de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Domingo, 11 Janeiro , 2009, 22:07
Cortejo dos Reis de 2009
1 – Saí um dia destes de máquina digital em punho à cata dos sinais do frio. Não os vi. Mas confesso que me apetecia tirar uma fotografia à neve, aqui à beira do oceano, onde ela não tem condições para se impor. Que me lembre, só uma vez nevou na Gafanha da Nazaré, por estranho fenómeno atmosférico. Na escola onde leccionava, professores e alunos deixaram o aconchego da sala para se deliciarem com a neve. Como surgiu sem ninguém contar, não preparei a máquina para registar o acontecimento, com pena minha. Agora, que a neve caiu quase em todo o país, sempre esperei que tivéssemos também essa sorte de a ver e de a pisar. Mas pode ser que um dia isso possa acontecer, de novo, ao vivo, na planura gafanhoa.
Porquê o SINAL + para a neve? Simplesmente porque ela foi motivo para grandes reportagens das nossas televisões, que nos ofereceram imagens dignas dos melhores postais ilustrados, onde o branco puro se salientava. E se é verdade que o frio é triste, apenas bonito quando o desfrutamos à lareira, a verdade é que a neve dos últimos dias trouxe uma certa alegria. Apesar das contrariedades que provocou e de algum mal que tenha feito, vi o ar feliz das pessoas quando se pronunciavam sobre a neve ou com ela brincavam. Habitual nuns sítios, original noutros, espectacular em todos.

2 – Hoje vivi o Cortejo dos Reis experimentando a proximidade com as pessoas, muitas delas envolvidas na vivência desta antiga e sempre renovada tradição. Para quem gosta da sua terra, o encontro com alguns conterrâneos proporcionou-me a oportunidade de voltar aos tempos em que eu, menino, com meu irmão, mais novo três anos, participámos no Cortejo dos Reis, de uma ponta à outra, cada um com a sua cana às costas. Na ponta da cana lá ia a prenda para o Menino Jesus. Não consigo recordar toda a pequena carga, mas dela fazia parte um chouriço, um pequeno bacalhau e umas laranjas. Tudo o mais se varreu. Mas também é verdade que os nossos frágeis ombros não suportariam muito mais. O meu pai levou-nos até Remelha de bicicleta, como era hábito na altura, entregando-nos ao cuidado de pessoa sua conhecida. Ainda me lembro de ouvir a minha mãe dizer que estaríamos assim a pagar uma sua promessa, coisa que na altura não compreendi. Mas se ela dizia que tínhamos de ir no Cortejo, não haveria razões para discordar.
Afinal, as tradições são sempre excelentes motivos para reconstruirmos as nossas histórias de vida.

FM
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Editado por Fernando Martins | Domingo, 11 Janeiro , 2009, 18:18

Para todos os meus leitores e amigos, em especial para os que gostam das nossas tradições.


Editado por Fernando Martins | Domingo, 11 Janeiro , 2009, 16:59



(Clicar nas fotos para ampliar)

O mais importante é a alegria


No final do Cortejo dos Reis, depois de todos os participantes terem beijado o Menino, o Prior da Freguesia, Padre Francisco Melo, antes da bênção, louvou o envolvimento do povo nesta manifestação de fé, que é também uma antiga tradição das gentes das Gafanhas. E sublinhou que este Cortejo dos Reis faz parte da nossa identidade, que é preciso preservar.
Depois, frisou o facto de muitos intervenientes mudarem de papéis, nos autos de Natal apresentados, durante o Cortejo, “como quem muda de camisa”, por tudo isto lhes estar, decerto, no sangue e na alma. A tradição oral, que se mantém entre nós há mais de um século, está enraizada na memória da nossa gente.
Quem como eu presenciou de perto o desenrolar do Cortejo dos Reis, mais na parte final, pôde confirmar o interesse e o carinho com que o nosso povo viveu esta festa. Representando, cantando, animando e valorizando, com os mais diversos contributos, uma festa popular com marcas indeléveis dos nossos antepassados.
Como disse o nosso Prior, o mais importante não será o dinheiro que se recolhe das “ofertas para o Menino Jesus”, como diz o povo, porque o que conta é esta alegria, este interesse e este respeito pelas nossas tradições, que fazem parte da nossa cultura e da nossa identidade.

