao serviço da verdade e procurá-la incansavelmente; o coração abrir-se a todos e estabelecer relações solidárias e fraternas de convivência; a vontade querer efectivamente o bem dos demais, tanto como se deseja o bem próprio; enfim, um olhar novo em que se espelha esta forma original de ser, de estar e de conviver ou seja um olhar que transmite a realidade nova vivida e anunciada por Jesus Cristo e confiada aos cristãos, seus discípulos.

Georgino Rocha

Editado por Fernando Martins | Sábado, 24 Janeiro , 2009, 12:04

Perante o estrondo da crise financeira, que está a chegar, avassaladora, à economia real, há da parte de muitos um enorme apelo à ética e aos valores na finança, na empresa e na economia em geral. Há vantagens nisso, como diz Josef Wieland, professor de Ética: os valores éticos trazem enormes bens à empresa, como, por exemplo, a segurança jurídica; "a reputação da empresa aumenta e ela acaba por receber os melhores e mais motivados colaboradores". É preciso ter em conta que a corrupção vai recuar e "as regras éticas defendem em todo o mundo os empresários da prisão".
Não é por acaso que são esperados quatro mil participantes no sexto congresso cristão de empresários e gestores, que se realiza em Düsseldorf, Alemanha, de 26 a 28 de Fevereiro próximo, sob o lema Avançar para a Chefia com Valores. Isto não significa de modo nenhum que a ética empresarial seja um exclusivo dos crentes, mas a fé tem de ter influência no mundo dos negócios.
Na Alemanha, 66% dos empresários dizem acreditar pessoalmente em Deus e, segundo impulse, revista para empresários, no seu número de Janeiro, a união de empresários católicos atingiu o número histórico de mais de 1200 membros e, no caso dos empresários protestantes, o número multiplicou-se em poucos anos por dez, sendo agora 600.
Segundo uma sondagem da Forsa, as normas éticas e morais desempenham um grande papel para 50% dos empresários alemães, sendo interessante verificar que essa normas são mais importantes para os empresários protestantes (58%) do que para os católicos (47%). Segundo a mesma sondagem, da fé derivam deveres: responsabilidade pelos trabalhadores (71%), sinceridade, justiça, lealdade (31%), decisões socialmente compatíveis (18%) e há limites morais para o rendimento pessoal: católicos (62%), protestantes (42%), sem confissão religiosa (56%), empresários em geral (52%).
Haverá contradição entre a fé em Deus e a maximização do lucro? Os crentes em geral respondem: sim (28%), não (68%). Os passos da Bíblia mais citados pelos empresários crentes são: "ama o teu próximo como a ti mesmo", "o Senhor é o meu pastor" e os dez mandamentos.
Segundo o bispo Wolfgang Huber, presidente do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha, a maximização do lucro e o amor do próximo podem ser compatíveis: "a Igreja não é estranha à realidade". A responsabilidade económica precisa de ter os pés assentes na terra e a proximidade ao Homem. A presente crise financeira não pôs em causa a economia social de mercado. De qualquer forma, o sistema desequilibrou-se e é preciso corrigi-lo. Quanto à justiça, há um critério importante: "As diferenças na sociedade devem estabelecer-se de tal modo que também as pessoas que se encontram no fundo da escala possam estar convencidas de que o sistema em geral é justo e lhes é favorável também a elas."
Dos debates tensos de Gerd Kühlhorn com os empresários para impulse, resultaram dez mandamentos para os empresários cristãos, que "talvez sejam um pouco simples, mas certamente mais claros do que todos os fanfarronantes Codes of Conduct". Aqui ficam:1. Trata dos negócios de tal modo que a tua empresa tenha um bom lucro. 2. Sê justo com os teus parceiros de negócio. 3. Mostra estima pelos teus colaboradores. 4. Faz negócios prospectivamente e assegura o futuro da tua empresa. 5. Procura parceiros que como tu acreditem em Deus. 6. Cultiva a humildade. 7. Coloca os teus talentos e recursos ao serviço dos outros. 8. Não te percas no trabalho. 9. Reconhece que a tua empresa não te pertence a ti, mas a Deus. 10. Respeita todos os que não partilham a tua fé.
No fundo, como diz o bispo W. Huber, encontramo-nos num "ponto de viragem". A confiança é "um capital tão importante para a economia como o dinheiro". Por isso, é preciso que os empresários estabeleçam "um equilíbrio entre a eficiência económica e as consequências sociais do negócio empresarial".
Afinal, a economia não é fim em si mesma, pois é o Homem que tem de ocupar o centro. Daí, como lembrou Martin Buber, o sucesso não ser "um dos nomes de Deus". A solidariedade, sim.

Anselmo Borges, in DN
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Editado por Fernando Martins | Sábado, 24 Janeiro , 2009, 00:01
Reproduções feitas pela "Oficina da Formiga"


AOficina da Formiga” dedica-se a reproduzir cerâmica tradicional, respeitando os elementos essenciais (Mar, Terra e Ar), nomeadamente, peixes, galos, flores e pássaros. Alguns destes desenhos surgiram há mais de 100 anos, sendo todos de autores desconhecidos. Diz-se, por isso, que são motivos tradicionais. No “site” de a “Oficina da Formiga” pode ler-se que “As formas são principalmente os pratos e as travessas oitavadas ou ovais. As cores são todas de alto fogo predominando o azul, o verde, o rosa, o castanho e o amarelo”.
Isabel Maria Fernandes, que foi Conservadora do Museu de Olaria (de 1983 a 1995), trabalha desde 1999 como directora do Museu Alberto Sampaio, em Guimarães.
Dedica-se ao estudo da cerâmica portuguesa em geral, mais especificamente da louça preta e da faiança oitocentista. Para além disso procura desenvolver a reflexão sobre temáticas ligadas aos museus, ao estudo e inventariação do património móvel. É autora de obras sobre a cerâmica portuguesa, mas também sobre algumas temáticas relacionadas com a museologia e a arte sacra.
Quando visitou a “Oficina da Formiga”, encantou-se com os trabalhos ali produzidos e mais tarde forneceu algumas fotos de peças existentes no Museu Alberto Sampaio, para que fossem reproduzidas e posteriormente vendidas aos visitantes do museu.
Apresento, neste meu espaço, para apreciação, o resultado dessas reproduções.

Nota: Informações fornecidas pela “Oficina da Formiga”

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