Fosse ele um dia qualquer dedicado a qualquer coisa, por mais banal que estivesse nas preocupações das pessoas, e seria certo e sabido que toda a gente andaria à cata de lembranças para homenagear os seus idosos. Sim, todas as famílias, mesmo que não creiam nisso, têm idosos. Então, como é o Dia Mundial do Idoso, não vi nada. Mas tenho pena, porque os idosos, por enquanto, ainda são gente que vive e sofre, que trabalha e luta, que teima em se afirmar na sociedade, por mais que ela insista em ostracizar quem não tem poder reivindicativo.
Afinal, se pensarmos bem, os velhos começam a estar em maioria no mundo. A esperança de vida tem aumentado a olhos vistos, a medicina e a cirurgia lá vão ajudando a curar maleitas para o povo mais cansado se aguentar de pé, e vivo, e ainda ninguém, que eu saiba, teve coragem de esquecer de vez os menos jovens, por um qualquer decreto. Porém, há famílias que os arrumam numa daquelas casas a que chamam lares, mas que de lares não têm nada. Falta-lhes, realmente, imensas vezes, a capacidade do afecto para serem lares.
Eu, que já ando na terceira idade, consolo-me de saber que todos temos, presentemente, a perspectiva da quarta idade, o que significa o direito ou a oportunidade de andar por aqui, por este mundo, a olhar o sol, a contemplar as estrelas, a apreciar miragens, a admirar a beleza das flores e o sorriso das crianças, a sentir o calor humano, a ver e a estimular o palpitar de quantos lutam para sobreviver no mar encapelado de economias que castram a solidariedade. Solidariedade que tantos idosos reclamam, sem que os oiçam.
A minha simpatia para todos os idosos. E uma flor, claro, para a idosa que me alertou para o dia que hoje todos devíamos comemorar. Por estarmos vivos e por querermos continuar a viver com dignidade.
Fernando Martins