de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 06 Outubro , 2008, 20:56

A caravela da motivação


1. Pessoas visionárias e motivadas geram projectos e envolvimentos ambiciosos. O contrário também é verdade: desmotivação atrai pessimismo, crise, incerteza, desconfiança, negritude, depressão, recessão. É preocupante observar-se que a conjugação desta sequência de palavras “negras” começa a ocupar espaço demasiado como se de uma nuvem chuvosa se tratasse. Os tempos económicos actuais são também esse reflexo consequencial de que a «pedra angular» da construção social tem sido colocada bem mais na sedutora face «material» do ter que nos valores profundos que dão sentido e Ser à vida. A cultura do efémero, do plástico, do «de repente» invadiu os territórios da sabedoria tirando-lhe o lugar.
2. De 85 anos de vida e 65 de partilha pública de ideias, o reconhecido ensaísta português, Eduardo Lourenço, esteve nestes dias entre nós. Na Universidade de Aveiro e em Portugal, a convite do Centro Nacional de Cultura, sendo homenageado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Lourenço, estudioso dos valores e essências da mitologia clássica europeia e portuguesa, esteve no programa «diga lá excelência» (Público, RR, Canal 2). A sua entrevista (Público, 05-10-2008) é mais um contributo irrecusável para compreendermos quem somos, dos lados de crise aos de aventura, como necessidade de «sair» de si para (idealmente) se encontrar.
3. Destaca Lourenço que os portugueses lá fora são conhecidos pela «caravela». Vem essa imagem dos tempos do «milagre» de um país tão pequeno chegar tão longe nas descobertas. Comentava-se que esse milagre nos aprisionou, pois que nos viria substituir no compromisso diário de embarcar. Se «cada pessoa que se eleva, eleva a própria Humanidade», então as dificuldades de cada época trazem mesmo consigo esse ouro no crisol que pode gerar uma nova forma. A motivação não é um milagre que venha de fora; constrói-se no compromisso e no rigor diário a que nos habituarmos.

Alexandre Cruz

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 06 Outubro , 2008, 12:42

“Jorge Godinho”


Se fosse vivo, Jorge Godinho teria completado 70 anos no passado dia 5 de Janeiro. Nasceu nessa data, em 1938, e faleceu em 16 de Junho de 1972, vítima de leucemia. Era casado com Ana Maria Lopes e quando morreu os seus dois filhos, o Pedro e o Miguel, tinham, respectivamente, 6 anos e 16 meses.
O livro nasceu, segundo a autora, a pensar “nos nossos netos que não conheceram o Avô”. E decerto, também, a pensar nos filhos, que pouco tempo tiveram para conviver com o pai. Mais ainda, julgo eu: a pensar na importância de deixar como herança, aos familiares e amigos, as marcas indeléveis de um homem, marido, pai e depois avô, que soube viver o seu tempo com elevação.
Para além das evocações fundamentais da vida de Jorge Godinho, por sinal irmão de Cecília Sacramento, minha querida e saudosa professora de português, Ana Maria Lopes revela facetas artísticas de seu marido, durante sete anos, pois era um exímio executante da guitarra de Coimbra.
Lendo esta obra, a autora leva-nos a viajar com Jorge Godinho pelo mundo do fado coimbrão, tão cultivado pela academia. E nessa viagem, cruzamo-nos com artistas que fizeram escola, alguns dos quais ainda podem deixar-nos impressões vivas do convívio que mantiveram com o biografado.
Luiz Goes, José Niza, Jorge Tuna, Octávio Sérgio, José Miguel Baptista, Durval Moreirinhas, José Afonso, Fernando Rolim, António Portugal e Levy Baptista e tantos outros são evocados por Ana Maria Lopes nesta obra, em edição de autora, que os ex-alunos, amigos e familiares do homenageado hão-de ler e reler com saudade.
Jorge Godinho licenciou-se em História e Filosofia, tendo exercido a nobre missão de ensinar até à sua morte. E pelo testemunho de um aluno, Naia Sardo, ele foi um professor de Filosofia que soube fornecer aos estudantes “as bases das correntes doutrinárias das várias épocas e países”, que os “ajudaram a ser homens válidos para a sociedade actual”.
Por sua vez, Octávio Sérgio recorda “a sua sonoridade, o dedilhar, o timbre, a clareza de notas, enfim, a qualidade da sua execução era superior”. E Durval sublinha: “Eu, tu, o Tuna, o Zeca, o Adriano, o Niza, Sutil Roque, o Marta, o Octávio, etc., etc., fizemos parte desse caldo de cultura cúmplice, fraterno, solidário, que nem os maus momentos conseguiram destruir.”
Ao referenciar o seu falecimento, o Correio do Vouga escreve, em 23 de Junho de 1972: "Corajoso na doença, dedicado aos seus alunos e amigos, optimista na visão dos acontecimentos, espírito inteligente e culto, foi professor que se impôs pela sua competência profissional e pelas suas invulgares qualidades de carácter, de compreensão e de bondade."
Completam o livro inúmeras ilustrações da vida de Jorge Godinho, desde criança até à sua intervenção social, passando pela família e pela vida académica e artística. Neste sector, sobressaem as capas dos discos em que deixou a sua marca de guitarrista, no Fado de Coimbra, da sua e nossa geração.

Fernando Martins

Nota: O livro de Ana Maria Lopes, “Jorge Godinho”, foi lançado no sábado, em Coimbra, na Galeria de Arte Santa Clara.
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