Disse João da Ega,
Que não era um primo
A campanhas alegres dado,
Depois que encontrou
Carlos, no avistado arrimo
Do Turf, num Rossio ultrapassado
Pelos anos em que ensonou
Num País de lupanares e calotes,
E de malandros aos magotes,
Num País de corridas falazes
E de vestidos sérios de missa,
Com jornais bafientos
E de artigos rançosos
Lidos por uns tantos rapazes
De futuros pachorrentos
E costumes ociosos:
«-Falhámos na vida, menino!»
E os tempos verbais trocados
Ensinam a História redita,
Desde os serões iluminados
Pelas lições da monarquia,
À juventude nérvea de sabedoria
E impaciência liberal,
Que corre num vai-vem
Num outro aterro irreal
Aquém delirante do trem
Que nem sempre alcançamos.
E assim vai o País de quem promete
Lançar carris em largueza
Para deixar de vez a charrete
E permanecer na certeza
Das falas finais que relembramos:
«-Ainda o apanhamos!»
Hélder Ramos
25.XI.2008