FM

Editado por Fernando Martins | Domingo, 11 Janeiro , 2009, 13:13
BACALHAU EM DATAS - 3





ATÉ FINAIS DO SÉCULO XV


Caríssima/o:


1371 - «Já em 1371 el-rei D. Fernando dispunha uma lei que dizia: “As naus que forem das vilas de Aveiro e de Viana e de qualquer parte de meus Reinos e Senhorios à pescaria de bacalhau, irão armadas e elegerão entre si, ao tempo que partirem, capitão-mor.”» [M-FM II, 43 (Murtosa- FotoMemória II, por Alexandra Farela Ramos, 2005)]
1415 - «Uma prova da importância do seu valor [do sal], nessa época de transição [da Idade Média] para a Idade Moderna, é-nos dada pela utilização do sal no pagamento dos fretes das tropas para a tomada de Ceuta.
Foi a única mercadoria, das que Portugal importava [exportava?] durante a Idade Média, que não se ressentiu com as alterações introduzidas pela chegada de novas mercadorias ultramarinas, aumentando mesmo a sua importância.» [Oc45, 67]
1470 - «O pai de Gaspar, João Corte Real, tomou parte numa expedição nos mares do norte, mandada efectuar por Cristiano I, Rei da Dinamarca, a pedido do Rei de Portugal, D. Afonso V.
Esta expedição comandada por Pinning e Pothorat realizou-se por volta de 1470 e atingiu a Gronelândia e a “Terra do Bacalhau”, tal é a opinião de Sofus Larsen expressa na sua importante obra Dinamarca e Portugal no Século XVI. Se a terra foi chamada “do Bacalhau” sem dúvida que a pesca já aí seria praticada antes.» [HPB, 20]
1472 - «É no contexto das navegações para ocidente que vamos encontrar dois navegadores portugueses – João Corte Real e Álvaro Martins Homem – integrados numa expedição luso-dinamarquesa, saída de Reykjavick, em 1472.
Naquela exploração, verificaram a existência de cardumes que, de tão compactos, faziam lembrar o fundo, ilusão desmentida pelas sondagens feitas com os prumos de mão. [...] Quando chegaram a Portugal, os dois navegadores comunicaram ao seu rei tudo quanto tinham visto, falaram-lhe da nova terra descoberta e o nome com que a tinham baptizado – Terra dos Bacalhaus - , devido à incrível abundância deste peixe que tanto os impressionara.» [HDGTM, 24]
1477 - «[...] Colombo terá falado português antes de ter aprendido o castelhano, pois era casado com uma portuguesa, e conhecia a fundo os avanços cartográficos portugueses e as suas viagen em navios portugueses – que incluíram, segundo pesquisas recentes efectuadas pelo explorador norueguês Thor Heyerdahl, a participação numa expedição luso-dinamarquesa em 1477 que partiu da Gronelândia através do estreito de Davis e se dirigiu ao Norte do continente americano – lhe forneceram um conhecimento prático sobre correntes e ventos que lhe assegurou que, se viajasse para Ocidente da Europa, os ventos do Atlântico Norte favoreceriam o seu regresso.» [in Um Mundo em Movimento- Os Portugueses na África, Ásia e América (1415-1808), de A. J. R. Russell-Wood, DIFEL- Difusão Editorial, S.A., Lisboa, 1998, pp. 7-8.]
Século XV (finais) - «Desde finais do século XV, os portugueses navegavam nas águas da Terra Nova. A pesca do bacalhau terá começado a interessar os pescadores portugueses na viragem do século XV para o século XVI, como mostrou Mário Moutinho.» [Oc45, 67 e 77]

Manuel

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