de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sábado, 27 Setembro , 2008, 23:22
Jovens da Terceira Idade, em passeio

1. Envelhecer é o maior atributo da vida, expressão completa da existência.
2. Todo o ser humano tem o direito a envelhecer com saúde, segurança e dignidade.
3. A sociedade deverá proporcionar a todos os que atingirem a fase superior da vida meios para uma existência condigna em termos sociais, familiares, económicos, médicos e culturais.
4. Os seniores têm a obrigação de transmitir à família e à sociedade a cultura e sabedoria acumuladas ao longo da vida.
5. Os seniores têm direito ao convívio com os seus netos naturais e adoptivos, ajudando-os e acompanhando-os e transmitindo, pelo exemplo, valores, princípios e ensinamentos.
6. Os seniores têm direito a que sejam respeitadas as suas disposições e vontades, no estrito respeito pela ética e pela lei.
7. A sociedade tem a obrigação de adaptar e construir as estruturas, de valorizar e modificar a organização social e ensinar os cidadãos em função da nova realidade social, fruto do envelhecimento.
8. Os seniores devem associar-se, formal ou informalmente, na defesa dos seus interesses e na promoção dos seus valores.
9. Os seres humanos têm o direito e o dever a envelhecer com arte e a estimular a arte do envelhecimento.
Conimbriga, 27 de Setembro de 2008.
NOTA: Transcrita, com devida vénia, do blogue Quarta República
Foto da Revista "Maior Idade", da CMI

Editado por Fernando Martins | Sábado, 27 Setembro , 2008, 23:00

A cena parece um enigma com aspectos de armadilha. Mas é antes uma historieta com grandes ensinamentos de vida. Passa-se com Jesus e os chefes do povo na esplanada do Templo em Jerusalém.
Um homem tem dois filhos e diz a um: vai trabalhar na vinha e ele, solícito, diz que sim, mas não foi; e diz a outro: vai trabalhar também para a vinha e ele, contundente, não vou, mas depois reconsiderou e foi. Qual fez a vontade do Pai?!
Ambos, em algum momento, dizem fazer-lhe a vontade. Mas basta dizer?! O trabalho da vinha fica feito com palavras de assentimento?! Este momento fugidio não constituirá um símbolo emblemático de tantas fases da vida que têm o mesmo sentido e alcance?
Sinceramente acho que sim. Estou convencido que, se as “coisas” se resolvessem com palavras, muitas coisas correriam melhor e funcionariam mais certo. Tudo, não, porque diz-se cada uma que nem a honra escapa, quanto mais a ética de povos civilizados!
Ambos, em algum momento, negam corresponder ao pedido feito.
Afirmam-se pela oposição, manifestam o impulso da sua vontade pela negação. A afirmação na vida, sendo importante, não é tudo e pode fazer-se de várias maneiras. A reacção impulsiva, tendo a sua riqueza fugaz, não constitui o modo normal de viver do ser humano, nem se mantém pujante durante muito tempo ou garante qualquer solidez para a estabilidade do futuro.
A vontade do Pai é clara e benevolente: fazê-los partilhar do trabalho da vinha, deixarem a estéril ociosidade, serem prestáveis e sentirem-se úteis, desenvolverem capacidades, adquirirem competências.
Esta relação constitui o núcleo principal da historieta. O homem da vinha é Deus Pai. Os filhos são todos os humanos. A vinha é o mundo ou a sociedade organizada em qualquer das suas modalidades, a Igreja e as comunidades e os movimentos que a configuram e realizam a sua missão.
Trabalhar na vida é assumir um serviço socialmente útil, sentir-se responsável pelo que faz ou omite, partilhar o que se tem e manifestar o que se é, reconhecer os outros e as suas capacidades ou limitações, dar as mãos na prática da solidariedade, organizar-se funcionalmente para alcançar os objectivos pretendidos, viver em constante comunhão com a benevolência do Pai, cultivar a paciência confiante, saber intervir a tempo e em conjunto, saborear o descanso merecido, apreciando o fruto alcançado.
Felizmente, há trabalhadores exemplares na vinha do Senhor. A história vai-se fazendo com o seu esforço, por vezes, heróico e martirial. A humanidade vai-se dignificando com a sua entrega generosa permanente. A Igreja vai-se “ramificando” e infiltrando com os seus gestos de amizade e atitudes de proximidade. O mundo, qual vinha do Senhor, vai-se desenvolvendo com as negas de uns, logo transformadas em afirmações de coerência generosa, e os sins de outros que rapidamente se tornam inconsequentes, desistindo de tão nobre propósito, sem qualquer explicação aparente.
Muitos destes trabalhadores nem sequer chegam a ser conhecidos na voracidade do tempo. Resta-lhes o “livro de Deus”, onde a vida humana tem um registo de qualidade.

