Era a 1.ª aula desse dia, do início da semana. Tudo indiciava que depois de um fim-de-semana, as energias repostas, quer pela parte docente, quer pelos discentes, o trabalho escolar, fluiria como os acordes de uma melodia!
Estava a “Sora”, corruptela da corruptela “Setora”, a fazer um registo escrito no quadro, ainda de ardósia preta, em vias de extinção nas escolas hodiernas, quando é interpelada por um aluno, educadamente. Interrompendo a tarefa, em que estava concentrada, consciente que a aula é um processo dinâmico em que interagem várias forças em simultâneo, escuta, atentamente, o aluno e passa a inquirir a causa daquela interpelação.
Ficou surpreendida, tanto mais, por que aquele aluno era dos tais a quem apetece passar a mão pelo pêlo, isto é, fazer uma carícia no cabelo, fazer uma brincadeira, etc. Ele não era daqueles a quem, se o professor dá um dedo, arrebanha logo o braço inteiro. Era educado, dócil e… até tinha uns olhos verdes que lhe faziam renascer a esperança... à “Sora”!
É importante referir que isto se passou numa aula de gente miúda, que está ainda, na 1ª década da sua existência.
Diz lá J..., estou pronta a ouvir-te! Replica a Profª, brandamente.
– Aqui pode-se jogar às cartas?
– Já disse que não quero que aqui, na aula, se acusem uns aos outros! Mais cedo ou mais tarde, eu descubro aquilo que estão a fazer!
– Não é nada disso, “Sora”! É que isto é uma seca!
A Profª... que no seu mister é obrigada a falar pelos cotovelos, a Profª... que atinge o limite dos decibéis permitidos pelos ouvidos e pelas cordas vocais... emudeceu! Não sei quanto tempo, não sei que expressão perpassou pelo seu rosto... mas um pensamento pungente ensombrou aquela criatura, que falou com os seus botões:
– Gastei parte do fim-de-semana, a preparar o trabalho das aulas, incluindo as diversas partes que devem compor uma aula: a didáctica e a pedagogia, sempre presentes! No final… recebo este “bouquet” de flores, como (des)compensação)! E… há, ainda, quem não compreenda, valorize, respeite o trabalho dos Professores!
Madona