Georgino Rocha
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Editado por Fernando Martins | Sábado, 27 Setembro , 2008, 17:54
Costa Nova antiga. Seria dia normal ou de romaria?


ROMARIA DA SENHORA DA SAÚDE MANTÉM A TRADIÇÃO

Este fim-de-semana vamos ter festa rija na Costa Nova, em honra de Nossa Senhora da Saúde. Amanhã há missa, procissão e as tradicionais devoções particulares a Nossa Senhora.
Para além disso, que é o substrato religioso das festividades em honra dos padroeiros, neste caso da padroeira da paróquia da Costa Nova, vem a romaria do povo das redondezas, ao jeito de quem encerra a época balnear.
Diz o padre Rezende, na sua Monografia da Gafanha, que “Frei João Pachão, no século Jerónimo Pachão, das Aradas, naquele tempo já frequentador da Praia, fundou em 1822 ou em 1824, com o auxílio das companhas e com esmolas do povo, uma capela de madeira, que dedicou a Nossa Senhora da Saúde”. A história continua e a dado passo, com mais banhistas a procurarem a praia, José da Graça, de Ílhavo, gerente de uma das companhas, avançou com a ideia de construir outro templo, porque o primeiro não oferecia as condições mínimas para o culto.
Continua o padre Rezende: “Com o concurso das outras companhas pôs mãos à obra, e em 1890 tinha erguido a linda capela, que a brisa do mar beija a toda a hora, numa saudação fagueira.”
“Todos os anos – garante o autor da Monografia – desde a sua fundação, é celebrada a festa à sua excelsa Padroeira, no último domingo de Setembro, atraindo à praia multidões de devotos e forasteiros.”
Mais adiante, sublinha que a devoção é tanta que não faltam ofertas valiosas, tais como “Cordões, libras, ligas, anéis, crucifixos, medalhas, (tudo de oiro), velas, ex-votos de cera, outros ex-votos, azeite, novenas, orações, tudo ali era levado pelos verdadeiros devotos em agradecimento à SS. Virgem, pelas graças recebidas”. E depois acrescenta: “Pena é que os pseudo-festeiros, ou devotos-arrecadadores, dessem aplicação desconhecida às esmolas que anualmente subiam a alguns contos.” (permitam-me um à parte: nestas coisas, de vez em quando, não falta quem se aproveite da devoção dos fiéis)
Diz ainda o padre Rezende que, “Nesse tempo de esbanjamentos, foi a família do Dr. Luís de Magalhães, quem manteve com esplendor o culto da capela. Está bem paramentada pela generosidade das famílias Magalhães e Maia Alcoforado”.

Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Sábado, 27 Setembro , 2008, 17:13
Um terço dos visitantes do santuário são católicos não praticantes


Um terço dos visitantes do santuário de Fátima são católicos não praticantes, revela um estudo a apresentar hoje, em Fátima, por ocasião das comemorações do Dia Mundial do Turismo.
A autora do trabalho, Graça Poças Santos, disse à agência Lusa que “existe hoje uma religiosidade menos enquadrada institucionalmente e mais assumida individualmente”.
“Uma boa parte da população portuguesa que nos Censos Populacionais do Instituto Nacional de Estatística se afirma como católica, tem uma prática religiosa muito intermitente ou mesmo nula”, adiantou a docente.
Graça Santos traçou o perfil de quem se desloca a Fátima, recorrendo ao trabalho de investigação da sua tese de doutoramento, a que acresceram os resultados de 384 inquéritos e também entrevistas a autarcas e pessoas ligadas à hotelaria, religião e turismo.
Segundo o estudo, o visitante de Fátima é maioritariamente do sexo feminino, tem uma idade média de 50 anos, é casado e apresenta formação igual ou inferior ao 2º ciclo.
A maioria dos visitantes de Fátima reside em Portugal (71,1 por cento dos inquiridos) e trabalha sobretudo nos sectores secundário e terciário.

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Editado por Fernando Martins | Sábado, 27 Setembro , 2008, 11:36
Dois leitores assíduos do meu blogue recordaram a célebre frase de Fernando Pessoa. Aqui a deixo para melhor a sentirmos.
FM

«Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente. Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.»

Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, ed. de Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Ática, 1982 vol. I, págs. 16-17
In Ciberdúvidas
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Editado por Fernando Martins | Sábado, 27 Setembro , 2008, 11:18


Nada move tanto o ser humano como a necessidade de reconhecimento. O que vale a minha vida? O quê ou quem lhe dá sentido? Vale para quê e para quem? Quem lhe dá valor? Quem me reconhece? De muitos modos e por múltiplas vias, pela violência e pela paz, pelo amor e pelo ódio, por caminhos estreitos e grandezas sublimes, são estas perguntas que querem ver-se respondidas.
Durante um ano (entre 28 de Junho de 2008 e 29 de Junho de 2009), será lembrada, através de congressos e actividades múltiplas, a figura de São Paulo, determinante para o cristianismo e para a História mundial. Nasceu entre 6 e 10 depois de Cristo, talvez no ano 8. De perseguidor dos cristãos, tornou-se apóstolo, erguendo o cristianismo a religião universal. Converteu-se a caminho de Damasco, pelo ano 33, num "encontro" imprevisível com Jesus ressuscitado. Foi uma experiência de tal modo avassaladora que daí para diante nada a não ser o anúncio da mensagem do Deus de Jesus lhe interessou. Foi decapitado no ano 64, em Roma, depois de percorrer o Mediterrâneo oriental e sem poder chegar à Espanha, como tinha programado.
E qual foi a sua experiência radical? Deus ressuscitou Jesus, o crucificado, mostrando desse modo que é um Deus de vivos e não de mortos, que não faz acepção de pessoas, que olha para a pessoa enquanto pessoa, independentemente das suas qualidades. Diante de Deus, todos os seres humanos valem como pessoas radicalmente iguais. Então, o que justifica o Homem não são as obras da Lei judaica - a circuncisão ou os rituais religiosos exteriores e os tabus alimentares. Também não é a Filosofia que o justifica - e Paulo conhecia bem nomeadamente a filosofia estóica -, porque a Filosofia põe as perguntas últimas, mas não tem resposta plena para elas. Como escreverá na Carta aos Romanos, "o Homem é justificado pela fé".
Como diz o teólogo D. Marguerat, a descoberta de Paulo é a da "pura gratuitidade da graça". Nada se entende do pensamento de Paulo (Saulo é o nome aramaico de Paulo, nascido em Tarso, na actual Turquia), se não se compreender como ele "dinamitou" a imagem de Deus. Via-o omnipotente, e agora vê-o a actuar na extrema fragilidade. Pensava que era um tirano, e "descobre-o solidário". Pensava que estava longe, e "vê-o presente em todo o sofrimento". "Deus só se deixa descobrir por aqueles que abandonam o imaginário do deus despótico e se deixam 'justificar', isto é, acolher, tendo como base apenas a sua confiança nele."
Nas suas recentes Conversas Nocturnas em Jerusalém, onde apela para a necessidade de reformas constantes na Igreja - "a força reformadora tem de vir de dentro" -, o cardeal Carlo Martini, exegeta eminente e antigo arcebispo da maior diocese católica do mundo, Milão, elogia Lutero como "um grande reformador", que inspirou também reformas no Concílio Vaticano II. Ora, segundo Lutero, o núcleo da mensagem da salvação encontra-se na fé - "o Homem justifica-se pela fé" e não pelas indulgências e toda a parafernália religiosa exterior.
Claro que não se pode ser ingénuo e é sabido que mesmo as comunidades paulinas, ao princípio carismáticas, se foram lentamente organizando institucionalmente. Mas, por outro lado, também é preciso ter presente que a fé não cresce automaticamente na proporção directa da institucionalização. Perguntava-me, há pouco tempo, em exclamação negativa, um amigo dominicano, professor de exegese bíblica na Universidade de Lovaina: "Como foi possível o movimento de fé no Deus de Jesus ter desembocado no Vaticano, com um Papa chefe de Estado?"
O cardeal Martini, que sabe que a fé é um combate - "quando vejo o mal no mundo, perco a respiração e compreendo as pessoas que concluem que não há Deus"; mas, por outro lado, só com os olhos da fé, algo pode mudar: da fé e da confiança "nasce a esperança, apesar do sofrimento" -, diz que "se impressiona com a pergunta de Jesus: 'quando o Filho do Homem voltar, encontrará fé?' Jesus não pergunta: encontrarei uma Igreja grande e bem organizada? Ele sabe também valorizar uma Igreja diminuta e pequena, que possui uma fé forte e age em consequência."

Anselmo Borges, no DN
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